Variação nos rendimentos do Tesouro IPCA+ abaixo do CDI preocupa investidor; entenda motivos

Gestores ouvidos pela Inteligência Financeira recomendam mudança na carteira de renda fixa

O rendimento do Tesouro IPCA+, também conhecido como NTN-B, vem amargando perdas nos últimos meses, ficando aquém do CDI, indicador de referência para grande parte dos investimentos de renda fixa. Veja o caso do índice IMA-B 5, que reúne os títulos públicos indexados ao IPCA com prazos inferiores a cinco anos, caso do Tesouro IPCA+ 2024 e Tesouro IPCA+ 2026.

O rendimento acumulado no ano do IMA-B 5 é de 8,75% ante 9,18% do CDI. Mesmo com suas oscilações, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa, acumula alta no ano de 12%, também superior a dos títulos públicos indexados ao IPCA com prazos inferiores a cinco anos.

Por que o Tesouro IPCA+ teve rendimento negativo?

Primeiro ponto importante: o Tesouro IPCA+ é um título híbrido. Ou seja, parte da remuneração é pós-fixada, pois acompanha a variação do IPCA durante o período de investimento, e a outra é prefixada. Em outras palavras, é composta por uma taxa fixa e contratada no momento da aplicação.

No terceiro trimestre, por enquanto, a visão sobre os títulos atrelados à inflação tornou-se mais pessimista. Isso porque especialistas afirmam que a taxa prefixada do Tesouro IPCA+ está sofrendo uma forte marcação a mercado, que impacta negativamente estes ativos, dado o cenário de incerteza do mercado, principalmente com relação à questão fiscal.

Na avaliação de Ricardo Jorge, sócio da Quantzed e especialista em renda fixa, o cenário de incerteza global entre as principais economias do mundo, como Estados Unidos e União Europeia, alimenta o pessimismo. Além disso, a percepção do mercado sobre o arcabouço fiscal se deteriorou desde julho.

“Entre abril e junho, vimos bons meses para as NTN-Bs. Mas passado o recesso do Congresso, vemos que pautas sendo encaminhadas (pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva) encontram barreiras que minam a confiança do mercado”, afirma.

Existe dúvida sobre se o governo cumprirá ou não a meta fiscal de zerar o déficit em 2024.

Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa do Itaú BBA, destaca que, desde junho, os títulos IPCA+ “não vinham pagando um prêmio de risco adequado”. Especialmente para quem tem uma carteira de renda fixa, com perspectiva de maximizar retornos em 12 meses. O estrategista do Itaú BBA, que em abril tinha posição mais otimista do Tesouro IPCA+, mudou o tom de sua recomendação para “pessimista” no curto prazo.

Mudança na carteira de renda fixa no curto prazo

Com queda nos rendimentos do Tesouro IPCA+ também nos títulos de longo prazo, os gestores recomendam cautela ao investidor de renda fixa que precisa de liquidez.

É o momento de avaliar, por exemplo, mexer na carteira e mudar para o Tesouro Selic. O ativo pós fixado atrelado aos juros com prazo para 2026 teve rentabilidade de 1,20% em agosto, uma das melhores entre os títulos do Tesouro.

André Alírio, head de distribuição em Fundos de Renda Fixa da Nova Futura, indica diversificar a carteira desta forma:

  • 60% do patrimônio nos Títulos do Tesouro pós-fixados (Selic)
  • 40% do patrimônio em Títulos do Tesouro prefixados
Entenda os títulos do Tesouro Direto com a repórter Isabella Carvalho

Rendimento do Tesouro IPCA+ é para o longo prazo

Alírio acredita que investir no Tesouro IPCA+ “vale a pena mesmo com a piora de rendimento”.

Outros especialistas reputam o Tesouro IPCA+ de longo prazo como a “melhor alternativa do mercado” para investidores que querem atingir metas distantes.

Ricardo Jorge, da Quantzed, afirma que o Tesouro IPCA+ 2035 pode ser um bom investimento. O gestor recomenda o papel para investidores que querem guardar dinheiro para uma viagem, bancar estudos ou ainda a aposentadoria, por exemplo.

“Não adianta investir no Tesouro IPCA+ se o objetivo é ganhar dinheiro no curto prazo. A chance dele realizar prejuízo, neste momento, é grande”, diz Jorge.