Onde investem os ministros de Lula? (Spoiler: eles são conservadores)

A maioria está na renda fixa, e um deles, pasme, deixa dinheiro na conta corrente

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva posa para foto com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, em Brasília. Foto: Adriano Machado/Reuters
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva posa para foto com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, em Brasília. Foto: Adriano Machado/Reuters

Ao apagar das luzes de 2022, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou, enfim, a totalidade de seus 37 ministros, que agora compõem o novo governo.

A Inteligência Financeira levantou onde e quanto investem os novos líderes das pastas, com base nos dados públicos do Tribunal Superior Eleitoral, que incluem nomes que disputaram as últimas eleições.

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Renda fixa, poupança e previdência privada são os favoritos dos novos executivos da Esplanada. Alguns, no entanto, aplicam em fundos de renda variável, com ações do Banco do Brasil, Petrobras e Vale.

Já os cálculos dos rendimentos foram feitos a partir da lista de fundos da Anbima (Associação Brasileira de Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais) e da calculadora do Banco Central.

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Confira a seguir no que aplicam e quanto rendem os ativos dos ministros de Lula.

Fernando Haddad, Ministro da Fazenda: fundos de investimento

Escolhido para o Ministério da Fazenda, Fernando Haddad é um dos mais cotados para suceder a Lula em 2026. Entre as quatro pastas oriundas do antigo Ministério da Economia, que foi fatiado, Haddad ocupa o holofote na condução da economia no governo petista.

Mas onde investe o ministro? De acordo com os dados disponíveis no TSE, Haddad coloca seu dinheiro somente em renda fixa a partir de dois fundos de investimento do Banco do Brasil.

Em julho, o ex-prefeito de São Paulo declarou uma aplicação no fundo BB Renda Fixa LP Prefixado. Este fundo tem valor a partir da aquisição de cotas de outros FIs que investem em títulos da dívida pública ou em papéis de crédito privado prefixados de baixo risco.

Como Haddad declarou um investimento de R$ 28.337,78 no fundo do BB em julho para as eleições de 2022, usando dados de fundos da Anbima, ele teve um rendimento nominal de R$ 1.578,41 até o final de dezembro.

Ao mesmo tempo, Haddad investe em outro fundo, o BB Renda Fixa Referenciado DI Plus Ágil. Este FI é composto 60% por títulos do Tesouro Selic e atrela os investimentos às taxas de juros e DI.

Se a quantia declarada por Haddad em julho foi de R$ 153.235,25 investidos, sem retirar nem um centavo do fundo, o rendimento nominal foi de R$ 8.933,61 até o fim do ano, de acordo com a Anbima.

Geraldo Alckmin, vice-presidente e Ministro da Indústria e Comércio: renda fixa e VGBL

O vice-presidente e também ministro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) é o que mais investe em previdência. Por outro lado, ele é mais discreto nos investimentos.

Enquanto Haddad investe mais de R$ 180 mil em fundos de renda fixa, o vice está mais preocupado com seu plano de previdência privada, com R$ 316.023,04 em VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), aplicação declarada ao TSE em julho de 2022.

Não fica claro o banco ou tipo de fundo em que o vice-presidente investe em previdência, mas ele é disparado o ministro de Lula que mais tem aplicado na modalidade.

Além do investimento em VGBL, Alckmin é o ministro campeão em aplicação em Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios, os famosos FIDCs. O ex-governador de São Paulo tem R$172.025,83 de patrimônio em um desses fundos, cujo rendimento é definido pelos recebíveis de uma empresa.

O mais interessante é que, segundo as regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), para investir em um FIDC, Alckmin precisa ser ou um investidor qualificado, com R$ 1 milhão ou mais em aplicações, ou profissional, alocando pelo menos R$ 10 milhões no mercado de capitais.

