Conheça as ações mais negociadas em 2023 e descubra se elas ainda são uma boa opção

Ações mais negociadas da bolsa: VALE3 desaba, enquanto PETR4 e BBAS3 sobem mais de 30%; entenda os motivos

As ações mais negociadas da bolsa em 2023 têm a Vale (VALE3) no topo, com os investidores tentando fugir da desvalorização do minério de ferro. O valor das ações desceu 21,32% do início do ano até as vésperas do fechamento da última quarta-feira (7).

Ao mesmo tempo, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4), Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) tiveram forte valorização. As companhias também estiveram entre as mais líquidas da bolsa, chegando a altas de mais de 30% em alguns casos. As informações são do TradeMap.

A título de comparação, o Ibovespa subia 9,87% do início de janeiro de 2023 antes do fechamento da bolsa na sexta (9).

Ações mais negociadas da bolsa em 2023

  • Vale (VALE3): R$ 1,98 bi/dia
  • Petrobras (PETR4): R$ 1,62 bi/dia
  • Itaú (ITUB4): R$ 845 mi/dia
  • Bradesco (BBDC4): R$ 787 mi/dia
  • Banco do Brasil (BBAS3): R$ 582 mi/dia

Fonte: TradeMap

Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam o que motivou a oscilação nos preços das ações mais negociadas na bolsa até aqui. Além disso, avaliam se a tendência deve seguir a mesma até o final do ano, com a Vale caminhando para fechar em queda, e as demais, engatando altas consistentes.

Petrobras

Os temores que pareciam tomar conta do mercado no começo do ano em relação à Petrobras não se confirmaram, dizem os analistas.

Aspectos como a indicação dos executivos, além de mudanças em política de preços e tributação “não interferiram de forma negativa nas perspectivas do mercado”, segundo Acilio Marinello. Ele é coordenador do MBA Executivo em digital finance da Trevisan Escola de Negócios.

Além disso, os “preços internacionais do petróleo e dividendos ainda estão muito atraentes”. Por isso, o interesse nas ações da petroleira segue forte.

Desempenho das ações mais negociadas em 2023

  • BBAS3 +34,76%
  • PETR4 +31,77%
  • BBDC4 +13,60%
  • ITUB4 +10,90%
  • VALE3 -21,32%

Política e Petrobras

Apesar das declarações do governo Lula na direção de uma mudança na política de dividendos e de investimentos da Petrobras, “nada foi efetivado até agora”, o que tem assegurado altas para a petroleira, diz Fernando Bresciani, analista de investimento do Andbank, que também destaca a alta do petróleo no mercado internacional.

Para Pedro Serra, analista de Research da Ativa Investimentos, o risco que se desenhava no começo do ano, com a possibilidade de mudanças profundas na Petrobras, ainda não se concretizaram. “A turma (de diretores) que chegou (na Petrobras) tem tido um discurso alinhado ao governo, mas ainda paga dividendos e ainda dizem que vão fazer desinvestimento, embora não aconteçam neste ano”, afirma. Além disso, ele afirma que a mudança na lei das estatais, proposta pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ainda não passou no Senado.

Vale lidera entre ações mais negociadas

No caso da Vale, a mineradora sofreu uma queda ao longo do ano por conta principalmente da redução no preço do minério de ferro no mercado internacional, o que impactou negativamente o balanço da mineradora.

Além disso, expectativas frustradas do mercado em relação à economia chinesa provocaram um abandono de posições de investidores que apostavam em uma retomada mais rápida da aquisição de minério por parte dos chineses, especialmente, do setor imobiliário e de infraestrutura da China, grandes importadores da commodity.

Apesar disso, a Vale é uma boa oportunidade de aquisição neste momento, com o preço das ações descontado e com a possibilidade de alta da empresa ao longo do ano, principalmente por conta da diversificação dos negócios da empresa.

A Vale “segue diversificando sua receita por meio de outras linhas de negócios, como a divisão de materiais para transição energética, que engloba o níquel e o cobre, que já representam próximo de 25% da receita da mineradora, e deve continuar ganhando espaço”, diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

“A mineradora também está procurando um sócio para vender parte dessa divisão, e acelerar essa linha de negócio, então ainda há uma perspectiva positiva para a mineradora para o futuro”, completa o especialista.

A situação entre os bancos

Em relação aos principais bancos do país, o mercado vem precificando cortes na taxa básica de juros, a Selic, “o que acaba sendo um cenário bom para as instituições financeiras, isso porque alivia o custo do passivo do banco”, diz Fernandes, da A7 Capital.

Além disso, a melhora no cenário de crédito faz com que “tanto pessoas físicas quanto empresas comecem a encontrar mais fontes de financiamento a taxas mais acessíveis”, afirma Fernandes, o que compensa a redução do ganho por operação dos bancos. Assim, as instituições financeiras passam a ganhar no volume.

Para Marinello, da Trevisan, Itaú e Bradesco tomaram ações consistentes e conservadoras em relação às políticas de concessão de crédito e provisões de perdas por devedores duvidosos, “mitigando eventuais impactos com a inadimplência, mantendo ainda projeções sólidas de receitas e boas margens”.

Já o Banco do Brasil tem elevado suas receitas e lucros, de forma pujante, distribuindo dividendos atrativos. “Essa conjuntura de fatores fortaleceu as posições desses bancos na bolsa, aumentando o interesse dos investidores e valorização dos seus papéis”, completa Marinello.

Entre os bancos privados, Bresciani, do Andbank, enxerga Itaú como o mais bem posicionado para se beneficiar do aumento do PIB, que está se configurando acima das expectativas, mas ele diz que Bradesco também deve seguir subindo no ano.

O BB tem apresentado “resultado excelente”, surpreendendo positivamente nos últimos dois trimestres. “O disclosure (divulgação de resultados e outras informações) tem sido bom e a empresa paga bons dividendos. Se não tiver nenhuma intervenção, ele vai continuar performando bem”, acrescenta Bresciani.

Desempenho para o restante do ano

Em síntese, as ações apresentam um bom potencial de crescimento. A princípio, devem se favorecer da conjuntura macroeconômica, inflação menor e iminente queda de juros.

Assim, no caso dos bancos, “juros mais baixos estimulam o consumo e, consequentemente, a demanda por crédito. Crédito mais barato, contribui para a redução da inadimplência. O que é um cenário muito positivo para o setor bancário”, diz Marinello.

Serra diz que o movimento das empresas mencionadas deve seguir positivo, “à medida que nos aproximamos da queda de juros”.

Porém, o temor do analista da Ativa está no longo prazo. “O arcabouço fiscal deixa a coisa mais frouxa. Ele melhorou um pouco na Câmara, mas, de certa forma, afrouxou o que foi definido pelo teto de gastos”, avalia.

Sobre a Vale, ele diz que o desempenho da empresa pode virar para o positivo caso o minério de ferro siga em uma trajetória de alta. “Na Vale, não tem jeito, você pode colocar a melhor equipe na direção da empresa que o valor das ações seguirão estritamente alinhados com o desempenho da commodity no mercado internacional”, avalia.

Simultaneamente, a Petrobras deve ter cenário positivo pela frente. A empresa pode ser beneficiada ainda se o preço do petróleo seguir em alta. “Porém, corte de dividendos ou aumento de investimento em algo com retorno aquém do esperado deve fazer a ação sofrer”, alerta Bresciani.