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Como a eventual alta de juros nos EUA pode impactar seus investimentos
O juro perto de zero nos Estados Unidos, e a decorrente presença de dólares no Brasil, pode estar com seus dias contados. Nesta quarta-feira (3), o Fed (banco central dos EUA) anunciou que irá dar início ao tapering, redução de compras de títulos como forma de estimular a economia. Por enquanto, os juros americanos permanecem intactos, entre 0 e 0,25%, mas o mercado teme que a inflação no país force um aumento nas taxas já em 2022.
“Nossa decisão hoje de começar a reduzir nossas compras de ativos não implica qualquer sinal direto em relação à nossa política de taxas de juros. Continuamos a articular um teste diferente e mais rigoroso para as condições econômicas que precisam ser atendidas antes de aumentar a taxa de fundos federais [taxas básicas de juros]”, afirmou Jerome Powell, presidente do Fed.
A premissa de manter o juro próximo de zero depende da inflação. O Fed avalia que a alta de preços nos EUA é temporária e fruto de problemas pontuais, como gargalos em algumas indústrias.
“Se virmos sinais de que a trajetória da inflação, ou as expectativas de inflação de longo prazo, estão se movendo material e persistentemente além dos níveis constantes de nossas metas, usaremos nossas ferramentas para preservar a estabilidade de preços”, disse Powell.
Ou seja, se a inflação americana se mostrar persistente como a brasileira, os juros por lá também vão ter que subir. Esse cenário tende a não ser nada bom para o Brasil. Dependendo de quanto o juro subir por lá, investidores estrangeiros podem reduzir a presença no Brasil para investir mais em renda fixa americana, que é mais segura.
Uma das razões para a presença de dólares no nosso país é justamente a grande diferença entre juros brasileiros e o de países desenvolvidos, que estão todos próximos de zero enquanto a Selic está a 7,75% com perspectiva que vá a 10,25% em 2022.
Quando o dinheiro rende bem mais no Brasil, uma operação conhecida como carry trade fica mais rentável e atrativa. Nela, se pega um empréstimo em um país de juro baixo, como os Estados Unidos, e o investe em um país de juros altos, como o Brasil. Com isso, mais dólares entram no país, o que reduz a taxa de câmbio.
Por mais que os juros no Brasil ainda continuem mais altos do que nos EUA, a vantagem dessa operação reduz significativamente porque, como o nosso país é visto como de alto risco, os estrangeiros só topam entrar com dinheiro aqui por um retorno muito elevado.
“O Brasil é visto como um país de risco excessivo. Se tivermos surpresa na inflação nos EUA, com juros mais altos mais cedo, esse fluxo para o Brasil pode piorar. E esse cenário pode acontecer no meio do ano que vem”, diz João Leal, economista da Rio Bravo.
Em setembro, estrangeiros retiraram US$ 916 milhões de investimentos no Brasil [ações, fundos de investimento e títulos públicos], segundo os últimos do Banco Central brasileiro. É o primeiro mês com saldo negativo desde março deste ano, período marcado pela piora na pandemia de Covid-19 no Brasil.
Assim como março, setembro também foi negativo para investimentos, com queda de 6,57% do Ibovespa, principal índice acionário do país. Nesse mês, as manifestações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no feriado de 7 de setembro e a crise da Evergrande derrubaram os ativos locais.
“O estrangeiro é bem importante em aberturas de capital e no financiamento de dívida pública, além de investimento direto”, afirma Leal.
Ele diz que a saída não é por conta do tapering ou pela possibilidade de juros mais altos nos EUA e que a participação de estrangeiros na Bolsa de Valores tem aumentado. Já os investidores brasileiros se mostram mais cautelosos.
Segundo dados da B3, a entrada de dinheiro estrangeiro na Bolsa brasileira é positiva em R$ 85,6 bilhões neste ano. Após saída de R$ 3,6 bilhões em setembro, entraram R$ 12,4 bilhões em outubro.
Apesar do fluxo positivo, as perspectivas não são das melhores. A eleição presidencial e a possível alta de juros nos EUA deixa o cenário negativo para a renda variável brasileira.
“Apesar do juro local alto e do real desvalorizado, o estrangeiro não deve voltar com intensidade. O câmbio não vai arrefecer porque risco doméstico não vai arrefecer tão cedo”, diz Leal.
Ele também cita a pressão sobre as commodities, que tem sofrido com a economia chinesa. Além da crise Evergrande, o país tem mostrado um comprometimento maior com metas climáticas. O Brasil é um dos maiores exportadores dessas matérias-primas para o país asiático.
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