Wellington Dias, Ministro do Desenvolvimento Social: fundos e poupança

Wellington Dias, ex-governador e senador eleito pelo PT do Piauí, foi um dos principais articuladores do governo para a aprovação da PEC de Transição, medida para tornar a despesa do Auxílio Brasil de R$ 600 fora do Teto de Gastos, além do adicional de R$ 150 por filhos de 6 anos ou menos.

Naturalmente, ele foi indicado para o ministério que cuidará do principal benefício social do governo Lula, o Bolsa Família.

Dias tem R$ 36.306,43 em um fundo de investimento e R$ 3.390,47 na caderneta de poupança da Caixa Econômica Federal. Com a Selic a 13,75% ao ano, o rendimento bruto (sem a inflação) da poupança entre julho e o fim de dezembro é de 3,43%, de acordo com a calculadora do Banco Central. Isso significa que o patrimônio do piauiense investido na poupança cresceu nominalmente R$ 3.506,94.

Wellington Dias ainda tem uma conta corrente no BB cujo rendimento é o mesmo do fundo em que Haddad investe, o Plus Ágil.

Essa é uma boa dica para o investidor: mesmo fora de um fundo, a maioria dos grandes bancos oferece uma opção de rendimento em renda fixa dentro da conta corrente. Por fim, o senador tem R$120.000,00 aplicados em VLGB (previdência privada).

Flávio Dino, Ministro da Justiça e Segurança: ações

É o que menos investe em ações. O patrimônio do senador eleito pelo PSB no Maranhão consta uma cota de ações cujo valor é R$ 824,24. O curioso é que, quando Dino se candidatou ao governo do Estado em 2018, disse à Justiça Eleitoral que tinha R$ 824,20 em ações.

Além de seu investimento em ações, Dino tem R$ 43.931,12 investidos na previdência privada.

Camilo Santana, Ministro da Educação: renda fixa

O ex-governador e senador do PT cearense gosta de renda fixa. Consta no patrimônio de Camilo Santana que ele tem quatro investimentos diferentes em renda fixa. Não há detalhes de qual fundo, tipo ou rendimento. No entanto, o montante de todas as aplicações somado é de R$ 401.819,61. Ele é o ministro de Lula que mais investe em renda fixa.

Em 2018, quando candidato ao governo do Ceará, Santana tinha R$ 100 mil investidos na previdência privada, aplicação que zerou conforme dados apresentados ao TSE em 2022.

Rui Costa, Ministro da Casa Civil: ações

O ex-governador da Bahia já investiu em small caps. Principal articulador do governo Lula, chefiando a Casa Civil, Rui Costa (PT-BA) é um investidor com apetite para risco. Apesar de não ter disputado cargo nas últimas eleições gerais, em 2018 ele enviou uma lista de bens e patrimônios ao TSE como candidato ao governo baiano.

Costa investia, a época, R$ 4 mil no fundo BB Ações BB, com foco na compra de ações ordinárias emitidas pelo Banco do Brasil (BBAS3). O FI de renda variável é recomendado para quem procura rendimento a longo prazo. De acordo com os dados da Anbima, a aplicação de Rui Costa em 2018 ganhou R$ 1.635 em valor até dezembro de 2022.

Também por fundos do BB Asset, Costa investiu R$ 5 mil em ações da mineradora Vale (VALE3) e mais R$ 8 mil em ações da Petrobras (PETR3;PETR4). Dados sobre o rendimento anual desses fundos, desde 2018, mostram que Rui Costa mais do que dobrou seu patrimônio em ações da Vale, em aproximadamente 120%, enquanto recebeu R$ 14.132 de rendimento pelo FI de ações da Petrobras.

Mas a posição mais arriscada de Costa é no investimento em small caps. O chefe da Casa Civil tinha R$ 4 mil investidos no fundo BB Ações Small Caps. Infelizmente, para Costa, o rendimento não foi tão alto nesse investimento quanto nos outros — o político ganhou apenas R$ 600 desde 2018.

Luiz Marinho, Ministro do Trabalho: CDB e RDB

O ex-deputado e ex-prefeito de São Bernardo do Campo (SP) investe mais em CDB ou RDB, os Recibos de Depósitos Bancários.

