Ação mais líquida da bolsa, Vale (VALE3) segura Ibovespa em descolamento com Petrobras (PETR4)

Ações de Vale caem na contramão de Petrobras; mineradora está segurando avanço do Ibovespa acima de 120 mil pontos

Após a volatilidade das eleições, as duas maiores empresas listadas na bolsa estão em um impasse. Vale e Petrobras tem os papéis mais líquidos, ou seja, mais negociados no Ibovespa, principal índice da bolsa de valores. Mas estão na contramão. As ações da Vale (VALE3) caem desde o início de 2023, com desvalorização de 22%. Já em sobrevoo está a Petrobras, que acumula alta nos papéis ON (PETR3) e PN (PETR4) – surpreendendo o mercado.

De acordo com investidores, o motivo do Ibovespa não ter rompido os 120 mil pontos é, em grande parte, porque a Vale está travando o rali do índice desde a eleição. Enquanto a Faria Lima aguarda a queda dos juros, o minério de ferro continua a pressionar o valor da empresa.

Ouvidos pela Inteligência Financeira, analistas afirmam que a Vale está barata na bolsa, mas não há consenso sobre um “tempo firme” para que as ações decolem no segundo semestre.

O que está acontecendo com as ações da Vale (VALE3)?

As ações ordinárias de Vale (VALE3) estão em baixa na bolsa porque o boom de crescimento da China após a suspensão de quarentena contra a covid-19 ainda não aconteceu. A receita da mineradora depende, em grande parte, de exportações para o gigante asiático. Cerca de 50% do lucro em vendas a países do exterior vem da China.

Neste ano, dados do país asiático, maior consumidor da commodity no mundo, têm decepcionando o mercado. O PMI de Manufatura, por exemplo, permanece abaixo de 50 – e isso é ruim para quem garimpa commodities.

O ritmo de produção da China no setor industrial de aço, produzido a partir do minério de ferro, diminuiu.

Em relatório publicado em junho, a Associação Mundial do Aço divulgou dados preocupantes para a Vale. A produção do derivado do minério de ferro caiu 7,3% em 12 meses encerrados em maio de 2023.

Siderúrgicas chinesas já alertaram contra um segundo semestre desafiador, com queda ainda maior na demanda por aço e, portanto, ferro.

Expectativa para preço do minério de ferro não é positiva

No ano, o preço médio do minério de ferro estacionou na faixa de US$ 115 a US$ 120 por tonelada, aponta a vice-presidente da Moody´s na América Latina, Barbara Mattos. Em fevereiro, quando o minério subiu para US$ 130, a ação de Vale bateu a máxima do ano sob cotação de R$ 95.

“A Vale é uma das maiores produtoras de minério de ferro no mundo, enquanto a China importa diretamente de dois países, principalmente: Austrália e Brasil”, afirma Bárbara. De acordo com a executiva, a desaceleração dos preços do ferro refletem “efeitos sazonais” do verão brasileiro, além da queda da demanda.

Do outro lado, Petrobras (PETR3;PETR4) está perto da máxima

Se, por um lado, Vale vem decepcionando puxada por China, no lado oposto está a Petrobras. Por enquanto, as ações ON (PETR3) sobem 35% e os ativos preferenciais (PETR4) têm alta de 39% no ano. Os papéis estão próximos da máxima histórica de R$ 45, batida na eleição.

A diferença entre a queda da Vale e alta da Petrobras levou o banco BTG Pactual a chamar o descolamento de “histórico”. Em relatório, o banco aponta uma diferença de valor de mercado em 70% entre as duas empresas.

A Petrobras vem demonstrando sinais de estar menos alinhada com o governo, o que surpreende o mercado financeiro e valoriza os papéis.

“A narrativa de corte de dividendos não foi cumprida. Pelo contrário: foram pagos R$ 24 bi em dividendos”, afirma Fabio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos.

O temor de ingerência política na estatal não se confirmou. E um sinal disso foi a mudança na política de preços. Mesmo abandonando o modelo de Preço por Paridade de Importação (PPI), a Petrobras manteve-se competitiva sem comprometer o caixa. E vem realizando cortes nos combustíveis porque “o preço do barril de petróleo não está descontrolado”, comenta Lemos. No mês, o barril Brent tem alta de quase 10%.

