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Como o investidor estrangeiro está de olho nas eleições 2022
O investidor estrangeiro está atento às eleições no Brasil, na esperança de que o mercado local reaqueça e fique mais propenso para a entrada de capital externo depois do pleito. E o término da disputa eleitoral pode indicar o rumo e a velocidade dessa volta ao “investable” — termo que indica a capacidade do Brasil de absorver capital de fora.
Mas o antônimo, “uninvestable”, é a palavra usada pelo investidor americano James Guldbrandsen, CEO NCH Gestora Brasil — firma que gerencia a entrada de investimentos dos Estados Unidos no mercado brasileiro —, para descrever o status do país diante do cenário internacional. E o Brasil está assim desde 2013, na avaliação de James.
Brasil está “uninvestable”
“O Brasil virou ‘uninvestable’ desde 2013, quando o governo Dilma adotou algumas políticas erradas na Economia e e deu passos em falso. O investidor internacional teve alguns meses de folga após impeachment, em 2016, e após as eleições de 2018. Logo depois ele, e em especial o [investidor] americano, perdeu a esperança no país”, explica James.
Para ele, o investidor internacional começou 2018 esperançoso com as promessas de campanha de Jair Bolsonaro (PL) de uma agenda econômica liberal, com Paulo Guedes à frente como ministro da pasta. Mas ele perdeu a confiança em Bolsonaro porque o mandatário não seguiu essa agenda à risca. O estopim da decepção foi a abordagem com o meio ambiente.
“O Bolsonaro está muito malvisto, especialmente nos EUA, pelos investidores estrangeiros, e principalmente nas áreas de fundos patrimoniais, por causa das controvérsias com a floresta da Amazonia”, diz James.
“Os analistas de investimento, fundações e fundos patrimoniais; todos precisam aproximar seus conselhos de pautas ESG [Environmental, Social and Corporate Governance, na sigla em inglês], hoje em dia, para atender à regulamentação ambiental cada vez mais abrangente. Considerando a importância da ESG, hoje o Brasil é visto pelo mundo como anti-ESG.”
Eleição afeta o investimento estrangeiro?
A eleição pode virar a maré para os investimento estrangeiro, já que mercados nos EUA e na Europa sofrem com aumento da inflação e vivem aumento das taxas de juros básicos, algo não impacta com tanta força os índices brasileiros, atualmente.
Um relatório divulgado no início da semana pelo banco americano Goldman e Sachs mostra que o Ibovespa se valorizou 7,5% entre setembro de 2022 e o mesmo período de 2021. Em meio ao desempenho ruim do S&P e a desvalorização de 14% do índice em um mês, a bolsa brasileira teve oscilação negativa de apenas 1%.
Já em documento compartilhado a acionistas nesta sexta-feira (30), o banco ressalta que o Real é uma das moedas que mais “resilientes” em mercados emergentes neste ano, evidenciando os bons ventos que podem carregar a moeda a uma valorização ainda maior. O Goldman Sachs destaca que o BRL tem valorização superior, ainda que de forma modesta, ao dólar americano.
A expectativa, diz a instituição, é de que o Banco Central continue sua política de combate à inflação, mas que os juros comecem a baixar por volta do segundo ou, possivelmente, no terceiro trimestre. Em combinação com a perspectiva de queda da inflação, o Goldman diz que “rendimentos reais podem aumentar no Brasil”.
Há um porém: o banco americano diz que a maioria de seus investidores ainda não está disposta a se aventurar com alocações de longo prazo nos índices brasileiros por causa das eleições. “À frente do primeiro turno no domingo (2 de outubro), nossa visão é de que uma eleição acirrada pode trazer o maior risco de cauda para o Real”. Isso quer dizer que, a depender do resultado do primeiro turno, a moeda pode ter uma desvalorização forte no curto prazo.
“Dado que a expectativa eleitoral de votos está estável há meses e tem indicado uma vantagem ainda mais ampla do líder nas pesquisa nos últimos dias, um resultado neste final de semana que valida esse cenário e traga uma conclusão menos turva das eleições poderia encorajar investidores a olharem além da incerteza gerada pela disputa eleitoral”, descreve o Goldman Sachs.
Investidores podem voltar a apostar em títulos atrelados ao Real após as eleições, com expectativas de capturarem um prêmio de risco de mais de 20%, diz o banco.
Brasil tem fuga de capital estrangeiro em fundos de ações
Outro relatório, do Bank of America (BofA), aponta uma fuga de capital estrangeiro contínua nos últimos três meses, com fluxo equivalente a R$ 1,5 bilhão deixando fundos de ações brasileiros durante a primeira semana de setembro.
Em média, a evasão de capital estrangeiro para fundos no Brasil, calcula o banco, foi de R$ 1,5 bilhão por semana no segundo semestre, ante R$ 2 bilhões no mesmo período de 2021.
Como o investidor de fora olha para Lula?
Há um potencial da volta dos investidores estrangeiros ao Brasil. Sair do “uninvestable” ao “investable”, no entanto, pode demorar até 2023, e fica mais fácil com a eleição de Lula.
O CEO da NCH Capital explica que a maioria dos investidores institucionais nos Estados Unidos que são parceiros da firma está disposta voltar a investir no Brasil após a vitória do petista. Nesse cenário, a janela de investimento que dá entrada do dinheiro americano ao país pode reabrir, afirma James. Mas uma eventual vitória da chapa Lula-Alckmin direto no primeiro turno também pode trazer mais volatilidade à B3, ele reconhece.
“Apesar da volatilidade, com Lula eleito, essa questão do Brasil ser ‘uninvestable’ provavelmente termina”, afirma James. A concretização de um nome liberal para comandar o Ministério da Economia no terceiro mandato, como o de Henrique Meirelles ou Marcos Lisboa, seria um grande respiro de alívio para os estrangeiros — um sinal de que Lula terá alguém mais ortodoxo como maestro das políticas fiscais.
“Lula tem que ter uma postura sempre à direita. Infelizmente o Brasil gasta bem mais do que ganha, criando problemas fiscais e que tendem a ser maiores nos governos de esquerda. Se o ex-presidente colocar um time esquerdista na economia, o estrangeiro não volta a investir, porque ele tende a não alocar câmbio na bolsa brasileira”, diz James.
A mesma aversão ao risco país pode ocorrer, diz ele, se as regras e normas fiscais, como o teto de gastos, forem desrespeitadas. Guldbrandsen cita que isso também levou à perda de confiança em Bolsonaro.
Investidor estrangeiro confia no Bolsonaro?
Caso o atual presidente seja bem-sucedido em sua campanha de reeleição, James Guldbrandsen conta que o investidor já se decepcionou bastante com as promessas de campanha do ex-capitão do exército versus o que foi seguido durante o mandato. Paulo Guedes deve retornar como ministro da economia, e há esperanças de que o governo Bolsonaro teria uma nova oportunidade de reconquistar o investimento estrangeiro em um segundo mandato. Para isso, o presidente teria que se render mais à agenda ESG.
Independente do mandato, a demanda pelo real não tem sido muito alta porque as eleições assombram os investidores com incerteza. O antídoto, nesse caso, seria uma economia liberal, afirma James.
“A moeda vai ser bem demandada se a economia for gerida de uma forma liberal, que respeita gastos, arrecadação, normas fiscais. Caso contrário, podemos ver uma disparada do dólar para R$ 8, talvez até R$ 9”, diz o americano.
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