Tesla (TSLA34): investir pelas promessas de Elon Musk ou pelos resultados da empresa?

Quais são os desafios da empresa do polêmico Elon Musk? E o que levar em conta na hora de decidir investir – ou não – na companhia?

Apesar da alta de 15,31% na última segunda-feira (29), as ações da Tesla (TSLA34) apresentam uma péssima performance em 2024. O preço dos papéis da empresa de Elon Musk chegou a cair 40% neste ano, levando a empresa a ter um valor de mercado próximo a US$ 460 bilhões no fechamento do dia 24, um dia após a companhia divulgar os resultados do primeiro trimestre do ano.

As ações da Tesla já tinham caído ao longo do último ano, um reflexo de fatores como as elevadas taxas de juros em muitos países, que dificultaram o acesso ao financiamento para a compra de seus carros elétricos. Na terça-feira (30), o papel fechou o dia cotado a US$ 183,52, queda de 5,43% (cabe aqui voltar ao passado e recordar que, em novembro de 2021, cada ação da companhia valia mais de US$ 400).

Mas, afinal, quais são os desafios da empresa do polêmico Elon Musk? E o que levar em conta na hora de decidir investir – ou não – na companhia? Confira abaixo o que dizem os analistas.

Qual é a situação atual da Tesla (TSLA34)?

A Tesla (TSLA34) tem enfrentado desafios no mercado de carros, tendo perdido participação para outras montadoras na América do Norte, Europa e China. A empresa tem perdido margem operacional indo de 17% em 2022 para 8% nos últimos 12 meses. E a receita cai ano contra ano.

“O momento é desafiador, inclusive levando a demissões em massa. A empresa está tentando fazer uma mudança de estratégia, ao focar em autonomia de carros. O investidor precisa acreditar que a Tesla vai ter táxis autônomos”, afirma Matheus Popst, sócio da Arbor Capital.

Sobre as demissões na companhia, você entende neste texto.

Diante do cenário, a Bridgewise, fintech israelense de análise de investimentos via inteligência artificial (IA), tem recomendação de venda para a empresa de Elon Musk.

De acordo com Thiago Guedes, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Bridgewise no Brasil, a Tesla apresentou um relatório financeiro desafiador no último trimestre, e a análise dos fundamentos da empresa revela várias preocupações.

“A análise técnica sugere um sentimento baixista, com a ação negociando abaixo das médias móveis de 50 e 200 dias. Portanto, o momento atual não parece favorável para investir em Tesla. As notícias recentes, incluindo o recall de Cybertrucks e as preocupações com o sistema Autopilot, também podem influenciar negativamente a percepção do mercado sobre a Tesla”, destaca Guedes.

Como lidar com as opiniões de Elon Musk?

Com tantas questões em aberto para a empresa neste momento, como lidar ainda com as falas polêmicas de Elon Musk na hora de decidir a compra ou não dos papéis da Tesla (TSLA34)? Não há muito para onde fugir.

“A ação da Tesla é a ação do Elon Musk, e ele importa muito”, resume Popst. Ele explica: “A Tesla é uma ação que precifica uma probabilidade alta de sucesso de a empresa conseguir autonomia em seus carros. Então, os resultados operacionais atuais são menos importantes para os bulls (ciclos de altas), e sim evidências de sucesso em direção à autonomia. E isso é muito dependente do Musk”.

De acordo com Enzo Pacheco, analista especialista em investimentos internacionais da Empiricus, quem compra ação da Tesla (TSLA34) já sabe que ela vem com o pacote do Musk.

“É um fator que pode gerar surpresa na ação, que pode ser tanto positiva quanto negativa. Foi o Musk quem comprou essa ideia do veículo elétrico lá atrás, quando ninguém queria. Nessa parte de veículo autônomo, é ele o único cara que parece que compra a ideia. Ao adquirir as ações da Tesla, você compra tanto o médico quanto o monstro. Não tem como fugir. Isso vai gerar volatilidade. Mas paciência”, destaca Pacheco.