Por fim, a favor da Petrobras na bolsa está o desconto sobre o valuation. A companhia está “barata”, afirma um relatório da Guide Investimentos, porque seu valor de mercado sobre Ebitda (Lucro antes de Impostos, Dívidas, Depreciação e Amortizações) é negociado abaixo da média entre competidoras.

Com Vale em baixa, Ibovespa não sobe acima de 120 mil

Mesmo com o esforço da Petrobras, quem puxa o Ibovespa para cima geralmente é a Vale. Entre as bluechips, são as ações dela (VALE3) as com maior peso nas negociações do índice, com participação de 13,26% sobre o volume de liquidez.

O peso da Vale na bolsa é superior ao das duas ações de Petrobras (PETR3;PETR4) somadas. Juntas, elas representam 6,51% e 4,79%, respectivamente.

A ação da mineradora não escapa do fluxo de capital estrangeiro que joga a bolsa brasileira para cima ou para baixo, afirma Heitor De Nicola, sócio e do escritório Acqua Vero Investimentos.

“Por Vale (VALE3) ter maior liquidez no Ibovespa, tanto na quantidade de ações negociadas no free float (ações disponíveis), quanto ao marketcap (valor das ações na máxima) da empresa, ela não foge da lógica do investimento estrangeiro”, afirma. Por isso, quando Vale desacelera, o Ibovespa tende a estar logo atrás.

O sócio da Acqua Vero acredita que se a empresa estivesse performando bem, o principal índice da bolsa “já teria ultrapassado os 125 mil pontos”. Ele afirma que a empresa está “segurando” o Ibovespa.

Nos cálculos da XP, em relatório, o Ibovespa estaria oscilando perto dos 131 mil pontos com a Vale no azul. E, claro, considerando o rali da bolsa diante da expectativa de cortes de juros em agosto.

Vale (VALE3) está barata: é hora de entrar?

O mercado parece não saber quem seguir. Por um lado, há um sentimento de cautela em torno de Petrobras pela alta de preços e pelo futuro da companhia. Por outro, a Vale não tem perspectiva de alta, mas continua bem abaixo da máxima do ano, descontada.

À Inteligência Financeira, investidores citam que, de fato, o papel está barato. Para Lemos, da Fatorial, a mineradora tem “gordura para queimar” nas ações.

“Ela está barata pelo valuation e considerando o break-even em exportações para a China de US$ 67,6 de no primeiro trimestre”, diz o analista. Ou seja, a companhia vem ajustando para cima o preço de equilíbrio, saindo de US$ 53,20 no primeiro trimestre de 2022. Lemos está mais otimista sobre o próximo resultado operacional da empresa, a ser divulgado em 27 de julho.

O BTG Pactual também tem uma visão mais otimista do papel. Analistas do banco destacaram que o estímulo do governo chinês para movimentar a economia deve refletir em um aumento das importações de ferro. Além disso, eles creem que “o pior” nas decepções com a empresa “já passou”.

“Exportações de ferro devem subir 30% do primeiro para o segundo trimestre, expandindo a receita da Vale”, explica o time de analistas do banco, salientando redução no custo de extração do minério de ferro.

Mercado se divide sobre ações da mineradora

Mas Hélio De Nicola, da Acqua Vero, vê o copo meio vazio. O resultado da Vale deve vir mais modesto, diz o analista, ainda impactado pela demanda fraca da China. “O balanço deve vir abaixo da média para Vale, cujo cenário à frente é mais nebuloso”.

Gabriela Joubert, da Inter Research, faz coro ao colega da Faria Lima. Ela aponta um cenário “desafiador” para Vale, com expectativa de redução nos preços do minério de ferro no curto prazo, a US$ 95, e no longo prazo, de US$ 60.

A Inter Research, em relatório divulgado na última quinta-feira, firmou o preço-alvo para os títulos ON de Vale (VALE3) em R$ 77 por ação, mantendo a recomendação neutra – e com baixo potencial de upside.

“No entanto, ressaltamos a oportunidade de arbitragem entre os papéis, com VALE3 em oportunidade para aqueles que visam uma carteira voltada a proventos, uma vez que ainda esperamos forte geração de caixa e um dividend yield médio de 10% nos próximos anos”, conclui a consultoria.

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