Vendas no comércio físico crescem 2,2%; ações do varejo podem se recuperar na bolsa?

Dados do Serasa Experian mostram que novembro foi melhor mês do ano para o comércio físico desde junho; investir no varejo ainda requer 'cautela', diz analista
Pontos-chave:
  • Cenário de curto prazo continua pessimista
  • Varejo de alimentos e bebida e para consumidor de classe alta é menos impactado
  • Falta 'drive' para as ações de Magalu, Via e Americanas

O fim de ano geralmente motiva o consumidor brasileiro a abrir o coração aos amigos e o bolso para os presentes. É a época de renovar móveis, eletrodomésticos antigos, ou o guarda-roupa que não cabe mais.

Segundo dados do Serasa Experian cedidos com exclusividade à Inteligência Financeira, as vendas do comércio em lojas físicas cresceram 2,2% em novembro em relação a outubro, quando houve recuo de 0,6%. Conforme o birô de crédito, foi a maior alta de vendas registrada pelo comércio físico desde junho, mês em que o índice teve alta de 2,4%.

Mas o cenário do varejo nacional não deve se recuperar do tombo da Black Friday neste ano.

Cenário econômico permanece desafiador, diz Serasa

O Serasa destaca que o movimento positivo nas vendas físicas do comércio foi impulsionado pelo bom desempenho no setor automobilístico. Veículos, Motos e Peças tiveram expansão de 6,6% em novembro, recuperando praticamente toda a queda do mês de outubro, de -6%.

De acordo com Luiz Rabi, economista do Serasa Experian, o mês de novembro foi o segundo melhor de 2022 em vendas de novos veículos após dois meses seguidos de quedas. “Ainda assim, os outros segmentos do varejo apresentaram resultados mistos, refletindo o cenário econômico ainda bastante desafiador para os comerciantes do país”, diz o economista.

Alguns setores deixaram mesmo a desejar nas vendas. É o caso de Tecidos, Vestuário, Calçados e Acessórios, com queda de 3% em novembro ante saldo positivo de 0,7% em outubro. Além da moda, o ramo de Materiais de Construção também despencou. Foi de 1,2%, em outubro, para -3,4%, em novembro.

Na comparação anual, as vendas aumentaram 4,4% no comércio físico brasileiro.

Final de ano continuará ruim para o varejo

Mesmo com uma ligeira melhora no cenário das vendas físicas, o final de ano do varejo não teve tirar o amargor da pior Black Friday da história para as varejistas.

Para Lucas Rolim de Lima, analista de varejo e construção da VG Research, as ações de Magalu (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) na bolsa de valores não devem se recuperar tão cedo.

“A Black Friday de 2022 foi muito fraca e decepcionou bastante, foi a pior da história”, diz Lucas. “Os dados mostraram que as vendas físicas não animaram o investidor nem um pouco”, completou. Ele explica que a base para o crescimento deste ano foi 2021, quando as lojas físicas tiveram redução de 4% nas vendas.

Quando, no auge da pandemia, o comércio eletrônico foi o carro chefe de eventos como a Black Friday, as lojas físicas perderam receita pelas medidas de distanciamento e conveniência de comprar de casa. Agora, era esperado que elas recuperassem a participação ao nível ‘pré-pandemia’. No entanto, isso ainda não ocorreu, diz Lucas.

Alta de juros e inflação são obstáculo

“As lojas físicas deveriam ter voltado mais fortes. Mas o poder de compra do consumidor está bastante deteriorado com alta taxa de juros e inflação”, diz o analista da VG Research, destacando que varejistas com público-alvo de baixa renda e focadas na venda de bens duráveis — móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos — vêm sofrendo mais com o cenário macroeconômico.

Nesse caso, as varejistas mais voltadas para as classes C e D, como Via, Magazine Luiza e Americanas, sentem mais os impactos.

Na contramão, o analista explica que o setor de alimentos no comércio tende a ir melhor, inclusive melhorando a expectativa sobre os balanços de companhias do ramo para 4º trimestre de 2022.

De fato, a pesquisa do Serasa mostra que o setor de Supermercados, Hipermercados, Alimentos e bebidas cresceu em vendas físicas de -0,5% em outubro para 0,1% em novembro. Mas Móveis, Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos e Informática tiveram salto ainda mais expressivo, de 0,6% a 2,0%.

Copa do Mundo roubou a cena

A força da Copa do Mundo levou o consumidor brasileiro a prestar menos atenção em renovar os eletrodomésticos de casa, e mais em como ele poderia receber os amigos para comemorar os jogos — com direito a bebida e alimentos.

“A Copa fez as pessoas esquecerem da Black Friday, final de ano e Natal. Isso acabou canibalizando as vendas na data comercial”, diz Lucas.

Varejo não tem ‘drive’ para crescer na bolsa, diz analista

Para Lucas Lima, ações de varejistas na bolsa não têm espaço para crescer de forma sustentável. Falta um ‘drive’ para jogar os papéis de Magalu, Via e Americanas para cima.

Varejistas como Arezzo (ARZZ3), Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3), apesar de performarem igual, devem se beneficiar mais no médio e longo prazo. Afinal, o público de alta renda dessas companhias continuará gastando em vestuário, pontua o analista da VG Research.

O desfecho da incerteza macroeconômica e da curva de juros afasta o investidor do varejo. Mesmo com o valuation das empresas descontado, a recomendação da VG é investir apenas uma pequena parte do capital no setor.

“O cenário macroeconômico é que vai determinar a postura dos investidores. A perspectivas estão muito incertas. Enquanto o novo arcabouço fiscal não for resolvido pelo novo governo, com a aprovação da PEC de Transição, e a curva de juros na ponta mais longa não começar a ceder, as ações devem continuar onde estão”, conclui Lucas.

Mesmo que o valuation esteja baixo, não vale a pena comprar ações do varejo sem o ‘driver’ na economia.