Musk anuncia que Tesla vai demitir mais de 10% dos funcionários; o que está acontecendo com a empresa?

Ações já cairam quase 33% desde janeiro; empresa enfrenta intervalo entre lançamentos, juros altos e concorrência chinesa

O empresário Elon Musk enviou um comunicado aos funcionários da Tesla (TSLA34) informando a decisão de demitir “mais de 10% dos funcionários” ao redor do mundo. “Não há nada que eu odeie mais, mas precisa ser feito”, escreveu Musk.

Ele não informou qual é o número exato de cortes, nem quais áreas da empresa serão afetadas. Em seu último relatório anual, de dezembro de 2023, a Tesla reportou que tinha pouco mais de 140 mil funcionários. Ou seja, podemos estar falando do desligamento de ao menos 14 mil colaboradores da fabricante de carros elétricos.

Por que Elon Musk está fazendo demissões na Tesla?

No comunicado enviado aos funcionários, publicado na íntegra pelo Business Insider, Elon Musk alega que a empresa cresceu rápido e que há “duplicação de cargos e funções em certas áreas”. Ele afirma que se mapeou as funções na companhia e por isso tomou a decisão pelos cortes.

“Enquanto nós estamos preparando a empresa para a próxima fase de crescimento, é extremamente importante olhar cada aspecto da companhia para reduções de custos e aumento da produtividade”, escreveu o empresário.

Após a breve explicação, Elon Musk agradece seus agora ex-funcionários pelo trabalho ao longo dos últimos anos e pede a colaboração de quem ficou.

“Para os que ficam, eu quero agradecer antecipadamente pelo trabalho difícil que permanece à frente. Nós estamos preparando algumas das mais revolucionárias tecnologias em carros, energia e inteligência artificial”, conclui.

O que está acontecendo com a Tesla?

Musk fala a verdade quando diz que o número de funcionários da Tesla cresceu de forma acelerada. De 2020 para cá, o quadro de funcionários quase dobrou, segundo a Bloomberg.

No entanto, cargos e funções duplicadas não são o único motivo de preocupação para a empresa.

As ações da Tesla na Nasdaq já caíram quase 33% desde janeiro, um movimento que reflete preocupações com os resultados e as perspectivas da empresa. Em janeiro, quando os papéis já estavam recuando, a companhia admitiu que o crescimento das vendas de seus carros “pode ser notavelmente menor” neste ano.

Ao final do primeiro trimestre, a situação ganhou contornos mais dramáticos. No seu report trimestral, a Tesla informou que vendeu 386.810 carros no período, o que representa uma queda de 8,5% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Foi a primeira vez, desde 2020, que a empresa teve uma queda ano-a-ano

Há algumas razões apontadas para explicar esse fato. No início do ano, quando a Tesla abriu o jogo sobre crescer menos esse ano, Elon Musk citou as taxas de juros, que seguem altas nos Estados Unidos, e a concorrência com as empresas chinesas.

“Se não forem estabelecidas barreiras comerciais, elas [montadoras chinesas] vão praticamente demolir a maior parte das outras montadoras no mundo”, disse o CEO da Tesla.

De acordo com o jornal The Wall Street Journal, outro fator citado por executivos da empresa é que a Tesla está “entre duas grandes ondas”, aguardando seus próximos lançamentos para retomar a alta. Lançamentos estes que incluiriam um modelo mais barato voltado a alcançar um público e um robotáxi, veículo automatizado que está sendo prometido para o segundo semestre.

A Tesla e a China

Um país decisivo para o passado e o futuro da Tesla é a China. A inauguração da fábrica da empresa, a maior e mais produtiva, em terras chinesas foi um marco para a empresa e para Elon Musk.

Reportagem do jornal The New York Times detalha esse movimento. Enfrentando problemas com leis trabalhistas na Califórnia, Musk migra o grosso da produção da Tesla para a China onde, segundo o jornal, os relatos são de semanas de trabalho de 12 horas por dia, 6 dias por semana.

Por outro lado, a avaliação é que Elon Musk se tornou dependente do país asiático, uma vez que o percentual da produção oriundo de lá se tornou cada vez maior. Enquanto isso, nos últimos anos a Tesla ajudou no desenvolvimento da indústria local de componentes, além de uma geração de profissionais.

É justamente esse ecossistema industrial favorável que vira agora uma dor de cabeça para Musk, favorecendo o crescimento de empresas como a BYD. Acontece que, para preocupação da Tesla, as montadoras chinesas oferecem preços por vezes mais competitivos que a empresa de Musk, que fala em proteções comerciais.