Como ganhar dinheiro com o agronegócio, de ações a letras de crédito e Fiagros?

Saiba como investir no agro em diferentes modalidades: de ações e fundos (ETFs e Fiagros) até letras e certificados de crédito

O setor agropecuário cresceu mais de 21% no primeiro trimestre deste ano, e, no segundo, a queda, que se esperava muito maior, foi apenas discreta. O setor, incluindo suas cadeias como um todo, representam algo perto de um quarto do PIB brasileiro. Os dados são do Cepea (Centro de Pesquisas Econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP de Piracicaba).

O instituto diz que, da porteira para dentro, o setor representa cerca de 5% da economia do país, e o restante está relacionado à toda cadeia do agronegócio. Diante desses números, há um grande potencial para o setor no mercado de capitais.

Confira como ganhar dinheiro investindo no agro, tanto em modalidades de renda fixa quanto de renda variável.

Investir no agro em renda fixa e variável

Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed, enumera as opções disponíveis em renda variável e renda fixa para se investir no setor agro no Brasil.

Renda variável

  • Ações de empresas do setor
  • Fundos de investimento imobiliário (FIIs) com áreas, terrenos e atividades produtivas relacionadas ao agronegócio
  • Certificados de operações estruturadas (COEs) envolvendo empresas ou commodities agrícolas
  • Contratos futuros de commodities, como boi, milho, soja, café, entre outros
  • ETFs temáticos do setor agro

No último caso, dos ETFs, há os que replicam a oscilação do preço das commodities sem as características dos contratos futuros, e outros que são basicamente compostos de ações de empresas do setor.

Renda fixa

  • Debêntures (incentivadas ou não)
  • LCA (letra de crédito do agronegócio)
  • CRA (certificado de recebíveis do agronegócio)

Como investir no agro de maneira segura?

Assim como em outros setores, “os títulos de renda fixa são os mais seguros. Porém, possuem o risco de crédito da empresa emissora”, explica Petrokas. E, no caso do agro, é possível identificar o risco de crédito da empresa pela atividade econômica exercida e pelas características da própria companhia.

Além disso, o especialista destaca como o mais arriscado na renda fixa as debêntures, porque possuem diferentes níveis de garantia.

Como investir no agro tentando ganhos maiores?

Já com relação à renda variável, as ações e os fundos (FIIs e ETFs) possuem maior potencial de ganho, mas os riscos também são mais altos. Isso porque essas modalidades estão sujeitas ao risco de mercado. “Elas têm oscilações de preço a partir de desequilíbrio entre oferta e demanda. Portanto, os preços tendem a subir sob menor demanda e maior oferta, e cair no cenário oposto”, diz Petrokas.

Riscos e potenciais da renda fixa no agro

Com relação à renda variável, é impossível estimar a rentabilidade que esses ativos podem oferecer. Mas, com relação aos títulos privados, utilizados para financiar o agronegócio, Petrokas diz que a rentabilidade costuma apresentar taxas acima da renda fixa tradicional. “Uma debênture, por exemplo, pode pagar 120% do CDI”, diz.

Se a debênture for incentivada, há ainda a vantagem do não pagamento de imposto de renda. Além disso, LCAs e CRAs são sempre isentos de pagamento de IR. Portanto, tendem a oferecer uma rentabilidade maior que outros títulos não incentivados.

Nesses casos, uma LCA ou um CRA que pagam menos de 100% do CDI podem ser investimentos mais interessantes do que outros em renda fixa por causa da isenção do IR. O investidor, no entanto, precisa ter em mente que pode ser interessante ficar com os papéis até o vencimento.

Quanto rendem os Fiagros?

Um relatório feito por Itaú BBA e Economatica com dados da B3 e dos fundos e divulgado em outubro aponta que os rendimentos em fiagros chegam a 26% ao ano até o início de outubro de 2023.

Os maiores retornos até então eram do BBGO11 (26%) e do NCRA11 (25,7%). Os dados contemplam o período entre janeiro e a primeira semana de outubro.   

Por outro lado, na lista do Itaú BBA e da Economatica, há fundos que rendem abaixo da inflação, como o FZDA11 (1,4%) e VCRA11 (2,2%).

Para escolher a melhor opção, é preciso observar “o rating de crédito do emissor, o prazo de vencimento, a rentabilidade, a liquidez no mercado secundário, os riscos futuros da empresa e do setor de atuação”.

Ações do agro: perdas e ganhos de mais de 50%

O valor das ações das empresas do agro na bolsa mostrava desempenhos muito discrepantes, podendo render ganhos de 50% em alguns casos e perdas de quase 60% em outros. As cotações utilizadas a seguir respeitam o mesmo período dos índices dos fundos utilizados anteriormente nesta matéria (de janeiro à primeira semana de outubro).

Assim, o índice do agronegócio da bolsa, o IAGRO-FFS apontava alta de 4,02%, abaixo do Ibovespa, que, no período avança 6,67%. Além disso, há desempenhos muito discrepantes entre os diferentes segmentos e players do setor.

Entre os índices setoriais da bolsa, o do agro fica bem atrás de setor que, no PIB brasileiro, tem participação mais discreta, como construção e incorporação, que em 2023 subiu quase 30% na bolsa.

Mesmo o setor de utilities (energia e abastecimento), já bastante consolidado, tem desempenho melhor na bolsa: alta de quase 7%.

Melhores ações de agronegócio no ano (até início de outubro)  

  • São Martinho (SMTO3): +50,74%
  • Três Tentos (TTEN3): +35,43%
  • BRF (BRFS3): +32,85%
  • Boa Safra (SOJA3): +26,18%
  • Jalles Machado (JALL3): +20,17%

Piores ações do agro

  • AgroGalaxy (AGXY3): -58,57%
  • Minerva (BEEF3): -33,47%
  • Terra Santa (LAND3): -23,19%
  • Marfrig (MRFG3): -18,96%
  • JBS (JBSS3): -7,93%

O que falta para o agro na bolsa?

Para Henrique Aguiar, analista da Nova Futura, o agro brasileiro “fez um trabalho excepcional da porteira para dentro em termos de produtividade. Da porteira para fora, o trabalho ainda culturalmente não está tão desenvolvido”. Ele menciona desde a comercialização e distribuição dos produtos até o financiamento das atividades.

Além disso, ele destaca que o próprio mercado de capitais tem problemas para entender o valor do agro. “A referência acaba sendo Chicago na maioria dos casos. O produtor tende a usar a bolsa de lá para fazer hedge (proteção das ações contra volatilidade)”, explica.

Contudo, o desenvolvimento de novos produtos financeiros voltados para o agro tem feito um trabalho de desenvolvimento da cultura de bolsa no setor agro.

“O Brasil tem adquirido gosto (em investir no agro), mas ainda é preciso fazer um trabalho educacional”, diz Aguiar, ao destacar tanto os potenciais que os investidores podem alcançar em termos de lucratividade, quanto em relação às novas fontes de financiamento que os players do setor podem vir a acessar.

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