O boletim Focus do Banco Central desta segunda-feira (21) mostrou que os especialistas do mercado financeiro esperam que a taxa básica de juros (Selic) termine 2022 em 12,25% ao ano. Atualmente, a taxa está em 10,75%. Com isto, o ciclo de alta, que começou quando a Selic estava em 2%, parece estar mais perto do fim do que do início. O cenário pode representar uma oportunidade para um movimento arriscado: comprar títulos prefixados à espera de um ciclo de baixa da Selic.
Entenda a estratégia dos títulos prefixados
Os títulos prefixados são aqueles que o investidor compra já sabendo qual o retorno que terá no vencimento do papel. Esses instrumentos não estão ligados a números como o da taxa básica de juros e inflação oficial. Se você investiu R$ 1.000 em um título que paga 12% ao ano, vai receber R$ 120 por ano que estiver com ele na sua carteira, até o vencimento, e isto não muda se a Selic subir ou descer.
Acontece que esses títulos prefixados estão ficando de lado com os juros e inflação subindo, já que instrumentos atrelados a esses indicadores estão pagando bem. No fim das contas, investir em prefixados significa assumir mais risco, justamente porque o título não varia conforme um indicador, então você pode ganhar ou perder rentabilidade, dependendo do cenário.
Bom para quem gosta de arriscar
Agora, porém, pode ser um bom momento para quem tem mais estômago para aceitar riscos e quer investir em prefixados. Isto porque o mercado espera, segundo o boletim Focus, que a taxa básica de juros caia a 8% ao ano em 2023. Se hoje os prefixados não são atrativos porque a Selic está subindo, o jogo pode virar se os juros caírem, já que os investimentos atrelados à Selic vão passar a pagar menos e os prefixados, como o nome já diz, vão continuar pagando o mesmo prêmio.
Se esse descolamento acontecer, quem investiu em prefixados na alta da Selic pode se dar bem. Além de garantir uma rentabilidade maior que os títulos ligados à Selic, o investir terá na carteira um ativo valorizado, algo que o mercado está procurando e poderá, inclusive, sair do investimento antes do vencimento do papel.
Os riscos da renda fixa
A operação pode ser lucrativa, mas isto não significa que não existam inúmeros fatores de risco nesta estratégia. O principal deles é claro: mudanças no rumo da economia. Se a inflação surpreender negativamente, por exemplo, o Banco Central pode ser obrigado a manter a Selic em patamares elevados mais tempo do que o esperado ou até mesmo subir os juros acima dos 12,25% esperados pelo mercado.
“O ambiente é imprevisível lá fora”, lembra Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, lembrando da tensão envolvendo Ucrânia, Rússia e Estados Unidos, “podemos ter um cenário de aperto monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), o que impactaria o Brasil, já que quanto maior é o retorno lá fora, menos atrativos os investimentos daqui ficam”.
Ou seja, se o banco central dos EUA decidir subir as taxas de juros acima do esperado ou por mais tempo do que o mercado precifica hoje, o Brasil precisaria de uma Selic mais elevada para atrair investimentos e competir com a economia norte-americana.
Controle da inflação
Outra coisa que o investidor precisa saber é que o movimento de comprar prefixados esperando baixa da Selic aposta em um bom controle da inflação no Brasil. “O investidor consegue rentabilidade elevada se a inflação ficar abaixo dos níveis atuais e tiver um bom controle; qualquer descontrole nos preços fará a rentabilidade sumir”, afirma Henrique Castro, professor de finanças da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
Títulos públicos ou privados?
Para esta estratégia, comprar títulos públicos é mais indicado pelos especialistas. Isto porque a liquidez de CDBs, LCIs, LCAs e debêntures, que podem ser prefixados, é menor que a observada em títulos do Tesouro Direto.
Entre os títulos do Tesouro Direto, Francis Wagner, CEO do app Renda Fixa indica o Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro Prefixado 2029, sendo que “o último pode ser mais interessante, porque a duração do título é maior, o que aumenta a volatilidade do ativo, fazendo com que pequenas mudanças nas taxas alterem significativamente seus preços”.
É importante reforçar que, para essa estratégia, quanto maior o período do investimento, maior o risco associado a ele. “É mais fácil projetar o que vai acontecer nos próximos meses do que nos próximos anos”, lembra Bruno Kamoto. Porém, o investimento de longo prazo pode potencializar seus ganhos. É uma decisão que deve ser feita com base no perfil de risco, considerando o objetivo que foi dado ao dinheiro investido.