Por que Warren Buffett mantém seus investimentos nos EUA? 

Investidor bilionário fez fortuna investindo no maior mercado do mundo e em uma moeda historicamente forte, o dólar 

“Não compre ações de empresas fora dos EUA”, escreveu Warren Buffett em sua carta anual aos acionistas. A afirmação pode parecer exagerada, mas tendo a oportunidade de visitar a conferência da Berkshire Hathaway por dois anos seguidos, aprendi algumas coisas.

Uma delas é que a estratégia de investimentos de Buffett, a qual é muito simples – ou seja, comprar boas empresas e manter essas posições por alguns anos – funciona. Warren Buffett e a Berkshire são a prova viva de que isso, de fato, pode funcionar. 

No entanto, seu exemplo se deu através de investimentos no mercado americano. Buffett fez fortuna investindo no maior mercado do mundo e em uma moeda historicamente forte, o dólar. Você pode até buscar outros exemplos de value investors pelo mundo, mas o fato é que a Berkshire e Buffett fizeram fortuna essencialmente investindo no mercado americano. 

O recado do Oráculo… 

Na sua carta aos acionistas da Berkshire deste ano, Warren Buffett nos ensina: 

I can’t remember a period since March 11, 1942 – the date of my first stock purchase – that I have not had a majority of my net worth in equities, U.S.-based equities.  

America has been a terrific country for investors. All they have needed to do is sit quietly, listening to no one. 

(Tradução) Não consigo lembrar-me de um período desde 11 de março de 1942 – a data da minha primeira compra de ações – em que não tenha tido a maior parte do meu património investido em ações sediadas nos EUA. 

A América tem sido um país excelente para investidores. Tudo o que precisavam fazer era ficar sentados em silêncio, sem ouvir ninguém. 

Trechos da carta da Berkshire Hathaway aos seus acionistas.  

Mudanças no portfólio de Warren Buffett

Um dos principais destaques é que Warren Buffett segue com uma posição de caixa bastante expressiva, para ser mais exato, são US$ 167,6 bilhões à espera de boas oportunidades de uso. Buffett é conhecido pela sua paciência na espera de boas oportunidades. 

O conhecido investidor realizou algumas mudanças em seu portfólio, segundo o report 13F publicado recentemente. Como característica principal, sua certeira segue apresentando uma baixa rotatividade. Para se ter uma ideia, o tempo de permanência média de uma ação em seu portfólio é de 22 trimestres, ou seja, mais de cinco anos. 

Warren Buffett tradicionalmente não altera significativamente sua carteira, mas desta vez ele zerou exposição a quatro ativos – a construtora DR Horton, as seguradoras Markel Group Inc e Globe Live Inc, e a brasileira Stone. Sim, Buffett investe em empresas fora dos EUA, mas sua alocação nessas ações é consideravelmente pequena. Buffett tinha 0,04% do seu portfólio alocado na Stone, participação essa que ele adquiriu quando do seu IPO em 2018. Além disso, Buffett segue investido em ações do Nubank – o banco é sua 21ª posição, com US$ 892 milhões, ou 0,26% do seu portfólio alocados.

Fora dos EUA

Mas ao olhar para fora dos EUA, Buffett escreve que não vê oportunidades interessantes: 

Outside the U.S., there are essentially no candidates that are meaningful options for capital deployment at Berkshire. 

(Tradução) Fora dos EUA, não existem essencialmente candidatos que sejam opções significativas para aplicação de capital na Berkshire. 

Trechos da carta da Berkshire Hathaway aos seus acionistas.  

Buffett reduziu a exposição à Apple vendendo 10 milhões de ações, o que equivale a cerca de US$ 1,8 bilhão. É importante mencionar que a Apple continua sendo sua maior posição, com mais de 50% do seu portfólio, totalizando mais de US$ 170 bilhões alocados na empresa. Além disso, ele reduziu a exposição à HP e à Paramount. Do lado das compras, destaca-se o aumento da exposição à petroleira Chevron, que passa a ser a quinta maior posição de seu portfólio, e à empresa de mídia Sirius XM. 

Na data do report, suas 10 maiores posições respondiam por 93% do seu portfólio, de cerca de US$ 347 bilhões.  

Internacionalização acontecendo… 

Seguindo o conselho do Oráculo de Omaha, temos visto, com muito orgulho, o movimento de internacionalização acontecer no Brasil. Desde que a Avenue foi criada há cinco anos, temos trabalhado incessantemente para mostrar a importância de o brasileiro internacionalizar sua vida financeira e em apresentar as infinitas possibilidades aqui fora. 

Está acontecendo… 

Já temos visto esse movimento ocorrer. O Banco Central publica regularmente o balanço de pagamentos do Brasil. Ainda que complexa, a análise da contabilidade nacional mostra que os investimentos de brasileiros no mercado financeiro internacional chegaram a US$ 45,18 bilhões em 2023, um aumento de 12,5% em relação ao registrado em 2022. 

