Como o J.P. Morgan vê a migração para ações ligadas à economia local

Banco avalia o impacto do fim do ciclo de altas da Selic no Brasil

Apesar dos valuations descontados, analistas do J.P. Morgan liderados por Emy Shayo Cherman acreditam que as ações do Ibovespa ligadas à economia doméstica ainda não são a melhor aposta devido a três fatores: os juros devem permanecer elevados por bastante tempo; as expectativas de inflação não estão ancoradas; e os economistas do banco esperam forte desaceleração da economia, apesar dos estímulos aprovados pelo governo federal.

“Historicamente, as ações brasileiras apresentam desempenho abaixo da média nos meses seguintes ao final dos ciclos de alta de juros. Olhando para o Ibovespa, que tira o impacto do câmbio no índice, verifica-se que os retornos positivos acumulados só voltam seis meses após o fim de cada ciclo, que normalmente é o momento em que o processo de redução começa”, dizem os executivos.

Assim, acrescentam, embora o lado doméstico do mercado tenha respondido positivamente ao fim do ciclo de alta, parece que pode não ser duradouro e que ganhos mais consistentes ocorrem quando a flexibilização começa e não quando a alta termina. Outra possibilidade, segundo a equipe, é que os mercados realmente antecipem o fim do ciclo, de modo que, quando ele chegar, seja notícia velha.

Outro ponto de pressão para os ativos, segundo o J.P., deve ser a manutenção dos juros em patamar elevado por mais tempo, por conta das expectativas de crescimento ainda elevadas, perspectivas contínuas de pressões inflacionárias e incertezas cercando a política fiscal do governo. “Não esperamos que a Selic seja reduzida antes de junho de 2023. Nos últimos 20 anos, levou em média 5,6 meses entre o final do ciclo de alta e o início da reversão. Agora, vai demorar 10 meses, se o último movimento foi o aumento final.”

Não obstante, enxergam a renda variável local como mais atraente que a renda fixa no momento e esperam que o Ibovespa alcance os 125 mil pontos até o final de 2022. O JP calcula que o yield dos rendimentos do MSCI Brazil está em 17,2%, acima dos 13% da taxa de 10 anos. Setorialmente, a casa prefere energia, materiais, financeiro, utilities e bens de consumo.