Instabilidade em período pré-eleitoral “empurra” investidores para o exterior

Migração de brasileiros e remessa para o exterior mostram desilusão com o Brasil
Pontos-chave:
  • Segundo a Anbima, o valor investido no exterior subiu 28,7% em um ano
  • A tendência é o aumento no número de investidores brasileiros que vão para o exterior

O interesse dos brasileiros por investimentos lá fora vem crescendo.

Em parte, pelo aumento da inflação. E também pela instabilidade instalada em ano eleitoral.

Na outra ponta, o movimento dos investidores leva não só a aquisições, como a feita pelo Itaú Unibanco com a corretora Avenue, cuja transação foi anunciada aqui, na Inteligência Financeira neste link, mas também ao lançamento de fundos internacionais para investidores, mesmo aqueles que não são considerados “qualificados”, ou seja, que tenham mais de R$ 1 milhão em investimentos.

Segundo dados da Anbima, o valor investido no exterior subiu 28,7% em novembro de 2021 em relação ao mesmo mês de 2020, chegando ao número recorde de R$ 827,19 bilhões.

Por que os brasileiros investem no exterior?

William Eid, diretor do centro de estudos em finanças da Fundação Getúlio Vargas, afirma que a tendência é de um aumento no número de investidores brasileiros que vão para o exterior.

“O Brasil sempre foi uma economia extremamente fechada. Nosso índice de abertura é muito baixo, mesmo em relação a países da América Latina. O brasileiro só conhece o exterior pelo turismo. Com a maior facilidade de transacionar no exterior, os bancos descobriram esse mundo”, diz Eid.

O movimento é tanto para a proteção do dinheiro de investidores a oscilações do câmbio quanto um reflexo da falta de crença no avanço da economia brasileira.

“A migração dos brasileiros e a remessa de recursos para o exterior mostram uma desilusão forte com o Brasil. Há muitos brasileiros morando em Portugal. As pessoas não conseguem trabalho, não conseguem se encaixar no mercado brasileiro. Além disso, os juros baixos abriram os olhos dos brasileiros para o exterior, mas o brasileiro típico ainda não sabe que pode fazer isso”, afirma Eid.

O que faz a Avenue?

Vejamos o caso da própria Avenue.

A corretora nasceu em 2018 para dar mais acesso aos brasileiros a investimentos nos Estados Unidos.

De lá para cá, a empresa conquistou 600 mil clientes e tem R$ 6 bilhões em ativos sob gestão.

Por que investir fora do Brasil?

O interesse do brasileiro no exterior acontece em um ano em que a taxa de juros e a inflação subiram tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos.

Nos últimos 12 meses, a valorização do dólar perante o real foi de menos de 1%, mas foram registrados picos em que cada dólar custava por volta dos R$ 5,70.

Já nos últimos cinco anos, o dólar subiu 69,7% ante o real. No período, a média da Selic foi de 6,3%, enquanto a média da inflação foi de 5,1%, segundo o Banco Central.

“O real é muito volátil, mas quem está no país não sente tanto isso, porque o dólar não é volátil. Empobrecemos com o dólar na casa dos R$ 5. A grande inflação que temos no Brasil é do dólar, mas isso acaba sendo mascarado. Há uma corrida de investimentos para fora do país para preservar o capital”, diz Roberto Lee, CEO da Avenue.

Para Lee, o brasileiro ainda tem certas restrições aos investimentos fora do Brasil.

Agora, com a chancela de um grande banco, como o Itaú, a visão dos investidores em relação aos ativos no exterior pode impulsionar o mercado.

Para o Itaú, a aquisição da Avenue abre possibilidades de ampliar a carteira de crédito dos investidores. E também oferece uma solução de fácil utilização e que já está enquadrada no contexto regulatório brasileiro.

“A Avenue é pioneira no setor, tem uma solução simples, base de clientes, resultados comprovados e um corpo de profissionais extremamente qualificado, com valores e interesses em comum com os do Itaú. Pretendemos dar mais visibilidade nas plataformas do Itaú para produtos e serviços da Avenue, além de simplificar o acesso para o procedimento de abertura de contas na corretora americana”, afirma Renato Lulia Jacob, diretor de inteligência de mercado e relações com investidores do Itaú Unibanco.

Inicialmente, a Avenue será uma opção de investimento para os clientes Personnalité, que têm R$ 50 mil ou mais investidos no banco, ou gastem R$ 10 mil por mês no cartão.

Avenue de olho nas contas americanas para brasileiros

A Avenue está de olho nas contas americanas para brasileiros, e não apenas em uma solução para levar e gastar dinheiro em viagens internacionais.

Com a conta, o brasileiro terá a proteção de seus ativos pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), agência que garante o saldo das contas, algo semelhante com o que acontece no Brasil com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

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