Vale a pena investir em ações com o vaivém da bolsa e a Selic mais baixa?

Especialistas apontam o que você deve fazer no momento em que o Ibovespa cai - e quais empresas podem ser as melhores opções

O Ibovespa tem dado sinais de recuperação em setembro após um agosto de frustração na bolsa de valores. Do início do mês até o fechamento de quarta-feira (14), o índice acumula uma alta de pouco mais de 3%. Mas trata-se de algo momentâneo ou as perspectivas são de fato positivas para quem quer investir na bolsa de valores?

Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira afirmam que, sim, o momento é de oportunidade no mercado de ações. A perspectiva de novas reduções na taxa Selic e o panorama da economia brasileira e de parte das empresas listadas jogam a favor desse prognóstico.

Pela primeira vez em três anos, o Itaú BBA voltou a orientar no início deste mês que os investidores aumentem participação em bolsa. Em evento recente acompanhado por reportagem da Inteligência Financeira, Nicholas McCarthy, executivo-chefe de investimentos do Itaú Unibanco, avaliou que as ações ainda estão com preço abaixo do potencial.

“Mesmo com a pandemia e a guerra na Ucrânia, os ativos estavam baratos. A perspectiva das empresas lucrarem melhorou (desde 2021)”, diz McCarthy. Pesquisa mensal do Bank of America com gestores estima que o Ibovespa atingirá uma faixa de 130 a 140 mil pontos até o final de 2024, o que reforça essa aposta.

Por que investir na bolsa de valores neste momento?

O sonho de todo bom gestor é comprar na baixa, pagar mais barato por uma ação do que ela de fato vale, e assim aproveitar tanto a valorização do papel quanto o pagamento de dividendos. No entanto, a grande dificuldade é conseguir entender quando se trata de uma baixa momentânea e quando as perspectivas são ruins e não devem melhorar.

Em entrevista à Inteligência Financeira, André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos, afirma que uma boa forma de fazer essa diferenciação é olhar para o panorama dos juros, as perspectivas políticas locais e os principais indicadores do exterior.

Para o analista, há hoje no Brasil uma previsibilidade maior na política, a inflação em relativa estabilidade e bons indicadores para o país nas cotações de petróleo e minério de ferro. Portanto, fatores que jogam a favor da conclusão de que a bolsa esteja de fato mais “barata” e vá subir nos próximos meses.

Somado a tudo isso, é claro, a perspectiva de queda da taxa Selic. “Temos esse fator histórico. Em todos os ciclos de queda juros o Ibovespa rendeu mais do que o CDI“, explica Rocha.

“Para a bolsa, o que mais vai importar é o processo de afrouxamento monetário. Com os dados mais recentes para o IPCA, nós vimos a curva de juros voltar a ceder e mais economistas passarem a considerar uma aceleração na queda de juros”, afirma João Piccioni, analista da Empiricus Research.

Qual a estratégia dos especialistas para o mercado de ações?

De acordo com os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, apesar de haver a expectativa de valorização das ações, o ideal é fazer escolhas bem ponderadas. Assim, selecionando bem como entrar e em quais empresas vale a pena investir.

Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, afirma que este é um momento que recomenda uma “gestão ativa“. Ou seja, mais do que o investimento em índices, que se privilegie a opção por determinadas companhias, a partir da análise de setores e resultados das companhias.

As carteiras recomendadas por empresas do setor, argumenta a especialista, surgem como boa opção, por serem fruto dessa observação técnica. “Apesar do momento, ainda se exige muita cautela para a pauta fiscal, com algumas pautas ainda em andamento. Estamos recomendando a entrada em setores mais sólidos e mais óbvios, como a indústria, o setor de combustíveis e o financeiro”, diz.

“Os balanços deste ano ainda vão estar penalizados pela política monetária mais dura e o primeiro trimestre de 2024 ainda vai ser ruim para as empresas, com as famílias ainda começando a sentir um pouco mais de folga no orçamento. Nesse cenário, as boas empresas, as que geralmente são as vencedoras, costumam andar mais rápido”, corrobora João Piccioni.

E quais as empresas favoritas dos especialistas neste momento?

Os profissionais ouvidos pela Inteligência Financeira citaram algumas empresas e setores que podem ser vantajosos neste momento e outros a serem olhados com mais atenção.

Larissa Frias, do C6 Bank, reforça a tese de privilegiar setores tradicionais, em especial as companhias que trabalham com serviços essenciais, e as empresas que são líderes nos seus segmentos.

A planejadora do C6 cita Itaúsa (ITSA3, ITSA4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) no setor financeiro.

No setor de combustíveis, ela menciona Petrobras (PETR3, PETR4) e PetroRio (PRIO3).

E no setor de energia, Larissa aponta Eletrobras (ELET3, ELET6) e CPFL Energia (CPFE3).

João Piccioni, da Empiricus, também cita “empresas que montaram boas estratégias e se tornaram líderes de mercado”. Ele menciona Arezzo (ARZZ3), Localiza (RENT3), Gerdau (GGBR4) e Itaú Unibanco (ITUB4). Outra empresa que, na visão do especialista, segue bastante barata para o momento é Vale (VALE3).

A construção civil também está sendo observada pelos analistas. Há a expectativa, explica Piccioni, de aceleração no final do ano, considerando ainda a tendência de migração de investimentos para o mercado imobiliário.

André Rocha, da Manchester, reforça que há expectativas para a construção civil. Apesar de a Selic ainda estar alta, há um olhar atento também pelo fato de a área ser estratégica para o governo federal.

Respeite seu perfil e diversifique

Por outro lado, por mais que a bolsa esteja caindo e existam ativos que são boas oportunidades de investimento, especialistas orientam que se mantenha a atenção com o perfil de investidor. Da mesma maneira, reforçam a importância de manter uma carteira diversificada e equilibrada.

“É importante reforçar a diversificação, essa é a nossa recomendação sempre. Mas independentemente de qualquer tendência de momento, sempre respeitar o perfil de investidor e manter o equilíbrio dentro dos portfólios e das classes de ativos”, diz Larissa Frias, do C6.