Milho, cobre ou petróleo: como e por que investir em commodities

Antes de se aventurar por este universo, você deve estudar o tema e acompanhar os mercados internacionais
Pontos-chave:
  • As commodities energéticas compõem o grupo mais complicado, já que são muito influenciadas por fatores políticos
  • As commodities são ótimos instrumentos de diversificação, mas é preciso estar preparado para a alta volatilidade

Soja, petróleo, minério de ferro e carne bovina estão entre os produtos mais exportados pelo Brasil. As commodities fazem nossa economia girar, além de serem instrumentos importantes de política externa. E dá para investir, direta ou indiretamente, nos produtos que vendemos para outros países ou que, por outro lado, importamos. 

Você pode colocar seu dinheiro em commodities via ações, ETFs e até moedas de outros países. Cada instrumento tem seu nível de sofisticação e benefícios. Para explicar tudo sobre o investimento em commodities, conversamos com Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos e especialista no assunto. Acompanhe: 

Por que investir em commodities? 

O primeiro motivo, e o mais óbvio, é diversificação. É um jeito fácil de se expor ao ciclo econômico mundial, fugindo um pouco de fatores domésticos. As commodities são negociadas globalmente, por isso têm componentes de ciclo externo. 

As commodities são ativos cíclicos, você pode surfar uma aceleração do mercado ou se proteger de uma recessão. Investir diretamente em commodities significa não precisar confiar na capacidade de gestão de uma empresa, a exposição pode ser direta.

O que preciso saber?

O investidor pode dividir as commodities em três grandes grupos. O primeiro é o de commodities agrícolas, como milho e soja. Aqui, é preciso entender muito de clima, porque as safras têm produtividade ligada a ele. Ainda é preciso saber sobre ciclos de estocagem para entender o que aconteceu quando a China aumentou o estoque de proteína suína com a crise da gripe suína em 2019, por exemplo.

As commodities metálicas compõem o segundo grande grupo. É preciso ficar de olho na China, porque quando o país decide investir mais em infraestrutura, o preço é influenciado. Também é preciso saber que as tendências da agenda ESG fazem preço: o cobre, por exemplo, será cada vez mais utilizado em fontes de energia alternativa, uma perspectiva que certamente tem impacto nas negociações.

Por último, temos as commodities energéticas, que compõem o grupo mais complicado, já que são muito influenciadas por fatores políticos. O preço do petróleo, por exemplo, é influenciado por decisões da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). 

Por onde começar? 

O investidor pode começar pelas ações, é o caminho mais natural para entender como funciona o mercado. Vale, Petrobras e ações ligadas ao mercado de proteína animal (JBS, Minerva, Marfrig) são portas de entrada com boa liquidez

Depois, temos ETFs. No Brasil, eles são muito amplos. Temos fundos de materiais básicos, sem algo mais específico. O investidor que tem conta no exterior encontra em Nova York ETFs específicos de milho, soja ou ouro. Após passar por esses dois instrumentos, o investidor que tem estômago pode procurar o mercado futuro.

Por último, os instrumentos mais sofisticados: fundos multimercado e moedas. O Chile exporta muito Cobre, portanto, quem tem uma visão positiva para o material pode comprar a moeda chilena. Na Rússia, a estrela é o gás natural. É uma forma profissional de investir em commodities. 

O que o momento atual nos ensina? 

Quem está começando vê os preços lá em cima e acha que é um momento de compra. A lição que fica é: já passou. Parte relevante dos ganhos já foi realizado. No ano passado, tivemos estímulos monetários sem precedentes e gargalos de oferta, por isso os preços recorde. 

Olhando para frente, vejo que estamos entrando em outro ciclo de política monetária, com os bancos centrais pisando no freio. Isso não quer dizer que os preços das commodities vão despencar, mas a tendência é que comecem a se estabilizar nos níveis atuais.

Além disso, é preciso olhar para a transição da matriz energética global. Não vai ser tão fácil migrar para fontes de matriz renováveis. Por isso, commodities de energia continuarão sendo procuradas. Nas metálicas, é preciso olhar para a China, que está entrando em um momento estimulativo. Já as agrícolas têm uma direção mais clara: conforme países como China e Índia crescem, a demanda por alimentos aumenta.