Dólar ultrapassa R$ 5,50 e sobe ao maior nível desde janeiro de 2022; exportadoras dão força ao Ibovespa, que fecha em alta de 0,25%

Bolsa de valores hoje: veja como se comportaram o Ibovespa e o dólar nesta quarta-feira (26) e o que movimentou os ativos

Após apresentar viés negativo durante a manhã, em linha com os demais ativos locais e por conta da persistente piora no sentimento interno, o Ibovespa nesta quarta (26) ganhou algum fôlego com a ajuda de ações de empresas exportadoras, que são beneficiadas pela alta do dólar, e fechou a sessão com leve alta.

Não obstante, o giro financeiro do índice segue em patamares baixos.

Ibovespa hoje

No fim do dia, o índice subiu 0,25%, aos 122.641 pontos. Na mínima intradiária, tocou os 121.402 pontos, e, na máxima, os 122.701 pontos.

O volume financeiro negociado na sessão (até as 17h15) foi de R$ 14,33 bilhões no Ibovespa e R$ 19,25 bilhões na B3.

Falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, interpretadas novamente por agentes como falta de disposição do governo de realizar algum ajuste fiscal, voltaram a pressionar dólar e juros na sessão e chegaram a empurrar o Ibovespa para o campo negativo durante a manhã.

No entanto, durante a tarde, o índice foi recuperando terreno, liderado por empresas exportadoras, que se beneficiam da alta da divisa americana.

Raphael Figueredo, estrategista-chefe da Eleven Financial, opina que as classes de ativos locais estão desconexas nos últimos dias. Segundo ele, o mercado de ações tenta se recuperar desde a decisão unânime do Copom na semana passada, que foi reforçada pela ata divulgada na terça-feira e por falas do diretor de política monetária da entidade, Gabriel Galípolo, posteriormente.

“O índice saiu dos 118 mil pontos para 122 mil pontos e pode fechar junho no campo positivo após três meses consecutivos de quedas”, diz.

“Já câmbio e juros estão sendo mais afetados pelas incertezas internas, com as falas do presidente Lula contribuindo para isso. Entendo que por vezes o mercado exagera nos movimentos e isso pode estar ocorrendo agora. Agentes jogaram a toalha em relação à pauta fiscal e agora precificam cenário pior.”

Na bolsa, pondera, o comportamento recente tem sido de rotação para segmentos mais defensivos, mas ainda considera prematuro recomendar isso para os clientes.

“Por enquanto, acredito que seja uma recuperação desses setores diante dos exageros recentes, e que a dinâmica pode se ampliar. Dados de inflação por aqui nos Estados Unidos vão ser importantes para cristalizar cenário”, diz.

Figueiredo opina ainda que o mercado parece pronto para mudar de patamar, na medida em que a relação entre fundamento e preço das ações parece cada vez mais atrativa. Não por acaso, afirma, o fluxo estrangeiro tem voltado aos poucos.

“Ainda há muito ruído e isso traz sensação ruim para o investidor, mas como os preços estão se afastando muito dos fundamentos do mercado, vejo grandes oportunidades aparecendo.”

Na sessão, Usiminas PNA teve ganhos de 3,32%, Prio ON subiu 2,38%, Suzano ON avançou 2,23%, Vale ON apresentou alta de 1,24% e Petrobras ON subiu 0,51%.

Dólar hoje

Em mais um dia de forte valorização contra o real, o dólar superou o nível técnico e psicológico de R$ 5,50 e, assim, encerrou o pregão desta quarta-feira no maior patamar desde 18 de janeiro de 2022.

Do exterior, o aumento dos juros dos Treasuries abriu espaço para uma apreciação global do dólar, ao mesmo tempo em que a dinâmica interna voltou a exercer pressão sobre o real, após novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a condução da política fiscal e monetária alimentaram uma piora na percepção de risco.

No fim dos negócios no mercado à vista, o dólar teve alta de 1,20%, cotado a R$ 5,5188, próximo da máxima do dia (R$ 5,5258). Já o euro comercial encerrou a sessão com valorização de 0,88%, a R$ 5,8947.

No exterior, o índice DXY operava em alta de 0,42% neste fim de tarde, a 106,055 pontos, enquanto o dólar subia 1,25% contra o peso mexicano e avançava 1,28% em relação ao peso colombiano.

As moedas da América Latina, assim, apresentam desvalorização semelhante, o que, na leitura de alguns participantes do mercado, pode indicar um desmonte conjunto de posições nos mercados de câmbio da América Latina.

A sessão desta quarta-feira começou com o dólar exibindo apreciação, ainda que contida, se comparada à valorização que a moeda americana apresentava em mercados pares.

A dinâmica veio como reflexo do avanço dos rendimentos dos Treasuries, em um dia em que o retorno da T-note de dez anos avançou de 4,252% para 4,334%.

A deterioração mais forte do desempenho do real ocorreu após comentários do presidente Lula em entrevista concedida pela manhã ao portal “UOL”.

Em sua fala, o presidente descartou mudanças na política de salário mínimo e afirmou que o problema “não é ter que cortar”, mas sim saber “se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação”.

