Como o corte da Selic afeta seus investimentos?

Especialistas explicam o que de fato muda na sua vida com a taxa de juros mais baixa e o que merece a sua atenção

O Banco Central reduziu a taxa Selic nesta semana, de 13,25% para 12,75% ao ano. Na prática, no entanto, qual é o impacto que a nova queda da Selic tem sobre os seus investimentos?

Gilvan Bueno, sócio e gerente educacional da Órama, afirma que seguimos tendo uma taxa alta e que a redução anunciada até agora imediatamente muda pouca coisa. A renda fixa perde parcialmente seu potencial de ganhos, mas segue pagando bons rendimentos.

“12,75% continua sendo uma taxa alta, segunda maior taxa real do mundo. A renda fixa segue sendo a referência para o investidor conservador. E o brasileiro em geral é conservador justamente por termos uma renda fixa que historicamente paga dois dígitos”, afirma à Inteligência Financeira.

Para Carla Beni, professora de MBAs da FGV, é importante considerar que “o tempo da economia é diferente do tempo cronológico”. “No dia seguinte do Copom nada muda de fato na sua vida. A economia trabalha com a expectativa. E aí o mais importante é o Banco Central ter definido que nas próximas reuniões podemos esperar novos cortes de 0,50 pontos percentuais”, diz.

Renda fixa segue forte, mesmo rendendo um pouco menos

Produtos de renda fixa que tem rentabilidade atrelada à Selic ou ao CDI, que acompanha a taxa básica, veem um impacto sobre a rentabilidade. Por exemplo, o rendimento diário do Tesouro Selic, a partir da queda, passa a ser de 12,75% ao ano mais o percentual adicional, hoje entre 0,04% e 0,16%.

Da mesma maneira, o CDI passa a ser de cerca de 12,65% ao ano. Um CDB que rende 100% do CDI passa a acompanhar essa taxa. Por outro lado, um CDB que chegasse a 110% do CDI que antes rendia em torno de 14,47%, agora cai para cerca de 13,92% ao ano.

No entanto, como ressalta Gilvan Bueno, segue possível obter rentabilidades na casa de 1% ao mês em produtos desse tipo. “Os produtos de renda fixa são produtos que continuam tendo dois dígitos de rentabilidade, oferecendo boas taxas”, disse.

Produtos prefixados podem ser algo a considerar

O gerente educacional da Órama diz que LCI e LCAs seguem sendo boas opções e que de modo geral títulos prefixados são interessantes para o momento, uma vez que a perspectiva é de novas quedas da taxa Selic pelo Banco Central.

“A grande ideia do investidor vai ser olhar para os pré-fixados. Para a janela de 1, 2 ou 3 anos, especialmente 3 anos, já que a gente olha para 2026 e a Selic projetada é de 8,40% ao ano. O investidor sábio abre os pré-fixados longos e na queda de juros pode ter uma rentabilidade diferente”, disse.

Reportagem da Inteligência Financeira registrou que, por exemplo, parte dos títulos prefixados do Tesouro Direto obteve uma valorização acima de 20% nos últimos doze meses. No entanto, vale considerar que estamos falando de algo volátil e que requer uma boa análise de cenário antes de aplicar com o objetivo de revender o título.

Renda variável: queda da Selic melhora endividamento de empresas

Tradicionalmente, quando o Copom passa a reduzir seguidamente a Selic o investimento em ações ganha força. “Temos esse fator histórico. Em todos os ciclos de queda juros o Ibovespa rendeu mais do que o CDI”, afirmou André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos, em entrevista recente à Inteligência Financeira sobre o momento para investir na bolsa.

Por outro lado, para Gilvan Bueno, “ainda não é uma hora de migração para a renda variável, mas é uma hora de entender como as empresas vão melhorar a parte do endividamento”.

Portanto, apesar de ainda ser cedo para cravar uma migração para a bolsa, a queda da Selic abre um caminho, permitindo que as empresas fiquem menos endividadas.

“Não vai mudar imediatamente, mas é uma trajetória de melhora. O empresário começa a pensar em fazer novos investimentos no próximo ano, por exemplo”, explica Carla Beni.

Fundos imobiliários ganham atratividade com queda da Selic

A perspectiva para os fundos imobiliários é positiva para quem tem esse produto na carteira, afirma Gilvan Bueno, da Órama.

“A medida que os juros caem, os dividendos começam a ser o grande diferencial. Então fundos imobiliários ganham muita notoriedade uma vez que eles tem uma relação inversamente proporcional à queda da taxa de juros”, diz o especialista.