Campos Neto: Credibilidade fiscal é chave para reverter deteriorização de expectativas

Dirigentes de bancos e autoridades falam sobre perspectivas para 2023

Os presidentes da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, do Banco Central, Roberto Campos Neto, e Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, representando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, trazem as perspectivas para 2023 e fazem um balanço do que foi este ano de 2022.

O evento reuniu líderes das instituições financeiras associadas à Febraban. À seguir, os principais destaques de cada um dos presidentes que se apresentou no evento da Febraban.

Haddad reafirma os compromissos institucionais de Lula: ‘prioridade total à reforma tributária’

Fernando Haddad, ex-ministro, em evento da Febraban, na sexta-feira 25: Lula vai dar prioridade à proposta de Baleia Rossi inspirado nas ideias do economista Bernardo Appy

Em sua participação no evento da Febraban, o ex-ministro Fernando Haddad deixou claro que o presidente eleito Luiza Inacio Lula da Silva tem uma agenda, e que vai restaurar o respeito à ação do Estado. Ele começou seu discurso afirmando que “ia falar em nome do presidente eleito” e “daria a visão estratégica do presidente Lula”. Fez questão de dizer que o presidente Lula é uma democrata.

“O presidente Lula é um democrata, nasceu da democracia, de uma mesa de negociação no sindicato.”

Segundo ele, a determinação clara do presidente eleito é dar prioridade total à reforma tributária. Disse que Lula tentou quando governou e tinha uma proposta em consenso com os 27 governadores, mas não conseguiu aprovar a reforma .

Disse que o presidente vai dar prioridade à proposta de Baleia Rossi inspirado nas ideias do economista Bernardo Appy, que está tramitando, que é começar pelos impostos indiretos. Num segundo movimento, enviará a reforma dos impostos sobre renda e patrimônio para completar a reforma tributária.

Haddad disse que a PEC Kamikaze deseducou o Brasil. E tem razão porque foi feita atropelando as leis eleitorais para que Bolsonaro fosse eleito. Falou ainda que quer reduzir o custo do crédito, usando toda a tecnologia, como presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, havia dito. Aliás, Campos Neto se referiu a ele como o “ministro Haddad” quando falava sobre dívida pública.

Haddad fez um discurso institucional de que Lula vai respeitar os poderes. O mercado financeiro não quer que a dívida exploda, mas também não quer instabilidade institucional, como aconteceu com Bolsonaro que vive arrumando briga com o Judiciário.

Campos Neto chama Haddad de ‘ministro’ ao comentar sobre quadro fiscal

Ao falar sobre o quadro fiscal do Brasil, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, se referiu a Fernando Haddad (PT), cotado para o comando do Ministério da Fazenda no próximo governo, como “ministro”.

Não ficou claro se ele se referia ao fato de Haddad já ter sido ministro da Educação ou ao fato de o petista ser cotado para assumir um cargo no governo eleito. A fala gerou reação da plateia. “O ministro Haddad vai poder falar melhor sobre isso”, disse Campos Neto ao comentar sobre a questão fiscal.

Os dois participaram de almoço de fim de ano da Febraban.

Campos Neto: Credibilidade fiscal é essencial para reverter deteriorização de expectativas

Campos Neto, do BC, disse que com credibilidade fiscal é possível reverter a trajetória recente de deterioração das expectativas do mercado.

Referindo-se ao boletim Focus, ele destacou que há três semanas o mercado via os juros começando a cair mais para perto do meio do ano que vem.

Agora, disse, esse cenário se inverteu e a expectativa é de quem voltem a subir. “Acho que aqui tem uma incerteza em relação ao arcabouço fiscal, que uma vez sanada, gerando credibilidade para que o mercado possa entender que a trajetória da dívida é sustentável a gente consiga reverter esse quadro recente”, disse durante almoço de fim de ano da Febraban, do qual também participa o ex-ministro Fernando Haddad (PT), cotado para o comando do Ministério da Fazenda no próximo governo.

Campos Neto destacou que grande parte do trabalho de política monetária já foi feito.

O presidente do BC repetiu os que mercados estão mais sensíveis a questões fiscais e citou o caso do Reino Unido.

