Marcação a mercado: quando foram os maiores ganhos dos últimos anos? Estamos diante de uma nova oportunidade?

No passado, queda brusca nas taxas de juros permitiu ganhos de até 30% em pouco mais de um ano

Um dos conceitos mais importantes que o investidor que aplica no Tesouro Direto deve conhecer é o da marcação a mercado. Trata-se de algo que pode resultar desde ganhos relevantes até perdas, mesmo em um produto que segue a chamada renda fixa. Mas como isso acontece? E quando identificar janelas de oportunidade e de risco?

Para nos ajudar a responder essas e outras perguntas, a Inteligência Financeira conversou com Max Freire, planejador financeiro da SuperRico. A nosso pedido, a SuperRico fez um levantamento de grandes valorizações e perdas ao longo dos últimos anos para títulos do Tesouro Direto.

Por exemplo, as NTN-Bs com vencimento em 2035 tiveram um ganho de 30% entre 2018 e 2019.

Por outro lado, os mesmos papéis tiveram um saldo negativo de 7% entre 2020 e 2021. Vamos entender como e por que isso acontece.

O que é a marcação a mercado e como ela impacta o Tesouro Direto

O investimento em títulos do Tesouro Direto é uma aplicação de renda fixa. Isto é, o investidor sabe quais são os critérios de rentabilidade já no momento da aplicação. Nos títulos do Tesouro Direto isto pode acontecer de três maneiras: prefixada, híbrida ou pós-fixada.

No entanto, a rentabilidade que se definiu ao investir diz respeito ao cenário em que o investidor leve o título até o vencimento. O que vamos falar vale tanto para os títulos prefixados quanto para os híbridos (IPCA+)

Por exemplo, um investidor que compre hoje um título do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035. No dia 15 de maio de 2035, essa pessoa vai receber o valor aplicado mais o rendimento equivalente a taxa pactuada, que hoje é a inflação medida pelo IPCA mais 6,21% ao ano.

No entanto, se esse investidor precisar resgatar antes, aí entra a marcação a mercado. Funciona assim: se a pessoa quiser revender o título, ela pode, mas estará sujeita ao preço que aquele título estiver valendo no mercado no momento em que fizer a negociação.

“A marcação a mercado oferece ao investidor o preço exato que o título que ele comprou vale no momento que ele deseja fazer a negociação. Se essa negociação for apenas no vencimento do título, ele recebera exatamente a taxa acordada durante a compra do papel. Antes do vencimento o preço do título muda conforme a variação das taxas de mercado para aquele prazo”, explica Max Freire, da SuperRico.

Ou seja, se o título estiver valendo mais, ele sai ganhando. Mas, por outro lado, se estiver valendo menos, ele pode ter um prejuízo.

O que faz você ter lucro ou prejuízo na marcação a mercado?

De acordo com o planejador Max Freire, “a janela de ganhos ao investidor acontece sempre que a taxa de mercado está negociando abaixo da taxa que o investidor comprou um título. Por outro lado, o investidor poderá ter uma perda quando a taxa sobe”.

Portanto, se as taxas atuais são piores do que aquelas que estão no título que você comprou, ele vale menos. Da mesma forma, se você tiver em mãos um título com condições melhores do que as que estão disponíveis no mercado, você pode ter ganhos relevantes caso revenda.

Freire explica que outro fator que impacta é quanto falta para o vencimento do título que você tem em mãos. Ou seja, um título com uma taxa acima do mercado vale mais se tiver mais tempo até o vencimento, porque isso significa mais tempo rendendo a esse percentual acima.

Em geral, as expectativas de inflação e juros aqui e lá fora são fatores que exercem grande impacto nessa precificação. Recentemente, a resiliência da inflação e dos juros nos Estados Unidos levou as taxas dos títulos híbridos para mais de 6% ao ano, contra 5,5% de apenas quatro meses atrás. Logo, quem comprou há poucos meses não está em um momento de grandes ganhos.

“Estamos em um momento de taxas elevadas para os papeis híbridos (IPCA). Portanto, tem grande probabilidade de o investidor estar com perdas ou ganho baixo nos títulos que adquiriu no último ano”, afirma Max Freire, da SuperRico.

