Guedes diz no FMI que BC está comprometido em trazer inflação de volta para meta

Segundo o ministro, a guerra na Ucrânia e suas consequências agravaram uma recuperação global já desigual

Embora a sequência contínua de choques globais torne o ambiente econômico mais desafiador, o Banco Central do Brasil está totalmente comprometido em trazer a inflação e as expectativas de inflação de volta à meta. Foi o que afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, em pronunciamento no Comitê Monetário e Financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.

Guedes observou que a guerra na Ucrânia e suas consequências agravaram uma recuperação global já desigual, perturbando ainda mais as cadeias de valor, aumentando as pressões inflacionárias e reduzindo as perspectivas de crescimento. “A alta inflação e o espaço fiscal limitado representam importantes desafios para os formuladores de políticas em todo o mundo”, acrescentou.

O ministro constatou que os riscos para a estabilidade financeira global aumentaram significativamente desde a última reunião do comitê do FMI. “A alta incerteza em torno das perspectivas globais, bem como os choques significativos na frente inflacionária e geopolítica, impulsionaram a volatilidade do mercado e, embora nenhum evento financeiro importante tenha ocorrido até agora, as repercussões para os mercados financeiros ainda estão se desenrolando”, afirmou.

Ele acrescentou que, com pressões inflacionárias mais elevadas, taxas mais altas e curvas de rendimento mais acentuadas em economias avançadas serão agravadas por um ritmo mais rápido de aperto quantitativo. E que uma correção repentina nos preços dos ativos nos países desenvolvidos pode trazer efeitos adversos significativos aos preços dos ativos e fluxos de capital, expondo as fragilidades financeiras. Algumas economias emergentes e países menos desenvolvidos já estão enfrentando spreads soberanos mais altos e volatilidade cambial. Em contraste, acrescentou, os países que começaram o aperto mais cedo estão mais bem preparados, “pois enfrentam um ambiente global mais instável a partir de uma posição mais forte”.

“Contudo, com espaço reduzido para respostas políticas acomodatícias, a economia global enfrenta riscos muito significativos de amplificação severa de choques através dos mercados financeiros”, disse Guedes, conforme o texto do pronunciamento. “Tudo considerado, a acumulação de dívidas e a fragmentação econômica e financeira representam riscos importantes para a economia global. Assim, o FMI deve se concentrar em seu tradicional mandato central, fornecendo consultoria sólida e independente de política macroeconômica e assistência técnica oportuna, e cumprindo seu importante papel de apoio às economias mais vulneráveis para atender suas necessidades de liquidez em moeda estrangeira no caso de condições mais turbulentas.”

Guedes observou que algumas economias emergentes começaram o ciclo de aperto bem antes do início da guerra na Ucrânia, e estão colhendo os benefícios dessa ação inicial. E lembrou que a maioria dos países desenvolvidos, em linha com avaliação do FMI, considerava que as pressões inflacionárias eram temporárias e agora estão correndo atrás.

“Embora a política monetária deva ser dependente de dados e atenta ao equilíbrio dos riscos, inclusive à estabilidade financeira, ela deve mostrar determinação no combate ao aumento da inflação e não permitir que as expectativas de inflação subam”, defendeu Guedes, insistindo que não há um compromisso estável entre inflação e crescimento.

Para ele, deixar a inflação sem controle e permitir que as expectativas inflacionárias se tornem sem ancoragem “pode levar à necessidade de políticas ainda mais rígidas no futuro, aumentando significativamente os custos de ajuste no caminho, especialmente para os mais vulneráveis que não podem se proteger adequadamente da aceleração dos aumentos de preços”.

Observou que “para economias desenvolvidas sistemicamente importantes, permanecer atrás da curva poderia levar a surpresas negativas devido à necessidade de um aperto mais forte e abrupto mais tarde, possivelmente resultando em volatilidade desordenada nos mercados internacionais de capitais”.

Com relação ao Brasil, Paulo Guedes focou no que chamou de respostas políticas precoces e afirmou que o governo continua impulsionando reformas. Também constatou que “o aperto da política monetária, assim como o crescimento global mais lento, desacelerou o ritmo de transição de nossa recuperação cíclica para o crescimento sustentável”.

Para o ministro, o BCB “tem agido cedo e com força para combater pressões inflacionárias altas e persistentes”. Relatou que, desde março de 2021, a taxa Selic foi aumentada em 975 pontos base, para 11,75%. E atribuiu as pressões inflacionárias como resultado de uma combinação de atividade econômica interna mais forte, preços internacionais mais altos de commodities e depreciação cambial.

“A guerra na Ucrânia exacerbou as pressões sobre os preços dos alimentos e da energia. Quanto mais tempo durar esse conflito, mais pesadas serão as pressões inflacionárias globais”, disse Guedes, conforme o texto do pronunciamento. Observou que a consolidação fiscal, o estágio avançado do ciclo de aperto monetário e a melhoria dos termos de troca acabaram se traduzindo em uma forte valorização da taxa de câmbio no Brasil neste ano – mais de 15% desde janeiro em relação ao dólar americano.

“O BCB está monitorando de perto a dinâmica da inflação e continuará a agir conforme necessário para combater a inflação e manter as expectativas de inflação bem ancoradas”, acrescentou.

Segundo Guedes, a taxa de câmbio flutuante continua sendo um amortecedor chave e as intervenções são realizadas somente quando o mercado está disfuncional ou incapaz de absorver grandes fluxos. “É importante salvaguardar as condições do livre mercado para preservar a profundidade não só do mercado de câmbio, mas também dos mercados de capitais domésticos”, afirmou.