O lado ruim da renda fixa: 6 motivos para você ter cautela

Entenda o que é preciso checar antes de fazer aportes nesta classe de ativos

Você já pensou que pode existir um lado ruim nos títulos de renda fixa? Ouviu falar nos riscos da renda fixa? Pois é, eles existem. Mas veja: muitos desses riscos são, de certa forma, facilmente controlados, desde que você se planeje.

Assim, a Inteligência Financeira já escreveu e falou muito sobre o que é a renda fixa e como funciona esse tipo de investimento. Também adoramos (e vocês também, nós sabemos!) calcular quanto rendem R$ 100 mil na renda fixa e descobrir onde investir seu dinheiro para ganhar mais em 2023.  

Mas agora é hora de falar sobre alguns pontos que exigem atenção na hora de aplicar seu dinheiro buscando previsibilidade e segurança. Calma, não estamos dizendo que de uma hora para outra a renda fixa tenha se tornado uma vilã dos investimentos. De jeito nenhum!

O que nós fizemos foi ouvir três profissionais do mercado financeiro – Adriano Rondeli, especialista de alocação da Valor Investimentos, Ana Calixto, economista e consultora financeira, e David Martins, consultor de investimentos da Sara Invest – para entender quais cuidados você deve tomar para fazer as melhores escolhas. Veja abaixo:

O que é renda fixa e como funciona

Antes de apontar motivos para ter cautela, Adriano acha importante definir conceitualmente o que é renda fixa.

Apenas para relembrar, ele define renda fixa como um empréstimo. “Quem compra um CBD, LCI, LCA, debênture, CRI ou CRA, que são os principais tipos de investimento em renda fixa, está emprestando dinheiro para alguém”, explica.

Ou seja, se você comprar CDB, LCI ou LCA fará um empréstimo para o banco. Se optar por CRI ou CRA, emprestará seu dinheiro para uma empresa. E se aplicar seu dinheiro no Tesouro Direto, quem receberá seu empréstimo é o governo.

“Da mesma forma que você paga juros quando pede empréstimo no banco, quando você empresta seu dinheiro também há uma espécie de contrato com as regras que serão aplicadas”, explica Adriano.

Nessas regras estão principalmente a taxa de juros que será paga pelo seu empréstimo e o prazo em que o seu dinheiro será devolvido.

“Quem investe em renda fixa normalmente procura previsibilidade”, complementa David Martins, consultor de investimentos da Sara Invest. “No momento da aplicação, sabemos qual será a taxa de juros, por quanto tempo o valor ficará preso ou se há liquidez para fazer resgates a qualquer momento”, diz ele.

6 riscos da renda fixa para ficar de olho

Esclarecida essa primeira parte, vamos aos pontos de atenção que todo investidor deve ter com a renda fixa.

1. O rendimento é garantido apenas na data de vencimento

Primeiro ponto: sabe aquele rendimento combinado quando você faz uma aplicação em renda fixa? Um CDB que oferece 110% do CDI, por exemplo. Então, ele só é garantido se você levar o título até o prazo do vencimento.

Ops, então quer dizer que você perde tudo se fizer um resgate antecipado? Não é isso. Você não perde tudo, porém… “Por mais que o investimento renda todo dia, ou seja, tenha rentabilidade diária, o pagamento combinado só será feito no final do prazo”, esclarece Adriano.

E tem um detalhe. Geralmente, quanto mais longo for o prazo, maior é a rentabilidade oferecida pelo título.

Portanto, como recomenda Ana Calixto, economista e consultora financeira, antes de investir em Tesouro IPCA, Tesouro Renda+, CDB, LCI, LCA, debêntures, entre outros, é importante se atentar se os prazos dos títulos estão alinhados com seus objetivos financeiros.

Isso porque o prazo de vencimento será uma vantagem quando usado para conseguir rentabilidades melhores, mas será uma desvantagem se não atender à sua necessidade.

2. Atenção à liquidez da renda fixa

Outro ponto que deve ser observado quando você for investir na renda fixa é o prazo de carência. Ou seja, o tempo que seu dinheiro ficará “preso” na aplicação, sem que você possa fazer qualquer resgate.

