Selic a 9% no fim de 2024: como montar uma carteira de investimento nesse cenário?

Especialistas apontam quais podem ser os produtos interessantes para diversificar as aplicações financeiras e garantir bom retorno com a taxa de juros abaixo de 10%

De alguns meses para cá, temos visto a Selic cair pouco a pouco. E as expectativas seguem nessa mesma linha. Tanto que o Boletim Focus, e mais atualmente o Itaú Unibanco (ITUB3, ITUB4), projetam que até o fim de 2024 os juros cheguem a 9%. Desse modo, a dúvida que fica entre os investidores é: como montar uma carteira de investimentos com a queda da Selic?

Mas, antes de tudo, vale saber que montar carteira de investimentos é muito importante para a gestão do patrimônio, na medida em que serve para diversificar os riscos e aumentar a rentabilidade dos valores investidos.

“Contudo, uma série de fatores deve ser levada em consideração, desde a perspectiva de retorno até o risco ao qual o investidor está disposto”, esclarece Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

De olho na distribuição da carteira de investimentos

Aliás, é importante pontuar aqui a diversificação desses produtos. “Afinal de contas, ao distribuir os investimentos entre diferentes classes de ativos, setores e geografias, a carteira se torna menos vulnerável a eventos específicos que possam impactar negativamente determinados ativos. Isso proporciona uma gestão mais eficiente dos riscos, reduzindo a volatilidade global da carteira”, pontua Lai Santiago, planejadora financeira e economista comportamental.

Portanto, uma carteira bem estruturada permite aproveitar diferentes oportunidades de mercado e adaptar-se a mudanças econômicas. “A diversificação contribui para reduzir a influência das emoções nas decisões de investimento. Desse modo, em momentos de turbulência no mercado, investidores bem diversificados tendem a tomar decisões mais ponderadas. O que evita reações impulsivas que podem prejudicar seus resultados financeiros”, comenta Lai.

O que considerar na hora de montar carteira de investimentos

E assim como a diversificação, existem outros pontos que merecem atenção no momento de estruturar os ativos financeiros que farão parte das suas aplicações.

“Na hora de pensar em como montar uma carteira de investimentos, o investidor deve ter clareza sobre os seus objetivos financeiros. Ou seja, aposentadoria, compra de um imóvel, pagamento da faculdade dos filhos, viagem, período sabático, iniciar um novo negócio etc. Isso será importante para a definição do prazo dos investimentos e a correta distribuição dos recursos entre as classes de ativos que se mostrarem mais alinhadas aos objetivos do investidor”, ensina Alex Nery, professor da FIA Business School.

Além disso, é necessário que conhecer o seu perfil de risco, pois ele funcionará como um guia para definir os tipos de aplicações compatíveis com o seu estilo de investimento. “Há vários questionários que procuram definir o perfil de risco do investidor. E, de maneira geral, eles estabelecem três perfis básicos: conservador, moderado e arrojado. Sendo o conservador o mais avesso ao risco e o arrojado o menos avesso ao risco”, afirma Nery.

Aliás, as condições econômicas atuais e futuras também devem ser consideradas na hora de pensar em como montar uma carteira de investimento.

“Afinal, isso será importante para definir a dimensão geográfica dos investimentos e os setores de atuação dos emissores dos títulos que podem ser adquiridos. Isso porque, as expectativas sobre as condições econômicas podem ser mais ou menos favoráveis para determinado setor econômico. Sem esquecer, claro, dos fatores de risco dos ativos (inflação, juros, câmbio, commodities etc)”, analisa o professor.

Como montar a carteira de investimentos com queda da Selic

Então, todas as premissas apresentadas pelos especialistas devem sim fazer parte da sua estratégia na hora de aplicar parte do patrimônio. Inclusive, na hora de pensar em como montar uma carteira de investimentos com foco na queda da Selic.

De maneira mais geral, é interessante levar em consideração o seguinte passo a passo:

  • Revisão dos objetivos financeiros: avalie se esses sonhos permanecem os mesmos ou se há necessidade de ajustes. “Metas de curto, médio e longo prazo podem demandar estratégias distintas”, pontua Lai Santiago.
  • Análise do perfil de risco: afinal de contas, é importante reavaliar o apetite ao risco, tendo em mente que uma taxa de juros menor pode influenciar a rentabilidade de diferentes classes de ativos. “Portanto, ajustar a carteira de acordo com a tolerância ao risco do investidor”, afirma a planejadora financeira.
  • Rebalanceamento da carteira: ajustando a alocação de ativos para refletir as mudanças nas taxas de juros.
  • Atenção à renda variável: avalie a inclusão ou aumento de alocação em ativos de renda variável, como ações.
  • Monitoramento regular: estabeleça uma rotina de acompanhamento constante da carteira. “As condições econômicas podem evoluir. E ajustes podem ser necessários para garantir que a alocação de ativos permaneça alinhada aos objetivos do investidor”, comenta Lai.
  • Consulta a profissionais financeiros: “em cenários mais complexos, considerar a orientação de profissionais financeiros para obter insights personalizados e estratégias de investimento adaptadas ao contexto específico do investidor”, afirma a especialista.

Vantagens de montar carteira com projeção de juros de 12 meses

Aliás, vale saber que existem benefícios ao pensar nas aplicações com foco no fim do ano. Isso porque, é possível obter ganhos consistentes tanto na renda fixa como na renda variável. De que maneira? Com o controle da volatilidade e elevado alinhamento com o cenário econômico global.