Empresa automotiva ou de inovação tecnológica?

Guedes faz coro com Popst e Pacheco e pontua que a fala do Elon Musk realmente tem um peso muito grande na expectativa dos investidores com relação ao futuro da empresa. “Isso porque, quando a gente olha os dados frios, vemos que é uma empresa que não está indo bem em comparação com seus pares. Mas, se Musk traz inovações, ele pode posicionar a Tesla em um mercado até diferente das concorrentes que ela possui”, afirma o diretor da Bridgewise.

A grande questão, de acordo com os analistas ouvidos pela Inteligência Financeira, é entender como a Tesla vai se posicionar: se como uma empresa automotiva ou de inovação tecnológica. “Será que se trata de uma empresa de automóvel comum ou ela vai trazer uma Inteligência Artificial fazendo com que esse automóvel vai se autodirigir e isso vai fazer cair o preço de várias outras indústrias? O problema da Tesla é entender o que vai ser o seu futuro, se ela realmente vai entregar essas inovações que o Elon Musk pensa que a companhia vai conseguir executar”, questiona Guedes.

Tesla (TSLA34) fora das Magnificent 7? Confira o que dizem os analistas

Com a queda das ações da Tesla (TSLA34) neste ano, muitos analistas têm questionado a presença da empresa de Elon Musk entre as Magnificent 7, ou as 7 Magníficas. Mas, afinal, a companhia ainda merece estar neste seleto grupo das maiores big techs do mundo? Confira o que dizem os analistas consultados pela Inteligência Financeira.

Enzo Pacheco, analista especialista em investimentos internacionais da Empiricus:

“Eu não descartaria a Tesla desse grupo porque ela sempre pode surpreender com alguma notícia. O resultado da Tesla surpreendeu, não na parte do resultado em si, mas na perspectiva da companhia daqui para frente. Se você for avaliá-la como uma empresa de tecnologia, ela pode valer mais que esses US$ 600 bilhões de mercado hoje que está na tela. Porém, se for avaliá-la como uma empresa de automóveis, vejo a ação ainda não saindo desse cenário difícil.”

Matheus Popst, sócio da Arbor Capital:

“Apesar de Magnificent 7 ser apenas um apelido dado às sete mega-caps de tecnologia e adjacências que lideraram a alta do mercado em 2023, existem empresas maiores em capitalização de mercado que a Tesla, como a Eli Lilly e a Broadcom (que é de tecnologia). Mas a Tesla tem sua importância no mercado acionário. O volume de negociação é mais que o dobro a sua FAAMG (Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google) média e outras empresas, como Lilly e Broadcom, que têm somente uma fração do volume de negociação da Tesla. Ela merece seu lugar de destaque.”

Thiago Guedes, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Bridgewise no Brasil:

“É muito cedo para falar se a empresa vai deixar de pertencer às Magnificent 7. A gente tem que esperar mais uns três trimestres de resultado para consolidar isso. Ela é muito grande. O impacto do que o Elon Musk está demonstrando do que ele pode entregar no futuro pode continuar impactando o preço da empresa e tendo uma pressão de compra muito grande. No momento, a recomendação é de venda, a própria análise técnica mostra um movimento não muito bom para os números que a empresa tem entregado.”

Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos:

“Em resumo, em termos de valuation, é um papel esticado, e a empresa corre o risco de sair do ranking das 7 Magníficas. Portanto, não acho que seria uma boa opção de entrada agora de investimento. Há outros ativos que chamam mais atenção do que a Tesla.”

Jonas Scorza Floriani, sócio e analista Buy-side da Fundamenta Investimentos:

“Em termos de relevância, a Tesla continua, sim, fazendo parte das empresas tech mais importantes do mundo. O descolamento versus outras Mag-6, ou Mag-5, se dá em função da performance mais prejudicada das ações versus as outras seis em 2024. A Tesla participar ou não de um grupo conhecido como Mag-7 é uma simples consequência da performance das ações, do market cap da empresa e do setor em que se encontra.”