Quais são as diferenças entre os dividendos de ações e os de FIIs?

Especialistas esclarecem principais dúvidas sobre recebimentos de proventos

Você sabe qual é a diferença entre os dividendos de ações e os dos fundos imobiliários (FIIs)? Sempre quis saber, mas nunca teve para quem perguntar? Aqui trazemos os esclarecimentos de dois especialistas: Glauco Legat, sócio da TRAAD Investimentos, e Guilherme Ferreira, especialista em investimentos CEA do Grupo Fractal. Tire essas e outras dúvidas e veja qual dos dois dividendos é o melhor para o seu bolso.

Qual é a diferença entre os dividendos de ações e os de FIIs?

Começado pelo começo, Glauco destaca que dividendos de ações e de FIIs são a distribuição do lucro que é entregue aos acionistas ou cotistas.

Guilherme esclarece que os dividendos dos fundos imobiliários, em geral, são distribuídos mensamente, como um aluguel.

“Esses dividendos vêm do fluxo de caixa do fundo”, diz ele. “Por exemplo, um shopping center recebe os aluguéis das lojas e, após abater os custos operacionais, repassa parte dos dividendos aos cotistas do fundo”, explica.

O especialista lembra ainda que a legislação brasileira, especificamente a Lei Federal 8.668/1993, estipula que todos os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) têm a obrigação de distribuir no mínimo 95% do seu lucro semestral, conforme o artigo 10º, parágrafo único.

“Isso significa que, após receber as receitas e cobrir as despesas, o FII deve distribuir praticamente todo o excedente”, diz ele. Vale destacar que, ainda que a lei indique a distribuição por semestre, a maioria dos FIIs opta por pagar dividendos mensalmente.

O que são os dividendos das ações?

E no caso das ações, como explica Guilherme, os dividendos são parte dos lucros das empresas.

“Quando um investidor compra uma ação, além poder ganhar com a valorização dessa empresa no mercado, ele recebe parte do seu lucro”, explica.

Há uma sutil diferença entre os dividendos de ações e dos FIIs.

Diferentemente dos FIIs, as empresas não são obrigadas a distribuir dividendos, além de não possuírem uma frequência definida.

“A distribuição de dividendos é uma decisão que cabe ao conselho de administração e à assembleia de acionistas da empresa”, complementa o escpecialista. “Eles consideram vários fatores, incluindo os resultados financeiros da empresa, suas necessidades de reinvestimento e suas políticas de distribuição de lucros ao tomar essa decisão”, diz ele.

Há ainda os JCP

Outra diferença é que, em vez de receber uma parte do lucro, o investidor pode receber juros sobre o dinheiro que investiu na empresa.

“Isso é chamado de JCP, os juros sobre capital próprio”, lembra Guilherme. “Funciona mais ou menos como um empréstimo que você faz para a empresa e ela te paga juros por isso”, explica. Ou seja, é uma forma de remunerar os acionistas e maneira um pouco diferente dos dividendos.

Mas, a diferença entre dividendo e os JCP está no Imposto de Renda, que trata os JCP como despesa, e os dividendos são lançados na contabilidade como lucro. Portanto, nos JCP, quem paga IR é o investidor, que arca com 15% sobre o valor recebido.

Quais são as vantagens do dividendos de ações e de FIIs?

Se você chegou até aqui, deve imaginar que a grande vantagem dos dividendos dos é FIIs é que eles são distribuídos de mais forma regular, ou seja, são uma fonte estável de renda passiva. “O dividendo de uma empresa, por outro lado, tem mais volatilidade”, destaca Glauco.

“Além disso, investir em FIIs permite que os investidores tenham exposição ao mercado imobiliário sem precisar comprar propriedades físicas, o que normalmente exige um grande investimento inicial e muitas vezes concentrado em um único ativo”, diz Guilherme.

Isso quer dizer que, por meio de FIIs, você pode investir em grandes shoppings centers, por exemplo, mesmo com valores modestos.

Qual é a vantagem dos dividendos de ações?

Bem, além dos dividendos, as ações oferecem potencial de valorização do capital. Ou seja, você pode lucrar com o aumento do preço das ações ao longo do tempo.

“Um investidor que acredita no setor de mineração, por exemplo, pode comprar empresas desse setor”, diz Guilherme. “Caso sua estratégia esteja correta e a empresa opte por distribuir dividendos, ele participará do lucro da empresa”, afirma. Além disso, nesse exemplo, ele acredita que a tendência seja de valorização das ações no mercado.

“Para empresas que têm dificuldade em gerar lucros consistentes, pagar JCP pode ser uma alternativa viável para recompensar os acionistas”, afirma.

Mas não custa lembrar: enquanto os dividendos são livres de IR para pessoas físicas, os juros sobre capital próprio são tributados. “Por isso, quando a empresa paga um valor relevante em forma de JCP, o efeito líquido pode não ser tão bom para o acionista”, alerta Glauco.

Qual é o melhor dividendo para cada investidor?

Para saber qual é o melhor tipo de dividendo é preciso saber qual é o seu perfil de investidor.

Como destaca Guilherme, ações são para investidores com perfil mais agressivo. “Isso acontece porque elas apresentam volatilidade maior nos preços, se comparados com outros investimentos”, diz ele.

Mas porque isso não significa que investidores moderados não possam investir em ações, ok? “Nesse caso, o ideal é investir em empresas de setores mais perenes e essenciais para a economia, com bom histórico de distribuição de dividendos”, afirma o especialista do Grupo Fractal.

E, claro, como ele lembra, é muito importante também ter uma carteira diversificada e devidamente dimensionada para cada perfil. “As ações são normalmente sugeridas para investidores que têm maior apetite a risco e esperam valorização das empresas a médio e longo prazo”, afirma.

Já os FIIs, normalmente, são recomendados para investidores que têm perfil pelo menos moderado. Isso porque, apesar serem menos voláteis que as ações, têm também os seus riscos. “Os FIIs em geral são sugeridos para investidores que têm menor apetite a risco e preferem a recorrência dos dividendos”, diz Guilherme.

Pontos a considerar em relação a dividendos de ação e de FIIs

Na opinião de Glauco, um ponto a considerar no caso das ações é que as empresas não têm obrigação de distribuir dividendos. “Elas podem decidir reinvestir no seu business, o que até pode ser positivo no longo prazo para o acionista”, alerta. Por isso, Guilherme concorda que seja importante entender esses pagamentos como bônus.

Os dois também alertam que é importante observar o histórico de distribuição e o crescimento dos dividendos distribuídos ao longo do tempo.

Glauco recomenda que o investidor avalie o momento tanto da empresa quanto do fundo imobiliário para considerar a sustentabilidade dos pagamentos de dividendos. Será que este é apenas um momento excepcional? Será que o FII ou a empresa conseguirá continuar pagando esse valor de maneira consistente? “É importante analisar tudo isso para pensar nas perspectivas”, afirma. 

No caso específico dos FIIs, Guilherme acredita que seja importante saber que, apesar de as distribuições serem mensais na maioria dos casos, esses dividendos podem variar ao longo dos meses. Isso porque o valor depende do resultado da carteira desse FII e de outros fatores, como taxa de juros do mercado, inflação, política econômica e fiscal, por exemplo.

“Também é muito importante avaliar a competência e a transparência da gestão do FII, incluindo suas políticas de distribuição de rendimentos e histórico de desempenho”, alerta o especialista do Grupo Fractal.