Veja como as altas de juros nos EUA e no Brasil afetam o investidor brasileiro

Juros mais altos tornam o crédito mais caro, a renda fixa mais atraente e a Bolsa e o dólar podem ficar mais voláteis

Com a Selic já em dois dígitos desde o início do ano e em território significativamente contracionista, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta semana para entregar um novo aumento nos juros. O consenso do mercado aponta para uma alta de 0,5 ponto percentual, o que levaria a taxa básica para 13,25%.

Nos EUA, a perspectiva é que o Fed será obrigado a acelerar as altas dos juros para conter a disparada dos preços. O BC americano havia dado sinalizações bem claras de que pretende elevar os juros em 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões de política monetária, de junho e julho, deixando a especulação apenas para a decisão de setembro. O dado de inflação, no entanto, alimenta temores de uma aceleração mais próxima, já em julho.

Como esses aumentos  podem afetar a economia brasileira?

No Brasil, juros mais altos tornam o crédito mais caro. E isso inibe o consumo – com menos consumidores indo às compras, a tendência é de os preços baixarem, ou subirem menos, reduzindo assim a inflação.

Nos investimentos, com juros baixos, como o Brasil vivia até fevereiro de 2021 (Selic na casa dos 2%), há um estímulo para se aplicar no setor produtivo. Isso pode ser visto na Bolsa, que bateu recordes de atração de novos investidores.

Com os juros nas alturas, o investidor pessoa física tende a adotar uma atitude de menor risco e vai para a renda fixa. Por que se arriscar em colocar o dinheiro em uma empresa, via ações, se o Tesouro Direto, só como exemplo, garante um pagamento de mais de 5% ao ano acima da inflação?

E como a alta dos juros afeta o investidor de Bolsa no Brasil?

Com a alta dos juros nos EUA, e os efeitos já são sentidos na Bolsa de São Paulo, a B3. Para analistas, será difícil evitar a perda de capitais para os EUA.

Em abril, pela primeira vez no ano, o fluxo de investimentos estrangeiros para a Bolsa brasileira ficou negativo, indicando a fuga de capitais do país com destino aos EUA, onde os títulos públicos americanos (chamados Treasuries), considerados os mais seguros do mundo, estão rendendo mais com a alta dos juros.

Para analistas, a intensidade do aperto monetário nos EUA deve ser o fator decisivo sobre a direção e a intensidade dos investimentos estrangeiros no Brasil, uma economia em desenvolvimento.

Por que capitais fluem para os EUA?

Geralmente a alta dos juros nos EUA drena capitais que estão em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. O apetite por risco cai diante de maior perspectiva de ganhos nos EUA. Soma-se a isso as crescentes incertezas na China, que enfrenta novos surtos de Covid com impacto na atividade econômica.

Com o aumento dos juros nos EUA, os títulos do Tesouro americano, os tais Treasuries, passam a pagar mais aos investidores, a tendência é todo o mundo correr para lá. E isso retira dinheiro dos emergentes, Brasil incluído – onde o risco do investimento é muito maior.

Nesta semana, o rendimento do título americano de dez anos, observado de perto pelos agentes de mercado, chegou próximo ao patamar de 3% ao ano, algo que não ocorria desde 2018.

Portanto, para atrair recursos do exterior, os bancos centrais dos emergentes precisam oferecer taxas de juros cada vez mais altas, o que acaba deprimindo a economia.

O dinheiro vindo de fora também tem o efeito de valorizar a cotação do dólar em relação ao real. E isso pode elevar a inflação, já que os produtos importados ficam mais caros.

No Brasil, com a alta dos juros, como ficam as taxas dos empréstimos?

A Selic é a taxa básica para o cálculo da taxa de juros dos empréstimos e outras operações. Portanto, é esperado um aumento das taxas que são cobradas no momento de realizar qualquer operação de crédito.

No entanto, as taxas de juros das operações de crédito não mudam na mesma proporção que a Selic. Alguns bancos, por exemplo, não mudaram em abril suas taxas, ainda que o Banco Central tenha elevado a Selic em março.

Isto foi constatado pelo Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor da Fundação Procon de São Paulo. Nos primeiros dias de abril, o Procon fez uma pesquisa para coletar dados em relação às taxas de juros dos empréstimos pessoais e do cheque especial cobradas aos clientes pessoa física.

Foram considerados seis bancos: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú, Safra e Santander. As taxas máximas pré-fixadas coletadas são das operações contratadas por qualquer canal (agência, aplicativo, caixa eletrônico) por clientes não preferenciais. A pesquisa considera o juro do crédito pessoal para um período de 12 meses. No caso do cheque especial, o período é de 30 dias.

De acordo com a pesquisa, a taxa média dos créditos pessoais teve uma variação positiva de 1,04%, chegando a 6,77% ao mês. Um aumento de 0,07 ponto percentual em relação ao mês de março, que foi de 6,70%.

Entre os bancos listados, o que fez o maior aumento foi o Banco do Brasil. O juro médio passou de 5,9% para 6,17% ao mês, isto é, uma variação positiva de 3,01%. Com uma variação positiva bem menor, de 2,06%, segue o Bradesco, que passou de cobrar taxas de 8,26% em março para 8,43% em abril. O Itaú teve uma alteração de apenas 0,99%, a taxa passou de 8,10% ao mês para 8,18% a.m. Os demais bancos não mostraram alterações na taxa média praticada.

Confira a taxa média mensal de cada banco

  • Caixa Econômica Federal: 4,05%
  • Safra: 5,90%
  • Banco do Brasil: 6,17%
  • Santander: 7,89%
  • Itaú: 8,18%
  • Bradesco: 8,43%

E como fica o juro do cheque especial?

As taxas permaneceram iguais, mas são altas. De acordo com a Resolução nº 4.765, publicada no dia 27 de novembro de 2019, nenhuma instituição financeira pode cobrar uma taxa de juros do cheque especial para pessoa física superior aos 8% ao mês.

Esta medida é cumprida nestas instituições financeiras, mas a taxa média cobrada está em um valor bem próximo ao limite. Em abril, a média ficou em 7,96% ao mês. Valor no qual está estacionado desde fevereiro de 2021.

Confira a taxa média mensal do cheque especial

  • Banco do Brasil: 7,73%
  • Bradesco: 8,00%
  • Caixa Econômica Federal: 8,00%
  • Itaú: 8,00%
  • Safra: 8,00%
  • Santander: 8,00%

Mesmo sem o aumento das taxas cobradas no cheque especial e com o leve aumento das taxas dos empréstimos, é conveniente não utilizar o cheque especial. Isto porque ao comparar com outras operações de crédito as taxas cobradas no cheque especial são muito altas, além disso o prazo de pagamento é mais curto.