Marcação a mercado muda a cara da renda fixa em janeiro de 2023; entenda
Novidade dá mais transparência sobre a cotação dos ativos de renda fixa
Quem investe em renda fixa já deve ter ouvido falar em “marcação a mercado” – e que existem mudanças programadas para o dia 2 de janeiro do ano que vem. Mas afinal, o que esse termo significa e por que você deve ficar atento?
O que é marcação a mercado?
A marcação a mercado é um ajuste diário nos preços dos ativos. Portanto, marcar a mercado é saber o preço que você receberia caso vendesse o seu ativo hoje.
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“Com a marcação a mercado, o investidor vai começar a ver, nos títulos de crédito privado, o quanto de fato está valendo aquele investimento. Até o final deste ano, as instituições não eram obrigadas a mostrar isso. Elas mostravam a marcação na curva, que basicamente mostra quanto o investidor vai receber no vencimento”, explica Claudio Sanches, diretor de Produtos de Investimento e Previdência do Itaú Unibanco.
Esse método de cálculo do preço dos ativos deverá ser adotado pelas instituições distribuidoras de títulos de investimento (bancos e corretoras) a partir de janeiro. A mudança vem para se adequar à nova regra instituída pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Isso significa que, a partir do ano que vem, os títulos públicos federais, debêntures, CRIs e CRAs vão passar pela marcação a mercado. Na prática, investidores vão poder acompanhar diariamente quanto receberiam por seus ativos se decidirem vender suas posições antes do vencimento.
Na entrevista abaixo, Claudio Sanches explica em detalhes como a marcação a mercado vai afetar seus investimentos de renda fixa:
Qual o objetivo da marcação a mercado?
Em outras palavras, os extratos de investimentos apresentarão os valores atualizados desses ativos, de acordo com os preços pelos quais estão sendo negociados no mercado. O objetivo é refletir melhor o valor atualizado da carteira dos clientes.
Vale ressaltar que, caso você mantenha seus títulos até a data de vencimento, receberá o valor correspondente à rentabilidade acordada no momento da aplicação, independente das variações do preço do título ao longo da aplicação.
Além disso, o preço da marcação a mercado é um indicativo do valor de negociação do ativo, e não necessariamente o valor exato que o investidor receberá no caso de venda antes do vencimento. Isso porque pode haver outras variáveis que afetam o preço para cima ou para baixo, entre elas, o risco de liquidez imediata do mercado e os custos de transação.
Esse novo mecanismo de atualização de preços é similar ao já aplicado nos títulos públicos adquiridos por meio do Tesouro Direto. Da mesma forma, os fundos de investimento e carteiras administradas também já realizam a “marcação a mercado” de seus títulos de crédito.
Para quais produtos vale a nova regra?
A Anbima ampliou o escopo e incluiu na regra da marcação a mercado:
- Debêntures;
- CRAs;
- CRIs;
- Títulos Públicos Federais negociados no mercado secundário (fora do Tesouro Direto).
Ficaram de fora:
- CDBs;
- LCAs e LCIs;
- FIDCs.
A quem se aplica a nova regra?
A nova regra é aplicável a pessoas físicas e jurídicas, com exceção às empresas de médio e grande portes. Os investidores qualificados (aqueles que possuem mais de R$ 1 milhão) podem solicitar que seus produtos permaneçam com a metodologia de precificação atual de “marcação na curva”.
O que muda para os investidores?
A principal mudança com a nova regra é a visualização do preço dos títulos, com maior transparência e visibilidade sobre o preço atual dos papéis de renda fixa no mercado. Isso facilita o gerenciamento do patrimônio. A nova regra não irá alterar a rentabilidade dos investimentos, nem o direito do investidor sobre o título.
A nova marcação a mercado da renda fixa deve ajudar a padronizar a comparação do desempenho da carteira de investimentos dos clientes, mesmo que o investidor tenha conta em mais de uma instituição financeira.
Além disso, com a atualização frequente dos preços dos papéis, ficará mais fácil a identificação de uma eventual oportunidade de ganho com a venda antecipada do título, ou seja, a venda antes da data de vencimento através do mercado secundário.
Transparência
Na prática, trata-se de uma medida para dar mais transparência ao mercado de renda fixa, tendo em vista que os investidores passarão a entender de fato como os investimentos estão performando.
De acordo com Claudio Sanches, diretor do Itaú Unibanco, a marcação a mercado não muda de maneira significativa o mercado. Mas algumas coisas podem acontecer. “No momento em que você começar a ter visibilidade de como os papéis estão evoluindo ao longo do tempo, as pessoas podem ter uma tendência a comprar ou vender mais esses papéis, como acontece na renda variável”, explica o executivo.
