Super Quarta de inflação será decisiva para rumo dos juros no Brasil e nos EUA

Resultados de IPCA e CPI de março podem estimular revisões para a Selic terminal e para o começo do ciclo de cortes da taxa americana

O calendário econômico de 8 a 12 de abril tem como destaques o IPCA no Brasil e o CPI nos Estados Unidos. Por isso, devido à importância dos indicadores neste momento, resolvemos tratar a data de divulgação de ambos como Super Quarta de inflação.

Antes de ir direto aos dois assuntos mais relevantes da semana, os próximos dias ainda reservam números de atividade econômica brasileira. O desempenho do varejo está previsto para a quinta, enquanto a performance do setor de serviços será divulgada na sexta.

Selic terminal

Pelas perspectivas do mercado financeiro, conforme o Boletim Focus mais recente, o IPCA de março deve desacelerar a 0,23% – depois de ter subido 0,83% em fevereiro. Caso o resultado se confirme, a taxa de inflação em 12 meses deve baixar de 4,50% para 4,02%.

Mais do que o índice geral, os agentes estarão de olho novamente na composição dele. Em suma, nos itens que tem pressionado os preços, principalmente os relacionados aos serviços, que têm impacto mais duradouro no seu bolso.

Dessa forma, uma piora das expectativas de inflação tende a fortalecer a visão de que o Banco Central vai antecipar o fim do ciclo de cortes da taxa Selic.

Essa possibilidade tem ganhado força nas últimas semanas, principalmente porque a estimativa para o IPCA ao longo do prazo continua ao redor de 3,50%, acima da meta inflacionária de 3,0%.

Então, existe um temor, diante das incertezas no radar, de uma reaceleração dos preços no segundo semestre. O que explicaria a necessidade de cautela por parte do BC nos próximos passos de política monetária.

Como a Inteligência Financeira registrou na semana passada, a XP foi uma das casas que já alertou para esse risco. Mesmo mantendo a previsão de Selic terminal em 9%, a XP admite que será difícil justificar um corte muito maior dos juros se as projeções do IPCA seguirem desancoradas.

Tudo depende dos EUA

Bem, passando adiante no calendário econômico, o CPI de março nos Estados Unidos vai sacudir os mercados globais na Super Quarta de inflação.

Isso porque o resultado do índice de preços ao consumidor americano promete deixar mais claro um impasse.

Eis: o Fed (Federal Reserve, o BC deles) vai cortar os juros na reunião de junho ou a flexibilização das taxas vai ficar para o segundo semestre?

Pela plataforma do CME Group, que monitora o comportamento do mercado, havia uma divisão nas apostas até a última sexta-feira, com uma leve vantagem para o ciclo se iniciar no encontro de junho.

Porém, esse novo CPI já chega carregado de tensões após um payroll forte em março. A economia americana criou 303 mil empregos no mês, bem acima da previsão dos analistas de 200 mil vagas.

O que esperar?

“Esse dado corrobora a força do mercado de trabalho americano, e sugere que os membros do Fed devem esperar mais dados para começar o afrouxamento monetário, que deve ocorrer ainda nesse ano”, avalia o Itaú em relatório.

“No momento, esperamos o primeiro corte de juros em junho, mas com riscos de ficar para o segundo semestre”, aponta o banco.

Andressa Durão, economista da ASA Investments, destaca que Jerome Powell, presidente do Fed, comentou recentemente que o crescimento do emprego poderia estar sendo impulsionado pela oferta, de forma que o Fed toleraria um emprego mais alto, já que não estaria gerando pressões inflacionárias.

“Sugerindo que um mercado de trabalho mais forte não afetaria o cenário de corte de juros, por enquanto”, aponta a economista.

Ao mesmo tempo, pondera ela, os membros do Fed, no geral, têm dito que precisam ver mais dados de inflação para confiar que ela convergirá para a meta.

“Nesse sentido, os próximos dados de inflação se tornam mais relevantes do que os números de emprego para as futuras decisões. Se o CPI vier em linha com as expectativas, um corte em junho continua sendo cenário base”, completa Andressa Durão.

Calendário econômico – 8 a 12 de abril

Segunda (8)

Sem indicadores relevantes

Terça (9)

08h20: Boletim Focus (Banco Central)

Quarta (10)

09h00: IPCA/Taxa de inflação de março (IBGE)
09h30: CPI/Taxa de inflação de março nos Estados Unidos
15h00: Ata da reunião de política monetária de março do Fed (Federal Reserve, o banco central americano)
22h30: IPC/Taxa de inflação de março na China

Quinta (11)

09h00: Dados do varejo de fevereiro (IBGE)
09h30: PPI/Índice de preços ao produtor de março nos Estados Unidos
09h15: Decisão de política monetária na zona do euro (Banco Central Europeu)

Sexta (12)

00h00: Balança comercial de março na China
09h00: Dados do setor de serviços de fevereiro (IBGE)
16h00: IPC/Taxa de inflação de março na Argentina