Não é toda aplicação de renda fixa que tem essa questão. Porém, antes de se jogar em alguma delas, vale a pena checar esse item. Existem aplicações que têm um prazo de carência de 90 dias. É bem comum em LCIs e LCAs, por exemplo. E, nesse período, você simplesmente não pode mexer no dinheiro.

Há também, claro, aquelas que têm liquidez diária. Mas aí também existe um porém. “Quanto maior a liquidez da renda fixa, em geral, menor é a taxa de juros que você consegue”, lembra Adriano.

3. Resgate antecipado pode ficar sujeito ao risco de mercado

Este é o nosso terceiro ponto de atenção. Já dissemos que a rentabilidade contratada só vale na data de vencimento do título, certo? Também explicamos que algumas aplicações ficam “travadas” durante um período.

Pois bem. Agora é hora de lembrar que, em boa parte dos títulos, você só pode fazer resgate antecipado no mercado secundário. O que, segundo Adriano, faz todo sentido.

“Quando uma empresa pega dinheiro emprestado com você, ela não pode abrir mão desse dinheiro e devolver antes do combinado” justifica.

O que isso quer dizer? Que se você resgatar aplicações em CRIs, CRAs e debêntures antes do prazo combinado, terá de vender os títulos no mercado secundário. Ou seja, fará a venda para outros investidores. “E, para que a venda seja realizada, é preciso que um investidor queira comprar o título”, diz ele.

E tem mais. Além de a rentabilidade contratada não estar mais garantida em caso de venda antecipada, o título poderá estar desvalorizado, fazendo com que você perca dinheiro. Claro, se você tiver sorte, é possível que ele esteja valorizado. E aí, sim, você pode ter lucro. Mas existe o risco, certo?

O Tesouro Direto, apenas para lembrar, oferece diariamente a opção de recompra para quem precisa resgatar títulos antes do vencimento.

Resumindo, se você não sabe quando vai precisar resgatar o dinheiro, a dica é conferir, no momento do aporte, se a aplicação tem liquidez ou pode ser resgatada apenas no vencimento do título.

4. Descontos seguem tabela regressiva de IR

Agora chegamos a um ponto que ninguém gosta muito de lembrar: a mordida do leão.

Adriano lembra que boa parte dos rendimentos de renda fixa sofrem descontos seguindo a tabela regressiva de IR. Por isso, mais uma vez, quanto mais tempo você deixar o dinheiro aplicado, melhor.

“Acima de 2 anos você já pega a taxa de 15%”, diz ele. Até 6 meses, por outro lado, a mordida é de 22,5%. De 6 meses a 1 ano, 20%, e de um a dois 17,5%.

Exceções? Temos também. A queridinha do Brasil, poupança, LCIs e LCAs, CRIs e CRAs e debêntures incentivas, por exemplo.

5. Não existe “retorno fixo” na renda fixa

Para tudo! Como assim? Calma, não é tão grave, mas é isso mesmo.

 “O investidor precisa ter clareza que não é porque a renda é fixa que o retorno é fixo”, esclarece Ana.

Como ela explica, o grande diferencial desses investimentos é ter previamente definido qual o prazo de vencimento do título, a taxa de juros e o índice de referência (como IPCA, CDI e Selic) para cálculo da rentabilidade.

“Entretanto, não é possível afirmar, em reais, qual será o retorno, uma vez que os índices variam de acordo com o cenário econômico do Brasil”, destaca a especialista.

6. Existem riscos atrelados aos emissores dos títulos

Para completar a lista de cuidados que você deve ter com a renda fixa, David ainda lembra que há risco de calote.

“Claro que quando você investe no Tesouro Direto, a garantia é o Tesouro Nacional”, diz ele. “Portanto, em tese, é um ativo seguro porque o país precisa quebrar para não efetuar o pagamento” diz.

Por outro lado, quando falamos em debêntures, CRIs ou CRAs, por exemplo, existe o risco de a empresa emissora do título quebrar. “E aí pode ser que eu não receba o dinheiro, tenha de entrar com medidas judiciais etc”, alerta.

“E, para minimizar o risco, ao aplicar em CDBs, LCIs ou LCAs, por exemplo, é importante checar se as aplicações são cobertas pelo Fundo Garantidor de Crédito”, ressalta. Lembrando que o limite é de R$ 250 mil por conta (CPF ou CNPJ) em entidades distintas ou até o limite de R$ 1 milhão somando o total investido nelas, ok?