O operador de câmbio de um grande banco diz em condição de anonimato que o mercado externo já estava exercendo influência sobre o real, mas as falas do presidente ajudaram a elevar a pressão sobre o câmbio brasileiro. “Lula só falou coisas ruins para o mercado”, afirma.

Na avaliação do estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausio Giacomelli, não houve uma mudança de cenário para que o dólar piorasse, mas sim a percepção cada vez maior dos agentes financeiros de que a política econômica brasileira não é sustentável.

“O ambiente é mais ou menos o mesmo desde o começo do ano, mas a realidade está chegando”, diz. “O fato é que uma política insustentável uma hora colapsa. E é insustentável um modelo de crescimento baseado na demanda, com aumento de gastos, elevação de tributos e expansão de crédito, em um mundo em que os juros são mais altos e a tolerância com problemas fiscais é menor”, afirma.

Giacomelli ressalta que em abril houve uma mudança de perspectiva dos mercados em relação à questão fiscal após uma discussão global sobre juro neutro. “Acho que esse foi o começo do fim da complacência com gastos”, diz.

“Só que no Brasil, logo após o ‘sell-off’ de abril, os três Poderes demonstraram intenção de ter mais gastos. Ou seja, tivemos a sinalização errada na hora errada”, complementa.

Para o estrategista, o Brasil está dando uma resposta inadequada ao problema. “Queremos fazer uma dieta fiscal sem cortar o chocolate, a gordura, o queijo e o vinho, tudo na base do Ozempic? Tudo bem, só que podemos ver o dólar a R$ 6.”

Sobre esse patamar do câmbio, o estrategista do Deutsche Bank diz que, com a piora, o mercado passa a olhar para as referências históricas. “É tudo especulação, mas basta olhar o passado… Chegamos a R$ 5,80 no passado. Se corrigirmos o valor do câmbio de 2002, teríamos algo em torno de R$ 6,50 ou R$ 7 por dólar. As referências dão indicações, e o teto não é o dólar a R$ 5,50.”

Giacomelli diz, ainda, não ver exageros nas reações do mercado recentemente. Sua leitura é de que, se a reação foi só observada levando em consideração apenas as condições da balança comercial, inflação e crescimento, então, sim, pode haver um exagero.

“Mas sabemos que câmbio e política monetária não refletem só o corrente, mas o futuro, a estabilidade financeira”, afirma. “Há riscos de política fiscal e monetária. Por isso, não vejo os agentes perdendo a razão; estão saindo dos países mais expostos a riscos e colocando nos países menos expostos.”

A saída, ainda de acordo com o executivo do Deutsche Bank, estaria em uma política fiscal “whatever it takes” (‘custe o que custar’, na tradução livre — frase cunhada pelo ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi durante a crise do euro em 2012). “A forma de ancorar isso é mostrar que será feito o que for necessário fiscalmente, mesmo que tenha que cortar no osso”, afirma.

Bolsas de Nova York

As bolsas de Nova York superaram um pregão de baixo apetite por risco nos mercados globais e fecharam em alta modesta com o suporte do bom desempenho de algumas gigantes do setor de tecnologia dos Estados Unidos.

O índice Dow Jones fechou em leve alta de 0,04%, a 39.127,80 pontos; o S&P 500 subiu 0,16%, a 5.477,91 pontos; e o Nasdaq avançou 0,49%, a 17.805,16 pontos.

O movimento positivo foi puxado pelos saltos de Tesla (+4,81%), Amazon (+3,90%) e Apple (+2,00%), que destoaram do ritmo morno da maioria das ações no pregão de hoje.

A maior alta do dia no S&P 500, contudo, ficou com o FedEx, que valorizou 15,53% depois da empresa de entregas apresentar balanço trimestral e projeções que animaram os investidores.

Assim, os ganhos fortes de algumas ações impediram que as bolsas de Nova York seguissem a tendência negativa dos Treasuries, à medida que o mercado demonstra cautela às vésperas de importantes indicadores econômicos dos Estados Unidos, em especial o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês). O dado é usado como referência para as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed).

Bolsas da Europa

Os principais índices acionários europeus encerraram a quarta-feira (26) em queda, em meio ao pessimismo após dados mostrarem uma queda no sentimento do consumidor da Alemanha e, também, por conta de uma maior cautela dos investidores com a aproximação das eleições legislativas da França.

O índice Stoxx 600 caiu 0,53%, a 514,95 pontos. O DAX, de Frankfurt, cedeu 0,12%, a 18.155,24 pontos, o CAC 40, de Paris, perdeu 0,69%, para 7.609,15 pontos, e o FTSE 100, da bolsa de Londres, anotou queda de 0,27%, a 8.225,33 pontos.

Pela manhã, foi divulgada a Pesquisa de Confiança do Consumidor da GfK para julho, que caiu de -21,0 para -21,8, contrariando as expectativas do mercado, que apontavam uma melhora para -18,9.

Ao mesmo tempo, o nervosismo antes do primeiro turno das eleições legislativas francesas, que acontece no domingo (30), também impediu que os índices registrassem ganhos.

Entre as ações, os papéis da Volkswagen foram destaque, fechando em queda de 1,48%, após a companhia informar, na véspera, que investiria até US$ 5 bilhões na fabricante americana de veículos elétricos Rivian como parte de uma nova joint venture.

Com informações do Valor Econômico