XP vê pressão dos Treasuries e sobe de R$ 4,70 para R$ 5,10 projeção do dólar no fim de 2023

Em relatório, a plataforma de investimentos avalia que taxa de juros nos Estados Unidos deve ter mais um aumento neste ano

O real está em rota de depreciação pressionado, entre outros fatores, pelos Treasuries (títulos do Tesouro dos Estados Unidos). Assim destaca a XP em relatório que eleva a projeção da cotação do dólar no fim de 2023.

A estimativa da plataforma de investimentos para a moeda americana subiu de R$ 4,70 para R$ 5,10. A divisa atualmente está sendo negociada na faixa de R$ 5,15, conforme o fechamento de quarta-feira (5).

No documento, a XP comenta que os juros de longo prazo dos Treasuries, que são “considerados o mais próximo do livre de risco por quase todo o mercado”, estão em alta por diferentes razões, como a deterioração fiscal no país e a “desglobalização” do comércio.

“A taxa de câmbio voltou a superar R$/US$ 5,00, atingindo os níveis mais depreciados desde o final de maio. Juros mais elevados nos países centrais e incertezas fiscais domésticas explicam o movimento”, escreve o economista Rodolfo Margato.

“O índice DXY – que mede o valor do dólar ante uma cesta de moedas fortes – subiu cerca de 5% nos últimos dois meses, e o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos atingiu o menor patamar em mais de 15 anos (excluindo o período pandêmico)”, acrescenta Margato.

Fed deve voltar a subir juros

Ainda no relatório, a XP detalha em outros tópicos o cenário para a queda no diferencial de juros brasileiros e americanos, que também ajuda a explicar a recente valorização do dólar contra o real. Já que com os Treasuries com taxas mais atrativas, os investidores globais tendem a reduzir posições em mercados emergentes.

Para a empresa, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) deve subir a taxa de juros em mais 0,25 ponto percentual até o encerramento de 2023, para o intervalo entre 5,50% e 5,75%.

“O balanço de riscos entre inflação elevada e enfraquecimento econômico voltou a mostrar riscos para a dinâmica inflacionária. Os próximos dados econômicos teriam que enfraquecer consideravelmente (e rapidamente) para evitar esta nova alta de juros”, explica o economista Francisco Nobre.

Assim, a XP vê um menor espaço para cortes de juros em 2024.

“Reduzimos nossa expectativa de cortes na taxa básica de juros do Fed em 2024, para 1 ponto percentual a partir do 3º trimestre (antes: 1,5pp a partir do 2º trimestre). Isto implica que o limite superior da taxa de juros de referência dos EUA encerrará o ano que vem em 4,75% (antes: 4,00%). Esta alteração reflete o
cenário em que o estágio final da desinflação será lento”, prossegue o Nobre.

Por outro lado, aqui no Brasil, a companhia reforçou o panorama de ciclo de cortes da Selic.

“Taxas de juros mais elevadas nas economias centrais e incertezas fiscais domésticas não colocam em risco a margem de curto prazo para cortes na taxas de juros. A inflação e a atividade econômica vêm perdendo força. Assim, considerando que a atual postura da política monetária é significativamente restritiva, vemos espaço para que o ciclo de flexibilização continue nos próximos meses”, afirma o economista Caio Megale.

“Continuamos a projetar que o Copom reduzirá a taxa Selic a um ritmo de 0,50 ponto percentual por reunião até maio de 2024, e entregará um corte final de 0,25 p.p. em junho, chegando a 10,00%. Acreditamos que a política monetária precisará permanecer restritiva no próximo ano para compensar os efeitos da política fiscal expansionista e garantir a convergência da inflação ao intervalo da meta”, completa Megale.