Ganhos e perdas nos últimos anos

A pedido da Inteligência Financeira, Max Freire levantou, de forma aproximada, o impacto que movimentos recentes nas taxas básicas de juros.

Como citamos, o investidor que aplicou no início de 2018 e resgatou no final de 2019 em um Tesouro IPCA+ viu uma valorização de cerca de 30% nos papéis. Nesse período, a Selic foi da casa dos 7,00% ao ano para 4,50% ao ano.

Por outro lado, a perda entre 2020 e 2021, quando os títulos caíram em torno de 7%, condiz com o período em que os juros saíram da mínima de 2,00% ao ano e voltaram a subir, terminando o ano seguinte em 9,25% ao ano.

Pela tabela abaixo, é possível ver a estimativa feita pela SuperRico da proporção da variação dos tipos de títulos nos últimos anos. Um fato é observar que os mesmos papéis que tiveram perdas em períodos curtos podem ter ganhos em prazos maiores. Portanto, quem não realizou o prejuízo e manteve o título na carteira, pode revendê-lo em um outro momento sem ter perdas.

PeríodoTipo de títuloVariação estimada
2018-2019NTNB (Tesouro IPCA+)Ganho de 30%
2020-2021NTNB (Tesouro IPCA+)Perda de 7%
2022-2023NTNB (Tesouro IPCA+)Ganho de 12%
2018-2019LTN (Tesouro Prefixado)Ganho de 19%
2020LTN (Tesouro Prefixado)Perda de 5%
2020-2023LTN (Tesouro Prefixado)Ganho de 12%

Momento atual: como saber se é hora de investir?

Em geral, os melhores momentos para obter lucros com a marcação a mercado são períodos em que há perspectiva de queda nas taxas básicas de juros. Portanto, um cenário como o que estamos vivendo hoje. No entanto, apesar disso, as expectativas da Selic terminal no boletim Focus vêm subindo nas últimas semanas, o que torna o cenário mais complexo.

Em entrevista recente à Inteligência Financeira, Vítor Oliveira, da One Investimentos, ponderou que buscar investir para ganhar com a marcação requer experiência e conhecimento do mercado.

“É essencial compreender que essa é uma estratégia mais especulativa e que envolve um monitoramento constante do mercado. Além disso, é importante estar preparado para agir rapidamente”, afirmou.

Max Freire observa que para quem investiu com esse objetivo há pouco, o saldo não é tão positivo. Isso uma vez que as taxas subiram nas últimas semanas e a expectativa de quedas na Selic se moderou.

“Já para os títulos prefixados – temos algumas possibilidades. Os investidores que adquiriram nos últimos meses devem apresentar perdas. Já investidores que adquiriram títulos antes do período do Banco Central iniciar os cortes de juros, podem estar com resultados positivos, porém apresentaram perdas nos últimos meses”, diz.

No entanto, de acordo com os especialistas, as taxas atuais são patamares altos de rentabilidade. Portanto, quem investir considerando levar os títulos até o vencimento, poderá contar com um patamar de rendimento tido como alto para o produto.

Marcação a mercado em diferentes títulos do Tesouro Direto

Um ponto a observar é que esse efeito da marcação a mercado ocorre nos títulos em que há uma parte prefixada. Seja o total, como no Tesouro Prefixado, ou uma parte da rentabilidade, como no Tesouro IPCA+.

Por isso, que esses dois tipos de títulos não são os mais recomendados para a formação da reserva de emergência. Isso uma vez que, ao oscilar, eles podem estar com prejuízos momentâneos no momento em que o investidor precisar dos recursos para alguma necessidade imediata.

Nesse caso, especialistas mencionam o Tesouro Selic. Como a rentabilidade desse título é pós-fixada, ou seja, vai seguir sempre a taxa de momento, ele não sofre com essa oscilação. Para a reserva de emergência, a dica é sempre buscar produtos com alta segurança e boa liquidez, para ter acesso rápido aos recursos caso seja necessário.