RDBs são títulos de renda fixa emitidos por bancos comerciais ou instituições financeiras para captar recursos. Eles são parecidos com os CDBs, diferentes na liquidez: os RDBs só podem ser resgatados no vencimento. Ministro do Trabalho de Lula, de acordo com o TSE, Marinho, que concorreu a deputado federal por São Paulo neste ano, tem R$ 146.551,80 investidos nesse tipo de título.

Considerando um RDB ou um CDB que rendem a 100% do CDI ao ano, ou seja 13,65%, Marinho pode ter aumentado seu patrimônio para R$ 155.851,64 entre julho e dezembro. Claro, o CDB e o RDB são títulos pós-fixados e que variam de acordo com o índice a que estão atrelados, o que não foi divulgado neste caso.

Além do CDB e RDB, Luiz Marinho (PT-SP) tem R$ 15 mil em ações da Petrobras e R$ 3.141,55 em ações da Vale. Por fim, ele apresentou ao TSE um patrimônio de R$ 197,23 em poupança.

Márcio França, Ministro de Portos e Aeroportos: em espécie e na conta corrente

Márcio França (PSB-SP) tentou ser senador por São Paulo nas últimas eleições. Não conseguiu, mas seu apoio a Lula, e um acordo com Haddad para o governo de São Paulo, lançou o ex-candidato para o Ministério de Portos e Aeroportos.

Na sua última lista patrimonial enviada ao TSE, França não declarou ações ou cotas em fundos. Na verdade, ele diz que tem R$ 18.665,80 em uma conta corrente do Banco do Brasil, que rende conforme a renda fixa em títulos do CDI.

Márcio Macedo, Ministro da Secretaria-Geral da Presidência: bolsa norte-americana

Maior surpresa entre os ministros de Lula que investem. O deputado federal por Sergipe e ex-tesoureiro do PT é o único que arrisca aplicar com rendimento atrelado à bolsa norte-americana.

Com uma alocação de R$ 25 mil no fundo BB Ações Bolsa Americana FIA, Macedo busca rentabilidade a partir da indexação máxima de pelo menos 20% do patrimônio líquido do fundo no índice americano S&P500.

Entre julho e dezembro, segundo dados da Anbima, a rentabilidade do fundo do BB em bolsa americana foi de 4,64%. Ou seja, calculando quanto a aplicação rendeu a Macedo, o rendimento nominal é de R$ 1.160.

Além do ativo atrelado à bolsa americana, Macedo também tem R$ 100 mil investidos no fundo multimercado Juros e Moedas, do BB. Dados da Anbima apontam para um rendimento nominal de R$ 5.580 da aplicação inicial entre julho e dezembro.

Outro FI no qual Márcio Macedo investe é o BB Renda Fixa LP High. O objetivo deste fundo, segundo o banco, é manter pelo menos 80% do patrimônio líquido do investidor relacionado à variação da Selic visando o longo prazo. Para isso, a carteira é composta majoritariamente por títulos do Tesouro Direto e por operações compromissadas.

A partir do investimento de R$ 60.020,86 feito em julho, o futuro ministro teve rendimento nominal de R$ 2.520,93.

Ainda na renda fixa, Márcio Macedo tem mais R$ 48.004,24 em aplicações no Banco do Brasil somado a R$ 50 mil em títulos LCA pós-fixada no CDI. Por fim, ele apresentou ao TSE mais R$ 35.634,27 na caderneta de poupança. De julho para dezembro, esse dinheiro na caderneta rendeu algo em torno de R$ 1.225.

Renan Filho, Ministro dos Transportes: CDB

Ex-governador de Alagoas por dois mandatos e senador eleito pelo MDB é o novo ministro de Lula na pasta de Transportes.

