Caso Barsi x Ferrentini: por que a diversificação é tão importante para os investimentos?

História do empresário que diz ter perdido R$ 14 milhões ao apostar tudo em uma ação provoca debate sobre como evitar riscos

As declarações do empresário Maurício Ferrentini, que afirma ter perdido mais de R$ 14 milhões após seguir recomendação do megainvestidor Luiz Barsi Filho, movimentaram as conversas sobre investimento na última semana. Como pano de fundo, para além da divergência pública entre os dois, aparece a discussão sobre a importância da diversificação para a carteira de um investidor e os erros que teriam sido cometidos na gestão do patrimônio do empresário.

De acordo com reportagem do site NeoFeed, Ferrentini investiu R$ 15,9 milhões, o equivalente a mais de 80% do seu patrimônio, em ações do IRB Brasil (IRBR3) após suposta recomendação de Barsi. Com a queda no valor das ações da resseguradora, esse patrimônio teria caído para cerca de R$ 1,5 milhão em 2023, quando Ferrentini se desfez dos papéis com o prejuízo milionário.

Em posicionamento enviado à publicação, Barsi afirma que não atua como assessor de investimentos e não administra carteiras de terceiros. Ele afirma que a sua crença no restabelecimento do IRB Brasil é pública e que seus posicionamentos ocorrem nunca com o “intuito de prometer resultados específicos ou fazer declarações enganosas para induzir qualquer investidor, incluindo Maurício Ferrentini, a tomar decisões financeiras”.

Tanto a reportagem do NeoFeed, quanto uma entrevista com Ferrentini publicada pelo jornal Folha de S.Paulo citam documentos que teriam sido entregues à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao Ministério Público, com investigações ainda em andamento.

O que significa diversificar e por que isso é importante?

A disputa entre Maurício Ferrentini e Luiz Barsi Filho segue, com documentos e notificações extrajudiciais que não são de conhecimento público. Por outro lado, o caso inspira a discussão sobre a importância da diversificação para um investidor.

Mas o que exatamente significa diversificar e como essa prática pode te ajudar a prevenir riscos na gestão da sua carteira?

Para te ajudar, a Inteligência Financeira conversou com Alex Nery, professor da FIA Business School, e Amanda Notini, sócia da One Investimentos. Os especialistas conversaram com a reportagem sem comentar especificamente o caso de Ferrentini e Barsi.

O que significa diversificar investimentos?

“Diversificar é distribuir o que se tem de patrimônio em diferentes classes de ativos financeiros”, explica Alex Nery. “E mesmo quando se trata de uma classe só, como ações por exemplo, diversificar optando por diferentes ativos dentro dessa mesma classe”, prossegue.

O objetivo dessa prática é mitigar os riscos, para evitar que imprevistos que atinjam uma classe não afetem todo o patrimônio investido. E também para adequar a carteira ao perfil do investidor, de modo que os diferentes ativos estejam alinhados com os objetivos e a tolerância ao risco.

“A diversificação é muito importante, justamente por conta do perfil do investidor, mas principalmente porque a gente nunca consegue prever o que vai acontecer na economia. Temos expectativas, mas não temos como prever exatamente o que vai acontecer no futuro”, explica Amanda Notini.

“Se acontece algum evento com uma classe de ativos mas você diversificou, você não está 100% concentrado nela. Seu portfólio vai ser prejudicado em uma parte mas não no todo, você tem uma parte que vai te ajudar e vai segurar a sua rentabilidade”, afirma a sócia da One Investimentos.

Como diversificar na renda fixa e em ações?

Os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira afirmam que é possível diversificar tanto na renda fixa quanto na renda variável, observando alguns pontos importantes para te ajudar a diluir os riscos nos seus investimentos.

Nos ativos de renda fixa, por exemplo, é importante combinar títulos com diferentes rentabilidades. “Na renda fixa, temos que diversificar entre títulos atrelados à inflação, títulos atrelados à Selic e os prefixados. Você coloca um peso maior naqueles que você acredita mais, mas vai buscando equilibrar”, explica Amanda Notini.

Da mesma maneira, essa lógica vale para outros ativos, como títulos de dívida. “Se eu vou investir em debêntures, não faz sentido eu investir em uma empresa só, porque ela pode vir a dar default. O ideal é eu ter um pouco de diferentes empresas”, prossegue Alex Nery.

Outro exemplo em que a diversificação ajuda é no investimento em fundos imobiliários. “Nos FIIs, é possível diversificar tendo diferentes tipos de fundo, como de galpão, de shopping, de lajes corporativas, entre outros”, explica Amanda Notini.

Como diminuir o risco investindo em ações?

Sem comentar o caso específico de Maurício Ferrentini, os especialistas falaram sobre a importância de diversificar também para quem opta em investir em ações. Nesse segmento, isso é possível de ser feito de duas maneiras principais: investindo em diferentes empresas de diferentes setores.

Portanto, o ideal não seria aplicar o seu dinheiro reservado para o mercado de ações nos papéis de uma única empresa.

“Quem busca investir para viver de dividendos, não vai alocar em uma ação de momento para subir rapidamente, é um horizonte de longo prazo. Para esse objetivo, importante olhar as ações que historicamente são boas pagadoras de dividendos. Mesmo assim, reforçando, não é prudente colocar 80% do seu patrimônio em um único papel”, diz o professor Alex Nery.

Amanda Notini, da One Investimentos, afirma que “dentro da renda variável, é importante olhar para o cenário econômico” e compor utilizando diferentes setores. “Você pode diversificar com uma empresa do setor bancário, outra de commodities, outra em um setor mais volátil como tecnologia, mas sempre com cautela”, diz.

Ela explica que um erro comum é comprar ações de empresas diferentes, mas ficar em um único setor. “Se você comprar ações de três empresas do setor de petróleo, por exemplo, você não está diversificando de fato. Se o preço do petróleo cai isso vai afetar as três empresas”.

Investir no exterior também é diversificar

Os especialistas ouvidos pela reportagem que outra forma de diversificação que às vezes escapa ao investidor é aplicar também em ativos fora do país. “Especialmente quando nós estamos falando de milhões a serem investidos, podemos falar também da diversificação internacional”, diz Alex Nery.

Isso uma vez que assim como há fatores que podem afetar um setor, há aqueles que podem atingir a economia brasileira como um todo. “Uma perda em um determinado mercado pode ser compensada com um ganho em um outro mercado”, diz o professor.

Esse é o chamado “risco geográfico”. No caso do Brasil, as turbulências políticas, diz Amanda, são um fator a mais para levar esse tema em consideração. “Aqui nós temos um risco de interferências políticas e por isso também estamos atentos com esse momento de fechamento de curva de juros nos Estados Unidos como uma oportunidade”, completa.

Diversificar é sobre diminuir os riscos, mas não só isso

O caso que chamou a atenção nos últimos dias é um exemplo de quando se investe um alto volume do patrimônio em um ativo de risco. No entanto, para a maior parte dos brasileiros, diversificar pode ser também correr mais riscos em nome de uma maior rentabilidade.

“Tem gente que quer reduzir o risco e aplica tudo em títulos públicos ou na poupança. O risco é baixíssimo, mas o retorno também é mínimo. Buscar um pouco mais de risco para ter um retorno melhor, diversificar nesse sentido, também é parte da estratégia de uma boa carteira”, explica o Alex Nery.