Como ganhar dinheiro com a Selic alta por mais tempo?

Juros no Brasil não devem cair tão cedo: saiba se é hora de mexer na carteira

A discussão sobre a meta de inflação não é um debate exclusivamente brasileiro, mas é tema mundial. Os especialistas se dividem sobre se as economias poderiam aumentar a meta inflacionária dando maior flexibilidade para os bancos centrais administrarem os ciclos recessivos. Em outros termos, uma meta maior, dando espaço para redução de juros.

Essa discussão é longa e muito técnica. Em manifestação pública, Roberto Campos Neto, presidente do BC brasileiro, disse acreditar que para o país, neste momento, elevar a meta de inflação tiraria flexibilidade, prejudicando a gestão monetária.

Além disso, temos acompanhado que o governo federal ter levado essa discussão ao noticiário elevou os juros futuros.

Alterar metas já estipuladas pode ferir a credibilidade do próprio sistema e da autoridade monetária, particularmente, quando ainda não se tem claramente como serão as regras de controle fiscal.

A expectativa é que cortes na taxa de juros só devem ocorrer no último trimestre do ano. O boletim Focus do BC projeta a Selic em 12,75% para 2023 e de 10% em 2024. Ainda taxas nominais muito altas e deixando a taxa real de juro nas alturas.

É hora de fazer algum movimento na carteira de investimentos?

Vivemos um cenário em que todos devemos analisar as estratégias adotadas para o curto e médio prazo. Isso não quer dizer que devamos fazer grandes alterações. Mesmo porque reagir tempestivamente usualmente não é algo recomendado.

Aqueles que mantêm estratégias mais conservadoras e estão mais posicionados na renda fixa, não há muito o que fazer. A rentabilidade dos títulos ainda está boa.

Caso a volatilidade dos juros aumentar muito, algo que pode ser cogitado é buscar títulos com prazo mais curto para reduzir a flutuação do valor da carteira. Quanto maior o prazo do título, maior a sua exposição a alteração de valor em virtude da volatilidade dos juros.

Para o investidor mais exposto a risco, a notícia que a queda de juros vai demorar mais e buscar algum porto seguro será adequado. Isso pode ser feito pela opção de ações de empresas mais estáveis ou, mesmo, aquelas boas pagadoras de dividendos. Fugir dos setores mais dependentes do crédito, também, é um caminho mais recomendado.

Quais os títulos mais interessantes no momento?

Na renda fixa, os pós-fixados continuam uma boa opção. Quando os juros começarem a dar sinal de queda, os prefixados podem ser uma boa aposta.

No curto prazo, CDBs com remuneração acima do CDI. No médio prazo LCI e LCA, também são opções. Mas, sempre pesquisando as melhores ofertas e comparando as rentabilidades líquidas.

Lembre-se que títulos bancários tem garantia até R$ 250 mil pelo FGC.

Quais os títulos menos interessantes atualmente?

Não há, em tese, títulos não interessantes. Mas, isso não quer dizer que todos os tipos de investimentos sejam bons todo o tempo e para todos os bolsos. Atualmente, títulos de crédito privado não são atraentes, tal como fundos de investimentos com esse tipo de papel na carteira.

Para aqueles incomodados com a volatilidade de preços, os títulos de mais curto prazo diminuem essa volatilidade, mas pode significar deixar de ter uma maior rentabilidade por um maior prazo.

A dica é buscar investir em títulos com prazos coincidentes com a previsão de utilização dos recursos. Assim, a volatilidade não trará consequência alguma porque a rentabilidade obtida será exatamente a prometida na data da compra do papel.

Como acompanhar a discussão sobre a revisão da meta de inflação?

Seguir as notícias sobre economia e o mercado devem ser parte do dia a dia do investidor, mesmo aqueles que são mais conservadores e mantém posições mais estáveis. A discussão sobre a meta inflacionária faz parte disso, mas não é um tema que deva ser tratado de maneira muito destacada.

O Conselho Monetário Nacional se reúne todos os meses e as metas são estabelecidas com três anos de antecedência. Na reunião de fevereiro, o assunto de alteração de meta sequer entrou na pauta e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já declarou que não se cogita discutir esse assunto.

O que poderia impactar o investidor?

Qualquer alteração brusca da política econômica do governo e que provocasse forte alteração da política monetária poderia provocar um grande impacto no mercado.

Por exemplo, imaginemos que o governo declare que não vai estabelecer regra fiscal alguma e que os gastos seriam aumentados. Isso teria um potencial de explodir a inflação e o câmbio. O Banco Central teria que atuar, como o seu mandato determina, os juros subiriam muito fortemente e as perdas do mercado seriam grandes.

Todas as recentes declarações do presidente da República, dos ministros da área econômica e do presidente do BCB estão pondo água na fervura. O céu está com menos nuvens.