De 50% a 150% do CDI: por que a rentabilidade do CDB varia tanto? Saber isso pode te ajudar a investir melhor

Especialistas explicam o que pesa na hora de definir rentabilidade do produto e como usar isso a seu favor

Os brasileiros retiraram mais de R$ 87 bilhões da poupança em 2023. Desse montante, uma parte migrou para buscar maior rentabilidade em produtos de renda fixa, com os CDBs. Mas como funciona o CDB? Como os bancos calculam quanto rende o CDB? E, principalmente, você sabe como pode usar isso a seu favor na hora de investir?

Investidores podem muito bem estranhar a diferença entre a rentabilidade dos CDBs. Nos aplicativos dos bancos e corretoras, há produtos que vão de 100% a quase 120% do CDI como rendimento nos casos mais comuns.

Nos extremos, é possível encontrar até produtos que pagam 50% ou 150%. Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam como isso funciona e como fazer uma boa escolha.

“No mundo dos investimentos, temos três fatores que formam uma pirâmide: rentabilidade, risco e liquidez. Para ter dois bons, fatalmente você vai precisar perder um pouco no terceiro, e o investidor vai fazer a opção do que é mais importante para ele”, explica João Ferreira, especialista de renda fixa da One Investimentos.

Portanto, CDBs de rentabilidade maior, em geral, só virão acompanhados de um dos outros dois fatores em destaque. Se o rendimento está acima da média, ou não há tanta liquidez, com prazos mais longos. Ou, então, o risco do emissor é maior. De tal maneira que se a prioridade for liquidez de prazo curto junto com risco baixo dificilmente você vai encontrar uma rentabilidade alta.

Como funciona o CDB?

CDB é sigla para certificado de depósito bancário. Trata-se de um título de renda fixa emitido por bancos, em que você empresta dinheiro para a instituição em troca de um rendimento definido no momento da compra. Rendimento esse que pode ser de três maneiras:

  • Uma taxa prefixada;
  • Um percentual do CDI;
  • Um prêmio sobre a inflação (IPCA mais uma taxa adicional).

O CDI também é uma sigla, mas para certificado de depósito interbancário. É a taxa média praticada nos empréstimos entre os bancos. O CDI acompanha de perto a taxa Selic, geralmente em torno de 0,10 ponto percentual abaixo. Portanto, dizer que um CDB rende 100% do CDI significa hoje afirmar que o produto renda cerca de 11,15% ao ano.

Como o banco define quanto rende o CDB?

Já falamos que o CDB é um empréstimo que você faz ao banco, certo? Vamos entender como funciona o CDB na prática. Logo, da mesma maneira que o banco cobra diferentes taxas a depender de como está o nome do cliente na praça, essa lógica também funciona no sentido contrário.

Bancos menores ou com uma situação financeira menos equilibrada possuem uma classificação de risco maior. Por isso, da forma como funciona o CDB, quando vão ao mercado em busca de dinheiro, precisam te pagar mais rendimento para compensar esse risco.

Por outro lado, instituições mais sólidas e consolidadas têm mais interessados em emprestar dinheiro para elas, o que permite que elas emitam CDBs sem precisar pagar tantos juros aos investidores. “Se está pagando bem a mais que a média do mercado geralmente é porque há uma percepção de risco nesse banco”, explica Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Da mesma maneira, no caso da liquidez. Uma das modalidades mais comuns são os CDBs de liquidez diária, em que você retirar seu dinheiro a qualquer momento. Como pode ter que te pagar de volta logo menos, o banco compensa oferecendo uma rentabilidade menor.

“Geralmente o percentual do CDI que é pago está muito associado à característica de liquidez. Se eu quiser um CDB de liquidez diária, ele geralmente vai ser de 100% do CDI. No máximo um pouco mais, como 102%”, completa João Ferreira, da One.

Vale a pena investir no CDB que pague uma taxa mais alta?

Geralmente o CDB que pagar uma taxa mais alta vai ter como contrapartidas o maior risco e/ou um prazo mais longo de investimento. No entanto, mesmo os CDBs com maior risco seguem sendo considerados como um investidor conservador, explica Ferreira. Isso acontece porque esse produto é segurado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até o limite de R$ 250 mil por emissor.

“O suitability tem mais a ver com o produto do que com o emissor. Um investidor conservador pode investir em um CDB de emissor mesmo que ele não tenha um bom rating, desde que fique atento aos limites”, completa o especialista. “Quando a aplicação supera os R$ 250 mil, aí recomendamos apenas os emissores com alto rating”.

O investidor deve ficar atento a essas informações no momento da aplicação, que em geral são dispostas pelas instituições já na tela de seleção dos produtos. Uma dica de João Ferreira para quem quer se sentir mais seguro, já que não deixa de ser uma dor de cabeça ter de acionar o FGC, é diversificar também dentro do CDB. Ter títulos de diferentes emissores e balancear.

Agora há o outro ponto, que é o prazo. CDBs mais rentáveis geralmente têm prazos mais longos de investimento. E nem sempre há porta de saída caso se mude de ideia antes da hora. Portanto, é essencial entender os prazos e condições de retirada antes de investir.

“O CDB é um produto que tem um vencimento e geralmente você tem que carregá-lo até o vencimento. Se o investidor quiser sair antes, não tem garantia da revenda, vai depender da corretora organizar esse mercado paralelo, mas não é algo formalizado, como em outros produtos”, diz João Ferreira.

Como funciona o CDB que rende 150% ou mais do CDI?

A emissão de CDBs também é frequentemente utilizada por grandes empresas em campanhas de atração de clientes. As instituições oferecem produtos com rentabilidades altíssimas, como 150%, 200% ou mais do CDI em produtos, em geral para pessoas que ainda não tenham contas abertas ou não as movimentem.

“Tem algumas ofertas que são feitas nesse patamar, mas o importante é sempre ler as letrinhas miúdas. Quando você olha no detalhe, geralmente tem uma limitação de valor ou um prazo de vencimento extremamente curto, como por exemplo de 60 dias. 180 dias foi o mais longo que eu já vi”, diz o especialista.

Ou seja, a oferta inclui uma taxa mais alta de rendimento, mas é um percentual que vai correr por um período bem curto e/ou restrito a um determinado valor. Uma campanha hoje ofertada pelo Banco XP oferece rentabilidade de 150% do CDI, a um prazo de 90 dias e com valor que seja de no mínimo R$ 20 mil e no máximo R$ 80 mil.

O CDB está sujeito à tabela regressiva de Imposto de Renda. Portanto, investimentos de menos de seis meses podem pagar taxas maiores, mas também vão arcar com o maior percentual possível da tabela, de 22,5%. Esse percentual é gradualmente reduzido, até chegar a 15% de IR após 720 dias.