Inflação para maio reforça que queda da Selic pode estar mais próxima, avalia mercado

Mercado deve reagir bem a dados de inflação em maio com foco em discussão sobre corte de juros pelo Banco Central

A surpresa positiva trazida pelo resultado da inflação para maio, o IPCA, transmite uma mensagem ao mercado financeiro: o Banco Central pode baixar a Selic mais cedo do que o esperado, já na reunião do Copom em setembro. O índice ficou em alta de 0,23% no mês passado, abaixo do consenso da Faria Lima de 0,33%.

O mercado deve reagir positivamente aos dados, segundo economistas e analistas ouvidos pela reportagem. A expectativa é de uma queda na inflação ainda maior em junho, abrindo caminho para que o BC considere a possibilidade de baixar a Selic nos próximos comunicados. Mas isso não é consenso. Para o Itaú BBA, o núcleo de serviços e indústria do IPCA continua resistente, e o BC só deve cortar a Selic em novembro.

Por que a inflação de maio surpreendeu o mercado?

O mercado acordou de bom humor com os dados de inflação de maio. A principal surpresa foi a deflação no setor de alimentos repassada para o consumidor. A variação foi de 0% no setor de alimentação e domicílios, um dos mais resistentes às pressões desinflacionarias, segundo economistas.

A queda no preço dos produtores já estava sendo observada pelo mercado, afirma Laiz Carvalho, economista do BNP Paribas para o Brasil. “Mas isso estava demorando para ser repassado para o consumidor. Mas vimos isso agora no IPCA de maio, e bem abaixo do que estávamos esperando”, diz Laiz.

Para a economista, isso deve impactar positivamente a inflação nos próximos meses. “Devemos ter preços de alimentos caindo bastante nos próximos resultados do IPCA”.

Já a deflação em transportes era aguardada pelo mercado, justamente pelos cortes no preço dos combustíveis realizados pela Petrobras recentemente. O setor teve variação negativa de 0,57%, com destaque para o recuo em passagens aéreas dentro da cesta, 17,73%.

Os núcleos do IPCA e do setor de Serviços também tiveram viés positivo, destaca a economista do BNP Paribas.

Itaú BBA vê inflação em serviços persistente

Já para a economista do Itaú BBA, Luciana Rabelo, a surpresa foi especialmente com a desinflação da gasolina, de 1,82%. Contudo, a surpresa do mercado foi com itens chamados de ‘ex-core’, que não fazem parte do núcleo do IPCA.

A inflação em serviços continua persistente, levando ao núcleo da inflação que apura preços no setor e da indústria (IPCA EX3) a um agregado de 6% em maio.

“Na parte dos serviços, tivemos uma inflação bem em linha com expectativas, enquanto no setor da indústria a inflação veio mais forte do que o esperado”, afirma Luciana. A alta foi impulsionada pelo preço do perfume, mas não deve persistir porque o item é muito volátil, diz a economista.

BC deve baixar juros após surpresa da inflação em maio?

Para Rafael Sueshi, a surpresa na inflação de maio acompanha os resultados positivos do IPCA nos últimos meses e intensifica discussões do BC para cortar a Selic. “Estamos faz bastante tempo no patamar de 13,75% na taxa de juros, mas estamos, ao mesmo tempo, colhendo resultados positivos mês após mês”, diz o head de Renda Fixa da Manchester Investimentos.

De acordo com ele, a partir do IPCA de maio, vale “acompanhar de perto as próximas comunicações do BC”, a espera da postura adotada pela autoridade monetária.

Darwin Dib, economista da Gauss Capital, faz coro a Sueshi sobre cortes na taxas de juros.

“O resultado de hoje corrobora a recente tendência dos índices de inflação surpreenderem para baixo as expectativas do mercado, abrindo caminho para uma nova rodada das taxas de juros de mercado, em especial para prazos mais longos”.

A Gauss está mais otimista em relação a este ano do que o resto do mercado financeiro, diz Darwin.

Apesar do entusiasmo, o cenário traçado pela corretora ASA Investments é de um corte na Selic apenas no começo de 2024, com riscos de inflação ainda equilibrados no segundo semestre.

“Por outro lado, a inflação corrente mais baixa com algum sinal de desaceleração dos núcleos traz risco para essa projeção, com a possibilidade do BC antecipar o corte para o final de 2023”, diz Leonardo Costa, economista da ASA. Em contrapartida, os núcleos do IPCA avançaram nos últimos meses e caíram somente em maio, complementa.

Como o IPCA deve se comportar nos próximos meses?

O processo de desinflação analisado em maio deve continuar em junho, segundo Luciana Rabelo, economista do Itaú BBA. Para ela, o IPCA em 12 meses deve atingir mínima de 3,4% a 3,5% neste mês. A inflação de maio traz viés baixista às projeções anuais do banco de investimentos.

Mas a inflação deve acelerar a partir de julho, com a volta da cobrança total da alíquota do PIS/Cofins sobre os combustíveis.

A inflação em alimentos deve continuar baixa pelo restante do ano, devido à queda no preço de commodities e desaceleração no agronegócio.

A XP também tem viés inclinado para baixo no IPCA de junho. Alexandre Maluf, economista da corretora, ressalta inclusive a possibilidade de deflação. “Não ficaríamos surpresos com uma deflação. Vale ressaltar que não acreditamos na redução no preço da gasolina nos próximos meses”. Até o momento, a XP mantém a projeção de 5,4% para a inflação de 2023.

Para 2023, o Itaú BBA revisou a expectativas de inflação em 0,1 ponto percentual, saindo de 6,1% para 6%. Já para 2024, o banco espera um IPCA de 4,5% — não houve alterações com o resultado de maio.

Por fim, para o Itaú BBA, a inflação de maio não alterou projeções para cortes na Selic. O banco estima que o Copom baixe os juros apenas nas últimas duas reuniões do ano, em novembro e em dezembro, finalizando 2023 no patamar de 12,50%.

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