O que pode antecipar o fim do ciclo de cortes da Selic? XP responde

Instituição financeira também avalia que dólar não deve se sustentar acima de R$ 5,00

Após atingir 9,75% em junho, o Copom deverá reduzir o ritmo de flexibilização monetária para 0,25 ponto percentual por reunião, e começar a “tatear” o momento de pausa. Esta é a avaliação da XP sobre os próximos passos do ciclo de cortes da Selic no Brasil.

Em relatório assinado por seu economista-chefe, Caio Megale, a instituição financeira manteve a previsão de taxa Selic terminal em 9%. Ou seja, com mais duas baixas de 0,50 p.p e três cortes adicionais de 0,25 p.p. no segundo semestre deste ano.

Contudo, “o risco é para cima”, vê a XP.

“Se as previsões do mercado para a inflação de 2025 realmente começarem a subir, o Copom poderá optar por pausar o ciclo de flexibilização mais cedo, com a taxa Selic dentro do intervalo de 9,25% a 9,75%”, estima Megale.

Riscos para inflação

Para o economista-chefe, ainda no documento, o comitê de política monetária do Banco Central precisa de “maior flexibilidade” devido à “elevação da incerteza”. Por isso a mudança de sinalização na última decisão de juros.

Entre os desafios perseguidos pelo Copom, Megale destaca no relatório o de atingir a meta inflacionária de 3,0% em 2025, que é o atual horizonte relevante para a política monetária.

Nesse sentido, ele menciona que as leituras recentes do IPCA sugerem que a inflação ainda está acima da meta.

“Olhando adiante, a tendência expansionista da política fiscal (e parafiscal) deverá manter a atividade econômica aquecida. (Assim como) as concessões de crédito estão acelerando, em resposta à queda de juros e a um ambiente microeconômico menos arriscado”, comenta.

Portanto, para o especialista, a inflação de bens poderá reacelerar ao longo do segundo semestre com o aumento dos preços das commodities.

“Em outras palavras, a inflação está acima da meta e não vemos nenhum fator importante que possa reduzi-la nos próximos trimestres”, prossegue.

“Entendemos que as projeções de mercado para o IPCA de 2025 – atualmente ao redor de 3,50% de acordo com a Pesquisa Focus do BCB – irão convergir para a nossa expectativa de 4,00% em algum momento. Se estivermos corretos, será difícil justificar um corte muito maior na taxa Selic”, afirma.

Dólar acima de R$ 5

Adicionalmente, em trecho do relatório agora assinado pelo economista Rodolfo Margato, a XP trata da valorização do dólar nas últimas semanas. A instituição financeira, mesmo considerando o viés de alta, manteve a expectativa de R$ 4,70 para a cotação da moeda americana.

“O real não se apreciou conforme o esperado por nós e pela maioria do mercado. O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) mais conservador, a piora dos termos de troca frente ao ano passado e ruídos políticos domésticos reduziram a atratividade da moeda brasileira”, escreve Margato.

Porém, continua o economista, a XP ainda vê espaço para apreciação ao longo do ano, especialmente no segundo semestre.

“De toda forma, nossos modelos baseados em fundamentos econômicos não justificam a taxa de câmbio brasileira acima de R$/US$ 5,00 de forma persistente”, indica.

‘Fed cortará juros em breve’

Por último, no capítulo sobre a política monetária nos Estados Unidos, a XP avalia que o Fed prepara o terreno para flexibilizar as taxas, porém os riscos persistem.

“As projeções econômicas dos membros do Fed indicam forte crescimento da atividade, baixo desemprego e inflação ainda acima da meta. Entretanto, em coletiva de
imprensa após a última decisão de juros, o presidente do banco central, Jerome Powell, transmitiu uma mensagem mais branda”, menciona o economista Francisco Nobre.

“A autoridade ressaltou o progresso no combate à inflação – apesar das leituras elevadas de janeiro e fevereiro – e sinalizou a intenção do Fed de reduzir os juros de referência em breve. A nosso ver, o Fed está preparando o terreno para um primeiro corte de juros em meados do ano”, aponta.

Mas a XP espera um ciclo de afrouxamento moderado e entende que não há motivo para o Fed ter pressa em reduzir os juros

“Nosso cenário base contempla ajustes sequenciais de 0,25 p.p. por reunião ao longo do segundo semestre. Isto posto, existe chance considerável de o Fed adotar um ritmo de cortes mais lento. Por exemplo, uma redução por trimestre”, completa o economista.