“É muito importante ter coordenação entre o fiscal e o monetário, teve coordenação na entrada mas é difícil ter na saída” afirmou ainda.

Campos Neto: ‘Batalha da inflação ainda não foi vencida, nem local nem globalmente’

Campos Neto disse há pouco que a batalha da inflação ainda não foi vencida, nem local nem globalmente. O presidente do BC destacou que o mundo ainda vê inflação bastante alta, especialmente no Reino Unido. Em sua fala, reforçou que os últimos anos foram de muita incerteza e que começamos a ter um novo capítulo, depois da pandemia e da guerra, com inflação de energia pronunciada.

Ele lembrou que os países se mobilizaram para fazer programas para endereçar esse aumento e que há debate sobre modelo perfeito para atender esse problema. De acordo com ele, o modelo ideal é o de 3T, que significa temporário, direcionado e sob medida, mas que é muito difícil de ser implementado. “Poucos países conseguiram fazer”, disse.

Campos Neto voltou a dizer que as medidas que o Brasil adotou fizeram com que o preço de energia caísse e que o país não gastou mais do que o restante do mundo para isso. “Brasil tem situação privilegiada, porque há de um lado o choque positivo [no câmbio] e, de outro, o negativo [social]”, afirmou ainda.

Isaac Sidney: ‘Há visão equivocada de que os bancos gostam de juros altos’

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, disse nesta sexta-feira que 2022 foi um ano desafiador e de poucos avanços do ponto de vista econômico. De acordo com ele, é preciso reagir ao “imobilismo” de um país que tem se conformado com pouco crescimento.

“Nossa obsessão será os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável”, disse em almoço de fim de ano da Febraban, do qual também participam o ex-ministro Fernando Haddad (PT), cotado para o comando do Ministério da Fazenda no próximo governo, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Leia texto completo sobre O que é preciso, segundo Isaac Sidney, para que o Brasil alcance o crescimento sustentável.

2022 foi ano de poucas reformas estruturais na economia

Isaac Sidney, presidente da Febraban. Foto: Claudio Belli/Divulgação/Febraban

Isaac Sidney, presidente da Febraban, disse há pouco que 2022 foi um ano desafiador e de poucos avanços do ponto de vista econômico. De acordo com ele, é preciso reagir ao “imobilismo” de um país que tem se conformado com pouco crescimento.

“Nossa obsessão será os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável”, disse em almoço de fim de ano da Febraban, do qual também participam o ex-ministro Fernando Haddad (PT), cotado para o comando do Ministério da Fazenda no próximo governo, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

Sidney afirmou que o Brasil tem experimentado “crescimento medíocre” e que a pauta do setor bancário não está vinculada à ideologia de um ou outro governante. “O crescimento e a geração de emprego e renda são a política social mais eficiente que pode existir”, disse.

“Sou a favor das políticas de distribuição de recursos para os mais vulneráveis, mas, sem o país crescer, daqui a pouco não teremos o que distribuir. Não há política social que se sustente sem o país crescer em níveis elevados e por períodos prolongados.”

Sidney afirmou que os números do crédito são animadores, mas que há “espaço enorme” para expandir carteira de crédito e reforçou que é preciso ampliar a capacidade de atração do capital privado.

De acordo com o presidente da Febraban, para que o país alcance o crescimento sustentável, é preciso: estabilidade macroeconômica, com inflação controlada, existência de “funding” de longo prazo e ambiente de negócios com segurança institucional.

Sidney afirmou que é preciso avançar nas reformas tributárias e do Estado e na melhoria do ambiente de negócios. “Há visão equivocada de que os bancos gostam de juros altos. O que os bancos querem é economia saudável e sustentável”, disse.

De acordo com ele, é preciso se discutir os motivos de os juros terem chegado a um patamar alto. “Há uma espécie de custo-Brasil do crédito”, disse, acrescentando que é preciso combater as causas estruturais do spread.

Em sua fala, destacou que mais de 80% do spread bancário se deve aos custos de intermediação financeira. “Se o lucro dos bancos fosse zero, o spread ainda seria elevado”, disse, completando que “lucro não é pecado” e que rentabilidade do sistema financeiro “é sinal de robustez”.