Dessa forma, o saldo líquido (diferença entre o dinheiro aplicado e o resgatado de investimentos no exterior) ficou em US$ 4,37 bilhões, bem acima dos US$ 142 milhões negativos do ano anterior – os números consideram as aplicações em carteira de pessoas físicas e jurídicas. 

Imersão em Nova York… 

Esse crescimento de um processo de internacionalização só é possível com a criação de um ecossistema que passa não só pela Avenue como precursora, mas também por jornalistas, influencers, analistas, assessores de investimentos etc. 

Com esse intuito, na última semana, tivemos a oportunidade de participar de um evento muito especial em Nova York, o qual compartilhei em minhas redes sociais. Junto com 50 assessores de investimentos da EQI, tivemos uma imersão no mercado americano, em Nova York, participando da abertura do pregão na Nasdaq e visitando gigantes de Wall Street como JPMorgan, Goldman Sachs, Franklin Templeton, BlackRock e AllianceBernstein. 

Acreditamos que este é apenas o início. A vida do brasileiro já é global. O Brasil não é uma ilha. Os brasileiros ainda investem essencialmente em produtos e alternativas locais. Existe um espaço gigantesco para crescimento. Portanto, estamos muito animados e orgulhosos de sermos pioneiros desse movimento. 

Seguindo…  

Na economia 

O dado mais aguardado da semana trouxe certo alento aos investidores. 

O PCE (Personal Consumption Expenditures) mostrou uma inflação em linha com o esperado pelo mercado e a continuidade de uma trajetória benigna. O índice de preços das despesas de consumo pessoal, excluindo os custos de alimentação e energia, aumentou 0,4% no mês e 2,8% em relação ao ano anterior – esta foi a menor leitura desde março de 2021. 

Essa leitura em linha foi importante depois de termos algumas medições de inflação acima do esperado (CPI e PPI). Interessante que a medição de inflação em linha aconteceu mesmo após um salto inesperado na renda pessoal, que subiu 1%, bem acima da previsão de 0,3% – o lado positivo é que os gastos diminuíram 0,1% ante a estimativa de ganho de 0,2%. 

Uma análise importante é vermos a evolução do núcleo da inflação (que exclui preços de alimentos e energia). Quando anualizamos os dados dos últimos meses, vemos que houve um certo aumento, mas que a inflação estaria “rodando” próxima à meta do FED. 

Pensando no cenário à frente, entendemos que os dados recentes de inflação, em consonância com os dados de atividade da economia americana, seguem corroborando a ideia de que a inflação está em uma trajetória positiva, mas que o caminho para retornar à meta de inflação do Fed pode ser longo. 

Os dados reforçam a ideia de parcimônia por parte do banco central americano na condução da política monetária. Em outras palavras, reforçam a ideia de que há pouco espaço para cortes de juros no curto prazo. No entanto, pensando mais a médio prazo, o cenário base de que o banco central americano começará a reduzir os juros em 2024 persiste. 

Alocação em renda fixa 

Com esse cenário em mente, continuamos vendo com bons olhos a adição de duration à carteira na parcela de renda fixa. Adicionar duration significa essencialmente aumentar os prazos dos vencimentos dos títulos investidos. Se em 2023 foi muito comum o investidor buscar títulos curtos, dada a inversão da curva de juros (títulos curtos com yields mais elevados do que títulos longos), entendemos que pode ser interessante para o investidor contratar as atuais taxas por um período maior, reduzindo assim o risco de reinvestimento no futuro – risco advindo caso as taxas venham a ceder e as remunerações no futuro sejam menores. 

Segundo o time de pesquisa do Bank of America Merrill Lynch, tal tendência já tem sido observada entre os clientes do banco. Pela primeira vez desde 2022, vemos clientes vendendo t-bills para adicionar duration à carteira. 

E os resultados 

Com a divulgação dos resultados de várias empresas de varejo, podemos dizer que chegamos ao fim da safra de balanços do 4T23. Colocando em números, foram 98% das empresas do S&P 500 divulgaram seus números, sendo que 72% vieram em linha ou superaram as estimativas do mercado em relação à receita, e 82% vieram em linha ou superaram as estimativas do mercado em relação ao lucro. 

Trazendo outros números interessantes… 

  • Em geral, grande parte das empresas superou as estimativas do mercado, representando 73% delas, para ser mais exato. Houve um crescimento moderado de lucros de 4% entre as empresas do S&P 500. 
  • Setorialmente, o destaque foi para Serviços de Comunicação, com crescimento de lucros de 45%, puxando a média para cima. Nesse setor, encontram-se empresas como Microsoft, Nvidia, Amazon e Google, entre outras.  
  • Observamos que a inflação, como mencionei acima, continua sendo um tópico importante nos comentários dos resultados das empresas. Praticamente metade das empresas do S&P 500 citaram o termo inflação pelo menos uma vez em seus comentários de resultados.