Ele é o recordista do grupos em investimentos em CDBs, e declarou a aplicação de R$ 349.257,85 em renda fixa em um CDB do Banco do Brasil, BB Automático Estilo, além de duas quotas de R$ 17.089,10 de outros CDBs do BB, o BB CDB-RF REF-DI Plus Agil e o BB CDB DI RF Simples. Renan declarou também R$ 43.530 em outros investimentos e R$ 23.177 em uma conta corrente.

Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente: poupança e renda fixa

Deputada federal eleita por São Paulo e também ministra do Meio Ambiente no primeiro governo Lula, Marina declarou ter R$ 458,26 em uma poupança, R$ 681,87 em aplicações de renda fixa e R$ 12.322 em VGBL.

Paulo Pimenta, Ministro da Secretaria de Comunicação Social: CDB e RDB

Deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul. Está na vida pública desde 1988 e, conforme o TSE, declarou em 2022 ter R$ 10.389 em CDBs e RDBs.

A calculadora do BC mostra que, entre julho e o fim de dezembro, o patrimônio do gaúcho na aplicação aumentou 6,61%, em R$ 687,35.

Juscelino Filho, Ministro das Comunicações: fundo de ações

Deputado federal eleito para o terceiro mandato, entrou na cota do União Brasil, declarou patrimônio total de R$ 4,457 milhões, sendo R$ 350 mil em quota do fundo de ações Capital MMF.

Daniela do Waguinho, Ministra do Turismo: fundo de investimento

Daniela foi eleita deputada federal pelo União Brasil do Rio de Janeiro, e é esposa do prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho. Eles foram importantes cabos eleitorais de Lula na Baixada Fluminense.

Ela declarou ao TSE ter uma aplicação no Banco do Brasil de R$ 213 mil no fundo BB Automático Mais, outra cota de R$ 139 mil no RF DI Plus Ágil, também do Banco do Brasil, R$ 200 mil em créditos a receber e R$ 180 mil em dinheiro vivo.

Alexandre Silveira, Ministro das Minas e Energia: renda fixa

Alexandre Silveira (PSD-MG) é senador desde 2022, sendo suplente de Antonio Anastasia, que saiu do cargo após ganhar uma cadeira como ministro no Tribunal de Contas da União (TCU).

Silveira, que foi presidente do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes) no primeiro governo Lula, declarou quatro aplicações em renda fixa, uma de R$ 49 mil, outra de R$ 8.500, R$ 5 mil e R$ 19.800.

O senador também declarou ter R$ 2,6 milhões em créditos decorrentes de empréstimos a terceiros, além de R$ 426 mil depositados em contas correntes, R$ 90 mil em dinheiro em espécie e R$ 843 mil em ações de empresa não especificada.

Alexandre Padilha, Luciana Santos e Simone Tebet

De acordo com dados mais recentes do Divulga Candidatos, do TSE, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e a titular do Ministério do Planejamento, Simone Tebet (MDB), não possuem investimentos em ações, fundos ou títulos da renda fixa.

Sônia Guajajara, ministra de Lula na nova pasta de Povos Originários, também não possui investimentos.

Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, possui apenas R$ 240 declarados na poupança, como mostram dados do TSE.

Sem dados públicos

Alguns ministros do governo Lula não concorreram a cargos públicos 2022. Portanto, seus investimentos não constam reunidos em uma página do TSE para consulta. São eles:

  • Ana Moser: Esporte
  • Anielle Franco: Igualdade Racial
  • Carlos Fávaro: Agricultura
  • Carlos Lupi: Previdência Social
  • Cida Gonçalves: Mulher
  • Esther Dweck: Gestão
  • General Gonçalves Dias: Gabinete de Segurança Institucional
  • Jader Filho: Cidades
  • Jorge Messias: Advocacia Geral da União (AGU)
  • José Múcio Monteiro: Defesa
  • Mauro Vieira: Relações Exteriores
  • Margareth Menezes: Cultura
  • Nísia Trindade: Saúde
  • Sílvio Almeida: Direitos Humanos
  • Vinicius de Carvalho: Controladoria-Geral da União (CGU)
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