Invasão em Brasília aumenta ‘risco Brasil’ e pode gerar saída de recursos, dizem analistas

Atos golpistas em Brasília de apoiadores do ex-presidente podem aumentar "consideravelmente o risco Brasil' e dificultam influxo de capital estrangeiro

A visão do mercado é de que a invasão bolsonarista das sedes dos Três Poderes em Brasília transmite um tom negativo para investidores estrangeiros. A imprensa internacional repercutiu os atos golpistas amplamente. No curto prazo, analistas ouvidos pela IF destacam que pode haver uma fuga de recursos do Brasil, além de o episódio aumentar “consideravelmente” o risco Brasil no curto e médio prazo.

Na visão desses analistas, o mercado brasileiro deve ser afetado negativamente. O aumento do risco país pode ser duradouro, e significa uma pressão maior sobre os juros, o que afeta o mercado de renda fixa. Já a renda variável é impactada ainda mais negativamente, comprometida por uma maior aversão ao risco institucional gerado pela invasão.

Otimismo do investidor estrangeiro

A partir da repercussão internacional dos atos golpistas, o sócio da HCI Invest Luccas Fiorelli espera que o investidor estrangeiro reduza um pouco o otimismo com o mercado brasileiro e com, principalmente, o novo governo. “Efetivamente, o que não acabamos vendo é um discurso de paz ou união. Acredito que teremos agora um movimento de ‘caça às bruxas’, que pode ainda trazer uma certa volatilidade para os ativos de risco”, diz Fiorelli.

Para o especialista, a pressão da invasão sobre os ativos no curto prazo deveria ser resolvida por um movimento “mais conciliador” do novo governo.

O foco dos investidores está ainda na equipe econômica e no avanços de reformas estruturais, como a tributária. “Agora temos que aguardar como o governo vai tratar as questões de preocupação fiscal. Isto ainda está no preço”, afirma Fiorelli.

“Hoje o mercado tem boas companhias, negociadas a preço de pandemia. Acho que para o investidor de longo prazo faz sentido montar uma posição agora”, diz, lembrando que a reabertura do mercado chinês pode beneficiar resultados financeiros de ativos listados na bolsa.

Atos ‘aumentam consideravelmente o risco Brasil’

Já para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a invasão aos prédios dos Três Poderes implica “fortemente” na potencial na saída de recursos do Brasil no curto prazo, “tendo em vista a ameaça clara de insegurança institucional e o risco que representa para a manutenção da ordem no ambiente político e econômico do país”.

Conforme o analista, os atos bolsonaristas dificultam o estabelecimento de influxo de capital estrangeiro no curto e médio prazo. Isso porque o governo e as instituições tentarão demonstrar o evento foi isolado e não se repetirá no futuro.

“O risco Brasil aumenta consideravelmente porque, em meio a uma situação como esta, foge às dúvidas unicamente relacionadas à condução da política econômica. A questão se torna uma situação de risco institucional, o que é mais temeroso em termos de investimento”, diz Pizzani.

Invasão também pode aumentar prêmio de risco

Ao mesmo tempo, na visão da Capital Economics, os tumultos de ontem podem resultar em um prêmio de risco Brasil duradouro sobre os ativos financeiros do país, particularmente se eles levarem o presidente Lula a dobrar a aposta em sua agenda econômica.

A repercussão econômica, diz o economista-chefe de mercados emergentes da consultoria britânica, William Jackson, dependerá se o evento for recorrente ou pontual. “Os eventos de ontem nos lembram que o descontentamento com as eleições e a presidência de Lula continua alta em alguns quadrantes”, diz Jackson.

Caso os protestos se tornem mais frequentes ou se espalhem para setores mais críticos, os custos econômicos seriam maiores. Ele lembra, por exemplo, do episódio da greve dos caminhoneiros em 2018, em que houve uma queda de 10% na produção industrial e de um aumento significativo na inflação do período.

“A segunda é como Lula reagirá aos eventos de ontem. O risco do ponto de vista econômico é que esta ameaça leve Lula a abraçar as partes mais esquerdistas de sua agenda, como maiores gastos com o bem-estar social, um papel maior para o Estado na economia e um papel menor para as forças de mercado, em vez de buscar um entendimento com seus oponentes políticos”, diz.

Com informações do VALOR PRO, o serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.