Investir em renda fixa tem resultado 100% fixo e previsível? Nem sempre: veja os riscos
Muitas pessoas associam renda fixa a investimentos sem risco, mas não é bem assim
Na hora de montar uma carteira, muitas pessoas optam por investir em renda fixa por acreditar que esse tipo de aplicação não sofre oscilações. Mas não é assim que esta classe de ativos funciona.
De cara, você deve saber que a “renda fixa não é fixa”, como o nome sugere. Mas vamos explorar bem esse assunto.
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A seguir, confira como funciona esse mercado e saiba como se proteger.
Por que a renda fixa não é fixa?
Quando dizemos que a renda fixa não é “100% fixa”, significa que ela também pode oscilar. Mas essa variação vai ocorrer somente para quem vender o título antes do seu vencimento.
Para entender isso, é preciso saber que existe um mercado secundário dos títulos de renda fixa.
Nele, os investidores podem comprar e vender diariamente, e as taxas vão variar conforme as expectativas do mercado.
Quando o investidor compra um título, ele vai se dar conta que o título oscila diariamente. Hipoteticamente, pense em um investidor com um título prefixado que rende IPCA mais 5%.
Caso hoje esse título esteja sendo negociado no mercado por IPCA mais 6%, o papel sofre uma desvalorização. Por outro lado, quando o mercado negocia o mesmo título a IPCA mais 4%, o papel sofre uma valorização.
Essa marcação a mercado é o que deixa alguns investidores nervosos. Para não sofrer com a oscilação, o recomendado é ficar com o título até o seu vencimento.
Dessa forma, a rentabilidade continuará a ser IPCA mais 4%, nesse exemplo. Não importa o quanto ele mudar de valor.
O que é marcação a mercado?
A marcação a mercado é um ajuste diário nos preços dos ativos. Portanto, marcar a mercado é saber o preço que você receberia, caso vendesse o seu ativo hoje, antes do vencimento.
A estratégia foi determinada em 2002 pela CVM e pode alterar os valores para cima ou para baixo, a depender do contexto da economia.
Esse tipo de correção é mais comum em títulos de renda fixa, apesar de também haver instrumentos marcados na curva, que sobem de preço um pouco a cada dia.
O que a marcação a mercado muda na renda fixa?
A partir de janeiro, bancos e corretoras vão precisar marcar a mercado o valor de alguns títulos de renda fixa, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliário (CRIs), debêntures e títulos públicos adquiridos portesouraria.
Por um lado, a mudança é boa: a marcação a mercado vai permitir que investidores consigam acompanhar todos os dias quanto vale o patrimônio que adquiriram.
Assim, a marcação a mercado vai atualizar o valor dos papéis, segundo os preços que estão sendo negociados no mercado naquele momento.
A regra foi estabelecida pela Anbima e tem como objetivo padronizar as aplicações para que o investidor possa acompanhar suas rentabilidades, e, assim comparar os títulos.
O que é a marcação na curva, como ocorre hoje?
Hoje, os bancos e corretoras atualizam os investimentos de renda fixa com base na marcação na curva.
Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA afirma que a diferença está na taxa utilizada no cálculo.
Um título marcado na curva tem o valor atualizado todo dia pela mesma taxa contratada pelo investidor.
Qual é a diferença entre a marcação a mercado e a na curva?
A marcação na curva faz sentido para investidores que queiram resgatar o valor aplicado apenas no vencimento.
Com a marcação a mercado, o movimento será diferente: a atualização do valor será realizada a partir da taxa que estiver sendo negociada no mercado para aquele investimento no dia.
Essa taxa normalmente deve mudar todos os dias.
A marcação a mercado não valerá para quais ativos?
A mudança não atinge CDBs, LCAs e LCIs, que continuarão com a marcação na curva.
Esses títulos são emitidos por instituições financeiras que garantem a recompra dos papéis com base na marcação na curva.
Já no caso de CRIs, CRAs e debêntures, a empresa emissora não recompra o papel quando o investidor deseja.
Ele precisa encontrar outro investidor no mercado secundário.
Quais títulos de renda fixa já são marcados a mercado?
Os títulos do Tesouro Direto são marcados a mercado. Por isso, o preço do papel varia todos os dias.
Assim, quando o mercado passa a precificar uma alta na curva de juros, por exemplo, a tendência é de que as taxas dos títulos públicos subam.
Como consequência, o valor dos papéis recua.
O contrário também é verdadeiro: se as projeções para a Selic recuam, as taxas oferecidas nos títulos públicos caem – e os preços avançam.
Além dos títulos do Tesouro Direto, fundos que investem em ativos de crédito também marcam a mercado, como CRIs, CRAs e debêntures.
Todo investidor terá títulos com marcação a mercado?
Sim, mas apenas os investidores qualificados, aqueles que têm mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras, poderão escolher se preferem a marcação a mercado ou na curva.
Se optarem pela marcação na curva, terão que formalizar esse pedido junto à corretora.
Quando os títulos serão marcados a mercado?
Pelo menos uma vez por mês.