“A gente vai deixar muito claro para os cliente o que é a renda fixa. Eventualmente, alguns clientes que estavam comprando a renda fixa e que não tinham um apetite de risco suficiente para ver os investimentos variando podem pensar que esse tipo de produto eles não querem mais”, destaca Sanches.
Os ativos do Tesouro Direto já operam sob essa lógica. Quem compra um título e o leva até o vencimento, recebe a rentabilidade contratada. Se decidir sair antes, fica sujeito à marcação a mercado, que decidirá quanto vale aquele ativo naquele dia, de acordo com o momento.
Como não perder dinheiro
Sair antes do vencimento de um investimento de renda fixa pode causar prejuízo ao investidor se, no momento da venda, o título valer menos que no momento da compra.
Uma das duas formas de não perder dinheiro com o Tesouro Direto e outras aplicações de renda fixa que passarão a ser marcadas a mercado é óbvia: segurar o dinheiro na aplicação até o vencimento. Ou seja, é o único jeito de garantir a rentabilidade prometida no momento da compra do produto.
A outra opção para o investidor que não quer perder dinheiro com a aplicação também requer paciência. Ele vai precisar esperar a curva de preço virar para que seu investimento saia do vermelho.
“Marcação na curva” x “marcação a mercado”
Atualmente, os títulos de renda fixa são demonstrados na carteira pelo valor de “marcação na curva”, que corresponde ao valor da aquisição do título, atualizado diariamente pelo indexador, e dos juros relativos à remuneração do papel, aproximando o valor visualizado pelo investidor da rentabilidade do papel, se for mantido até o vencimento.
No entanto, este preço de curva não necessariamente reflete o valor de negociação do título no mercado em caso de venda antes da data de vencimento, uma vez que a taxa utilizada para o cálculo do preço do título ao longo do tempo é a taxa de compra, contratada no momento da aquisição.
Já na marcação a mercado (nova regra), a taxa utilizada para atualização do título é a que estiver sendo negociada no mercado, que costuma se alterar diariamente, direcionadas pela oferta e demanda.
A oscilação dos títulos antes do vencimento também é função, além das condições de mercado, do prazo e do indexador: quanto mais longo o prazo, mais sensíveis serão os títulos à marcação a mercado.
Em relação aos indexadores, a sensibilidade é maior em prefixados, seguidos de IPCA+. Pós-fixados são os mais seguros e pouco ou nada variam devido à marcação a mercado.
Este modelo é, portanto, mais volátil, podendo mostrar valores acima ou abaixo do que o preço da marcação na curva apresentaria, o que pode dar ao investidor uma informação adicional na tomada de decisão de vender o ativo antes do vencimento, com ganho ou evitando perdas ao aguardar até o prazo final.
Conforme se aproxima da data de vencimento, o preço do título segue para uma convergência para o mesmo valor em ambas as metodologias.
Como fica a tributação com a nova regra?
Não deve haver alteração da tributação por conta da atualização frequente do preço dos títulos. O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e o IR (Imposto de Renda) permanecem os mesmos.
Os benefícios da marcação a mercado
A marcação a mercado pode atrair mais investidores e fomentar a liquidez. Quanto mais vigoroso for o mercado secundário de renda fixa, mais facilmente o investidor conseguirá se desfazer se seus títulos.
Ademais, com o aumento da circulação, há uma tendência maior de atração de empresas e instituições a fim de captarem recursos no mercado primário de renda fixa.
A marcação a mercado leva transparência e segurança ao investidor ao longo do período de investimento. Com mais informações, ele consegue, se assim desejar, acompanhar as condições de mercado e se desfazer do seu ativo de maneira consciente.
“Quando a gente fala de título público, o valor que você vai receber lá na frente, se você levar até a data do vencimento, provavelmente vai ser o combinado previamente. O risco de o governo não pagar é muito pequeno. Agora, quando você está falando de um título de uma empresa, esse risco começa a aumentar. Então, se essa empresa começa a ter problemas financeiros, quando marcado na curva, você não percebe isso. Quando está marcado a mercado, você pode ter uma percepção de que existe um problema, e aí, eventualmente, você vai querer tomar alguma ação em relação a esse título”, afirma Claudio Sanches, diretor do Itaú Unibanco.
Além disso, é importante ressaltar que a marcação a mercado é a metodologia padrão em economias avançadas, como nos Estados Unidos e na Europa ocidental. Nesse sentido, a nova regulação deixa o Brasil mais próximo de padrões internacionais.