“Afinal de contas, com a queda da Selic, haverá uma maior liquidez na economia. O que deverá incentivar o consumo e investimento por pare de famílias e empresas. Assim como reduzir as despesas financeiras das companhias. O que irá destravar o valor para as ações. E, por outro lado, deverá reduzir ganhos de grande parte dos produtos da renda fixa”, comenta Angelo Belitardo, gestor de investimentos da Hike Capital.

E quais são as desvantagens?

Como já era de se imaginar, nem tudo são flores no mundo dos investimentos. Por isso, a gente trouxe também as desvantagens de se pensar em como montar uma carteira de investimentos com foco em projeções de taxa de juros. Ou seja, com a queda da Selic.

Então, de acordo com Lai Santiago, a busca por ativos mais arriscados em um ambiente de juros mais baixos pode aumentar a exposição a volatilidades inesperadas. “É importante que o investidor esteja preparado para ajustar sua estratégia conforme as condições evoluem e que ele não desrespeite o seu perfil de risco”, pontua a planejadora financeira.

A especialista lembra que auando a Selic estava mais baixa, antes mesmo da pandemia, muitos investidores se deixaram levar pela onda de euforia do mercado. E alocaram grande parte de seus recursos em ações e ativos de maior volatilidade. “Aí, quando veio a crise nos mercados globais e a bolsa despencou, muita gente criou uma aversão ao mercado financeiro de maneira geral. Desse modo, até hoje parte desses investidores tem muita dificuldade em investir porque perdeu dinheiro e a percepção de risco foi distorcida”, explica.

Onde investir com a queda da Selic

Portanto, agora que você já conheceu tudo sobre prós e contras, bora saber, de forma prática, como montar uma carteira de investimentos pensando na Selic a 9% no fim de 2024?

“No primeiro momento, é importante que o investidor analise como essa queda nos juros pode impactar diferentes classes de ativos, da renda fixa à renda variável”, afirma Sidney Lima. Por isso, vamos dividir as dicas por produtos de investimentos.

Renda fixa pós-fixada

Um exemplo são os ativos indexados ao CDI, que tendem a perder a sua atratividade na medida em que os novos títulos emitidos passarão a oferecer taxas de retorno mais baixas com a redução da Selic.

“Ao montar a carteira de investimentos ou ao ajustar a carteira existente, o investidor deve considerar reduzir a exposição nesses títulos”, comenta Alex Nery.

Renda fixa prefixados

Por outro lado, esses produtos tendem a apresentar maior valorização. “Afinal de contas, com a queda da Selic, esses investimentos irão remunerar por uma taxa maior do que a dos novos títulos, que serão emitidos num cenário de taxas de juros reduzidas”, argumenta Nery.

Portanto, os títulos prefixados existentes se valorizam, já que a demanda por eles aumenta e os investidores se mostram mais dispostos a pagar um valor maior por esses títulos no mercado secundário. “Dessa maneira, a exposição a esses títulos pode aumentar na carteira de investimentos. Desde que eles sejam adquiridos quando os juros ainda estão altos e que vençam no curto ou no médio prazo”, diz o professor da FIA Business School.

Ativos financeiros indexados ao IPCA

Com a redução da Selic é esperado que ocorra uma estabilização ou até mesmo um aumento da inflação (IPCA). Pois, em teoria, a redução da Selic pode estimular a demanda por crédito e aumentar os gastos públicos e privados, o que pode levar a pressões inflacionárias. Então, pode ser uma boa estratégia o aumento da exposição a esse fator de risco, ou seja, o IPCA.

“No entanto, é preciso cautela aqui, uma vez que as condições econômicas atuais sugerem a projeção de redução tanto da Selic quanto do IPCA. De maneira que pode ser que não ocorra o aumento significativo da demanda por títulos indexados à inflação. Ainda assim, manter títulos indexados à inflação é sempre recomendável, principalmente para estratégias de longo prazo”, comenta Nery.

Renda variável: ações

Outro efeito da redução da Selic é um possível aumento do apetite por risco dos investidores. “Com a redução dos retornos dos investimentos de menor risco, como os títulos de renda fixa, a teoria e a experiência nos mostram que os investidores ficam mais dispostos a assumir riscos em busca de maiores retornos. Desse modo, isso pode impulsionar o mercado de ações. Já que com as taxas de juros mais baixas, os fluxos de caixa futuros das empresas têm um valor presente mais alto e as companhias se tornam mais valiosas. Então, o investidor deve considerar compor sua carteira com uma participação maior de ações”, acredita o professor.

Também é importante considerar as ações de empresas em crescimento consistente e acelerado e com forte potencial de ganho de escala. “Destaco os setores de transporte de cargas e pessoas (CCR e JSL), locação de caminhões e maquinas agrícolas (Simpar, Vamos e Armac), gestão de resíduos e aterros sanitários (Ambipar e Orizon) e redes de hospitais (Kora Saúde e Mater Dei)”, afirma Angelo Belitardo.

Debêntures

Além disso, de acordo com Alex Nery, a redução da Selic implica a redução dos custos de financiamento das empresas. Desse modo, as companhias podem se beneficiar de condições mais favoráveis para promoverem a expansão das suas atividades por meio de investimentos em novos projetos e de operações de fusão e aquisição.

“Isso abre uma oportunidade para o investimento em títulos de dívida privada, como as debêntures, que também podem se tornar interessantes na composição da carteira de investimentos”, conclui o professor.