A razão é que os investidores que compram papéis desse tipo não costumam negociá-los todos os dias. Esse prazo é suficiente para o investidor ter uma noção de quanto o papel vale.
Se algumas corretoras já oferecem a marcação a mercado, o que muda?
Queiroz, do Itaú BBA, destaca que a diferença a partir de janeiro de 2023 é que todos os distribuidores passarão a oferecer a marcação a mercado, o que deve incentivar os investidores a girar a carteira antes do vencimento dos investimentos de renda fixa – o que poderá ajudar o mercado a ter mais negociações e uma formação de preços mais precisa.
Quem poderá ser beneficiado?
O mercado secundário pode ser beneficiado com a possibilidade de saída antecipada.
A marcação a mercado atualizada traz a oportunidade do investidor ver se pode ter um ganho para reinvestir, ou se é mais vantajoso esperar até o vencimento do papel até o vencimento, esclarece.
Para Queiroz, a marcação a mercado é a possibilidade de criar um ciclo positivo para a renda fixa.
Como não perder dinheiro com renda fixa?
Sair antes do vencimento de um investimento de renda fixa pode causar prejuízo ao investidor se, no momento da venda, o título valer menos que no momento da compra.
Uma das duas formas de não perder dinheiro com o Tesouro Direto e outras aplicações de renda fixa marcadas a mercado é segurar o dinheiro na aplicação até o vencimento. É a única maneira de garantir a rentabilidade prometida no início da aplicação.
A outra opção para o investidor que não quer perder dinheiro também requer paciência. Ele vai precisar esperar a curva de preço virar para que seu investimento saia do vermelho.
Como acompanhar os preços dos títulos de renda fixa
Para saber como estão os preços dos títulos do Tesouro Direto disponíveis no mercado, basta acessar o site oficial dos títulos públicos. A página tem os preços dos ativos, informações sobre vencimentos, investimento mínimo e funcionamento dos títulos.
Os investidores iniciantes podem ficar assustados se precisarem vender seus títulos após alguma notícia que movimente o mercado. Isso porque é comum que haja suspensões nas negociações de títulos do Tesouro Direto se há muita volatilidade.
Conheça a renda fixa internacional:
Como funcionam os investimentos de renda fixa?
Renda fixa é uma dívida com um emissor ou devedor, que pode ser o governo, um banco ou uma empresa. O mais importante ao montar uma carteira é entender que os títulos de renda fixa se comportam de maneira diferente e que cada um tem uma performance melhor em determinados momentos econômicos.
Além disso, escolher entre o vencimento curto ou longo é fundamental e pode gerar diferenças de retorno, dependendo do cenário econômico apresentado. Após escolher o tipo de título e a data de vencimento, resta saber qual será o emissor.
Muitas pessoas associam a renda fixa a investimentos sem risco, ma não é bem assim.
Basicamente, temos dois tipos de renda fixa: a pós-fixada e a prefixada.
Renda fixa: títulos pós-fixados
Os títulos pós-fixados atrelados às taxas de juros não costumam dar tanto problema aos investidores. Isso porque o valor aplicado é atualizado todos os dias pela Selic ou pela taxa DI – dessa maneira, os preços vão aumentando um pouco a cada dia.
Como os investimentos pós-fixados possuem sua rentabilidade atrelada a algum índice, quando esse índice varia, a taxa do investimento também varia. Portanto, não são fixos.
Renda fixa: títulos prefixados
Em comparação com o pós-fixado, um título prefixado possui uma variação maior ainda. Esse tipo de título possui um valor fixo, já estipulado, na sua data de vencimento.
Então, se você segurar o título até o vencimento, terá a rentabilidade contratada no momento da compra do título. Entretanto, a taxa do título possui a tal marcação a mercado.
Todos os dias úteis, os investidores fazem novas negociações que interferem no valor dessa taxa. Em momentos em que o mercado precifica um maior risco no ativo, as taxas costumam subir, quando o contrário ocorre, as taxas costumam cair.
Os preços dos títulos variam de maneira contrária às taxas, quando as taxas sobem, os preços dos títulos caem, quando as taxas caem, os preços dos títulos sobem.
Por que isso ocorre? Se a taxa sobe, você tem que comprar um título por um preço menor para do que na data de vencimento que você tinha um valor acordado. Se a taxa cai, o contrário acontece.
Títulos do governo ou de bancos e empresas?
O governo possui os títulos considerados mais seguros, mas os bancos e as empresas podem pagar mais juros. Escolhendo emissores com um bom risco/retorno, é possível aumentar o retorno dos seus investimentos, sem adicionar muito risco.
Para escolher o melhor emissor, também é preciso se atentar ao tempo de duração do investimento e do ciclo econômico. De um lado, os títulos de empresas não têm muita liquidez e talvez só possam ser resgatados no vencimento. Por sua vez, os títulos de bancos não possuem marcação a mercado e também podem ter que ser levados a vencimento.
É importante ter em mente que a economia muda e opera em ciclos. E o que isso significa? Que o título que é bom hoje, pode não ser o melhor amanhã.