Juros devem cair em 2024 com queda da inflação: mito ou verdade?

Especialistas preveem queda da inflação e dos juros em 2024, mas a resposta final será dada pelo Banco Central a cada 45 dias

Duas das grandes expectativas na economia para 2024 são: 1. se teremos queda da inflação e 2. se teremos novas quedas dos juros. Portanto, preços subindo mais devagar e a taxa Selic, que é a referência para os juros da economia, mais baixa. A Selic encerra 2023 em 11,75% ao ano.

Economistas se esforçam em previsões considerando diversos fatores, entre eles a situação das contas públicas do Brasil, o cenário político e econômico internacional e a atividade econômica. Fatores que também são levados em conta nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne a cada 45 dias.

Mas teremos mesmo a queda da inflação e a queda dos juros em 2024? O que podemos esperar? Desde já, te adianto é que os economistas preveem que sim, teremos. No entanto, como vai cair, quanto vai cair e quando vai cair são respostas que todos buscam e há diferentes respostas.

Qual a relação entre a taxa de juros e a queda da inflação?

Primeiramente, você deve entender a relação entre as duas coisas. O Banco Central tem como a sua principal razão de existir manter a inflação sob controle, garantindo a estabilidade dos preços e o poder de compra da moeda. Para tanto, ele tem a taxa Selic, a taxa básica de juros, como seu principal instrumento.

Não é necessariamente buscar a queda da inflação, mas garantir que o aumento dos preços fique dentro do intervalo previsto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para 2024, o CMN estabeleceu como meta uma inflação de 3% ao ano, tendo uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Ou seja, o Banco Central deve usar a Selic para que a inflação não esteja nem abaixo de 1,50% nem acima de 4,50%.

Se a inflação estiver baixa demais, a Selic cai e o crédito tende a se tornar mais acessível, já que os bancos, acompanhando o movimento, diminuem os juros. Em paralelo, a inflação tende a subir.

Por outro lado, se a inflação estiver alta demais, a Selic sobe e os juros em geral ficam mais altos. Como consequência, o consumo diminui e ​​os preços tendem a baixar ou ficar mais estáveis.

Teremos queda da inflação e dos juros em 2024?

Pelas previsões atuais, sim. A cada semana, o Banco Central divulga o Boletim Focus, com as expectativas do mercado para a inflação, os juros, o câmbio e mais.

Trata-se de um agregado de projeções feitas por cerca de 140 instituições, como bancos, gestoras de recursos, empresas não-financeiras, consultorias, associações de classe e até universidades.

Pela edição mais recente do Focus, de 26 de dezembro, o mercado encerra 2023 com a perspectiva de quedas em 2024 tanto na inflação quanto nos juros.

De acordo com o boletim, o mercado estima que a IPCA termine o próximo ano em 3,91%. Portanto, dentro da meta e abaixo do patamar atual — em novembro, o principal índice de inflação acumulava alta de 4,68% em 12 meses

Já para a Selic a estimativa também é de queda. O Focus projeta que a taxa básica de juros vá terminar 2024 em 9% ao ano, contra os atuais 11,75%.

No entanto, algo importante. Essa é a previsão dos economistas. A resposta verdadeira se os juros vão cair em 2024 e quanto eles irão cair será dada a cada 45 dias, quando o Copom do Banco Central se reúne para analisar o cenário e definir a Selic que valerá até a reunião seguinte.

O que acontece quando os juros caem?

Em entrevista recente à Inteligência Financeira, Gustavo Cruz, economista-chefe da RB Investimentos, afirmou que os efeitos da diminuição da taxa de juros serão percebidos mais no médio e no longo prazo.

No entanto, já é possível citar alguns efeitos esperados para o seu bolso caso os juros caiam e se mantenham em um patamar mais baixo. O principal deles é uma redução no custo do crédito.

Quando a Selic está em patamares elevados, a tendência é que os empréstimos e financiamentos fiquem mais caros. Por outro lado, quando a taxa diminui, os juros do crédito ficam mais baratos.

Isso é algo que pode incentivar o consumo. “Muito porque você começa a ver financiamentos mais baratos em automóveis e imóveis, por exemplo. Nas compras de eletrodomésticos, as parcelas começam a ficar mais fáceis de se colocar no orçamento doméstico, então, isso também é um benefício”, afirmou Gustavo Cruz, na mesma entrevista.

Efeito dos juros mais baixos nos investimentos

A queda dos juros tem um impacto direto em parte dos investimentos de renda fixa. Investimentos que acompanhem a Selic ou o CDI passam a render um pouco menos quando a taxa básica de juros cai. Por exemplo, o Tesouro Selic e os CDBs que seguem o CDI.

Já na tradicional poupança, a conta é um pouco mais complexa. Enquanto a Selic estiver acima de 8,50% ao ano nada muda, a caderneta seguirá rendendo 0,50% mais a taxa referencial (TR) por mês. Por outro lado, se a Selic ficar abaixo desse patamar, a poupança rende 70% da taxa básica de juros mais a TR.

Dessa maneira, é por isso que parte dos investidores muitas vezes migram parte da sua carteira produtos tradicionais de renda fixa para ativos de maior risco quando a Selic cai. Assim, aceitam um pouco mais de risco em nome de manter a rentabilidade.

Reportagem da Inteligência Financeira ouviu especialistas para investigar se a renda fixa seguirá valendo a pena em 2024, mesmo com a queda da Selic. E a resposta é que sim, principalmente para a parte do seu capital que você quer ver protegida ao máximo de riscos, como a reserva de emergência.