Por que as ações brasileiras estão na máximas em 2 anos e o que esperar pela frente

Aposta de que o banco central dos EUA começará a cortar juros nos EUA no começo de 2024 está levando investidores a apostarem em ativos de maior risco

A alta de 12,5% do Ibovespa fez de novembro o melhor mês para as ações brasileiras em 3 anos.

Com o novo pico em 2023, atingido nesta quinta-feira (30), o indicador fica a cerca de 3% de alcançar sua máxima histórica de junho de 2021, de 131.190 pontos.

A última vez que o principal índice acionário nacional teve um desempenho superior tinha sido também em novembro, mas de 2020 quando havia subido 15,9%.

O movimento acompanhou a valorização de ativos mais arriscados, em meio à crescente aposta de que os juros não vão mais subir nos Estados Unidos.

O indicador MSCI de ações em 47 países caminhava para um ganho mensal de cerca de 9%, maior ganho percentual para o mês de novembro desde 2020.

O bitcoin acumula valorização superior a 9% no mês.

Aposta em juro menor

Para analistas, no caso das ações da bolsa paulista o repique reflete um otimismo que vinha se formando, desde que o Brasil iniciou em agosto um ciclo de corte de juros, .

Desde então, um número crescente de casas de análises de investimentos apontaram que as ações negociadas na B3 estavam baratas, considerando dados históricos e comparativos com outros mercados emergentes.

JPMorgan, Bank of America, Itaú BBA e XP são algumas das instituições que reforçaram recomendações de compra para ações da bolsa brasileira.

Agora, após o Federal Reserve (o banco central americano) ter mantido o juro dos EUA por duas reuniões seguidas, a avaliação de que o pior momento da luta contra a inflação alta naquela região tem alimentado apostas de que um ciclo na mão contrária está se aproximando.

“Parece não vai subir mais (o juro dos EUA) e começa a discussão de quando será razoável dizer que o banco central americano poderá cortar os juros”, disse o analista técnico do Itaú BBA Fabio Perina.

Um dos termômetros dessa mudança de leitura do cenário tem sido o fluxo crescente de recursos para ativos considerados de maior risco. Em novembro, a entrada líquida de recursos de investidores estrangeiros na bolsa paulista atingiu R$ 18,2 bilhões.

Os dados são preliminares até dia 28, mas mostram o melhor resultado mensal desde a entrada de R$ 21,4 bilhões em março do ano passado.

O que esperar para dezembro

As previsões para dezembro e além, entretanto, são divergentes.

Para Aline Cardoso, chefe da área de pesquisa e análise de ações do banco Santander, o último mês de 2023 não deve ser tão forte para as ações nacionais. “Acho que o rali já foi agora em novembro”, disse ela. Para Cardoso, falta dinheiro novo no mercado e a bolsa já surfou o que podia da entrada de investimentos estrangeiros.

“O que está faltando? Dinheiro de pessoa física. E isso a gente não está vendo ainda. E eu acho que não vai acontecer (essa alta de pessoas físicas) até a (taxa) Selic não se aproximar de 10%”, afirmou Aline.

Perina, do Itaú BBA, tem uma leitura diferente.

“Nossa interpretação é que o mercado aponta, sim, para continuidade do otimismo para os próximos meses, dada a tendência de médio prazo vigente”, afirmou.

Segundo ele, a análise técnica indica que, após uma primeira onda de valorização que reverberou principalmente entre as ações de maior liquidez, uma segunda etapa está por vir.

“As ‘small caps’ ainda estão devendo muito em 2023”, disse ele, referindo-se a papéis de companhias com menor volume de negociação.

Colaborou Renato Jakitas, repórter especial da Inteligência Financeira.