O que esperar das ações da Lojas Quero-Quero (LJQQ3) diante da reconstrução do RS

Varejista famosa por vender materiais de construção, ação da Lojas Quero-Quero (LJQQ3) subiu 15% com Auxílio Reconstrução; entenda o efeito

Quando o governo federal anunciou o Auxílio Reconstrução, medida de emergência que transfere R$ 5,1 mil por família cuja residência foi afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, uma ação despontou na bolsa com alta de 15%. O papel da Lojas Quero-Quero (LJQQ3), rede varejista presente principalmente no interior do Estado afetado pelas chuvas, foi a ação que mais subiu na B3 na última quarta-feira, dia do anúncio.

É um consenso do mercado que a Lojas Quero-Quero (LJQQ3) deve se beneficiar da injeção de dinheiro via Auxílio Reconstrução, com a renda destinada para a compra de materiais de construção e reposição de eletrodomésticos. A rede é conhecida pela venda desses itens. Fora o vale federal, o governo do Rio Grande do Sul vai pagar mais R$ 2,5 mil por família em situação de pobreza e extrema pobreza. Mas especialistas dizem que o fôlego da reconstrução para as ações da Quero-Quero não deve durar tanto.

Impacto do Auxílio Reconstrução na Lojas Quero-Quero (LJQQ3)

O Auxílio Reconstrução deve reforçar a receita bruta da Lojas Quero-Quero (LJQQ3), dizem especialistas consultados pela Inteligência financeira.

Entre os desafios mais recentes da companhia, a deflação de materiais de construção vinha prejudicando a margem bruta de venda de mercadorias. A proporção da receita e lucro bruto cresceu apenas 0,4 pontos percentuais entre o primeiro trimestre de 2024 ante igual período do ano passado.

Com as enchentes, é esperado aumento de procura por materiais de construção, o que pode jogar preços para cima. A avaliação é de Ana Maria Castelo, responsável pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), do FGV Ibre.

“Não haverá nenhum problema com a oferta”, diz Ana. “Mas, ao que tudo indica, teremos um aumento da demanda. E estamos vindo de uma demanda que estava despencando”.

Na indústria de materiais, que abrange desde concreto até tintas usadas em obras, 28% das vendas de produtos em 2022 foram para a Região Sul, com 8% indo para o Rio Grande do Sul. Desta parcela, 21% vai para o comércio varejista, para baias de lojas como as da Quero-Quero.

“Isso obviamente vai gerar uma pressão no mercado”, diz Castelo.

O crescimento da demanda pode justamente vir do Auxílio Reconstrução. Para a Lojas Quero-Quero (LJQQ3), o vale é importante principalmente para impulsionar as vendas em mesmas lojas, ou same store sales (SSS).

O SSS caiu 3,1% no último trimestre.

“Como a Quero-Quero está ficando mais endividada e não está expandindo lojas, vai ser importante o aumento de SSS. É o ponto principal”, diz Renato Reis, analista da Blue3 Research.

Fôlego pode não durar

Contudo, Reis explica que o efeito do Auxílio Reconstrução pode não durar mais de um ano no balanço da empresa.

“O vale é importante, mas não seria transformacional para a empresa”, comenta o analista. Tudo vai depender, afinal, se a Quero-Quero terá capacidade de repassar preços de aumento de demanda na linha de construção.

Daqui a um ano não teremos mais efeito. O vale tende a ser um aspecto sazonal do balanço de 2024.”

Renato Reis, analista da Blue3 Research

A previsão de uma Selic ainda maior do que 10% até dezembro e dificuldades no setor do agronegócio podem impedir a varejista de emplacar o crescimento de margem.

“Como ela tem muitas lojas no interior, ela não depende muito do crescimento econômico, mas sim do agronegócio, cujo índice de inadimplência está aumentando.”

Mas, para Lucas Mello, gestor de ações da Somma Investimentos, o contrário deve ocorrer:

“O setor de varejo, como farmácias e supermercados, também vai precisar de reconstrução”, explica. Para ele, empresas podem também cogitar a migração de suas sedes para locais onde estarão a salvo das inundações de rios como o Guaíba. Por exemplo, a região da serra gaúcha.

Segundo levantamento da Somma, a Quero-Quero tem área de vendas total de 368 mil metros quadrados no Rio Grade do Sul, o equivalente a mais de 54% do total da operação nacional.

O que faz preço nas ações da Lojas Quero-Quero (LJQQ3)

Para especialistas, as ações da Lojas Quero-Quero (LJQQ3) já incorporaram no preço de tela o vale do governo federal.

O principal desafio da ação a ser observado por investidores, de acordo com Vitor Pallazo, professor da FIA-USP, é se a Lojas Quero-Quero vai “se manter competitiva num cenário de escoamento de dinheiro”.

“O valor da ação decorre grosseiramente dos lucros que a empresa é capaz de gerar. E o resultado vai ser decidido nesses dois fatores: volume de vendas e competitividade via preços”, afirma.

Acho difícil o auxílio destravar mais valor nas ações.”

Lucas Mello, gestor de ações da Somma Investimentos

Pallazo aconselha a acionistas que monitorem a política de preços da Quero-Quero à frente.

“Faz sentido uma valorização das ações nos próximos meses. Hoje, o valuation está adequado para o que ela é”, diz. Ele possui uma visão neutra para o papel, mas com “perspectiva positiva”.

Em contraponto, Reis argumenta que a Lojas Quero-Quero (LJQQ3) “teria que crescer 11% ao ano em margem de lucro antes de juros e impostos (EBIT)” para justificar o preço da ação.

“Tem espaço para evoluir, mas com Selic alta e agro fraco, cada vez que a rede não cresce em receita, o mercado vai punir mais o papel.”

A Somma tem ações da Lojas Quero-Quero na carteira, diz Lucas Mello. “Retomada de crescimento do Estado, para retomar uma taxa normal após a crise, vai ajudar a reprecificar o papel.”