O que a queda das ações da Petrobras ensina sobre Risco-Brasil e diversificação 

Ações da maior empresa brasileira tiveram uma forte queda na sexta-feira por uma notícia que não teve nada a ver com o que acontece no seu mercado ou no setor em que está inserida

Volta e meia acontecem eventos, como da Petrobras, que reforçam a necessidade da diversificação geográfica para o investidor local. Hoje, o risco-Brasil e a importância da diversificação voltam a ser tema. Além disso, seguimos acompanhando o cenário inflacionário nos EUA e os resultados de mais uma temporada de balanços das empresas do S&P 500. Confira essas e outras análises. 

Risco-Brasil e a importância da diversificação 

Começo o texto de hoje relembrando algo que não deveria ser necessário… Algo que não deveria ser novidade, pois volta e meia acontece e assusta o investidor brasileiro… Algo com o qual muitos aprenderam a conviver, mas que nem por isso deixa de continuar afetando seus investimentos… Mas, acima de tudo, algo que pode e deve ser evitado através da diversificação internacional e acesso ao mercado americano. 

Estou me referindo ao risco-Brasil. 

Na semana passada, as ações da maior empresa brasileira, a Petrobras, tiveram uma forte queda na sexta-feira. A baixa ocorreu por uma notícia que não teve nada a ver com o que acontece no seu mercado ou setor em que está inserida. Naquele dia, enquanto as ações das duas maiores petrolíferas americanas, Exxon e Chevron, tiveram altas de 0,94% e 0,34%, respectivamente – um dia normal de oscilação –, as ADRs da petrolífera brasileira tiveram queda de 11,50% e no mercado nacional ela caiu 10,57%. 

O motivo? Mais do que a queda em seu lucro – algo já esperado pelo mercado e em parte derivado dos menores preços do petróleo –, as ações refletiram uma decisão inesperada de não pagamento de dividendos extraordinários, os quais eram esperados por muitos agentes do mercado.

Reação do mercado

Diante dessa decisão do conselho, houve uma forte reação do mercado, com uma onda de revisões de recomendações para as ações da companhia. 

A queda das ações da Petrobras decorre de uma decisão de seu conselho, o qual é controlado pelo seu acionista majoritário, o governo brasileiro. Mais do que apenas os dividendos, a queda das ações refletem a reação do mercado frente à interferência política na empresa e a incerteza em relação à alocação de capital dentro da empresa. 

Ora, se o dinheiro não será usado para pagamento de dividendos, onde será utilizado? E quais os parâmetros de retorno ou de maximização de resultados para a companhia e seus acionistas, sobre os quais essa decisão está sendo tomada? 

Com essas incertezas na mesa, o mercado reagiu. 

Mas este texto não trata especificamente da Petrobras, e sim do risco de se investir em um único país.

Episódios que impactam seu patrimônio

A questão que se coloca aqui é que tais episódios não são tão novidade assim. Corriqueiramente, o investidor brasileiro é afetado por notícias que impactam seu patrimônio. Se você não se lembra, vou te ajudar a lembrar… 

Quantos se lembram do “Joesley Day”, quando a bolsa sofre e o dólar salta, em um dia relativamente normal no mercado global – no mesmo dia, a bolsa americana teve uma leve alta de 0,37%.  

Ou ainda: 

“Mercado financeiro reage mal ao desentendimento entre Bolsonaro e Guedes”.  

Ou mais recentemente: 

“Fala de Lula decepciona mercado, bolsa cai e dólar registra alta. 

Importante ressaltar que este NÃO é um artigo sobre política. 

Da mesma forma que citei exemplos brasileiros, poderia citar exemplos argentinos, da África do Sul, da China, da Índia… Até mesmo países desenvolvidos possuem suas dificuldades. 

Independente do governo ou país, eu poderia continuar citando exemplos que só reforçam a mensagem central do risco de se investir em uma única geografia. Eventos que ocorrem e afetam somente o Brasil geram um impacto desagradável nas carteiras daqueles que concentram seus recursos exclusivamente em uma única localização. 

Por isso, há a necessidade de investir internacionalmente. 

Um pouco de teoria necessária… 

Você pode reduzir a volatilidade dos seus investimentos aumentando o número de ativos em sua carteira. Em resumo, ao adicionarmos mais ativos (sejam ações, fundos, ETFs, renda fixa etc), a volatilidade da carteira diminui – entendendo-se aqui como a redução do desvio-padrão da carteira.  

Mas uma melhor diversificação é alcançada somente através de ativos que possuam baixa correlação entre si – ou seja, ativos cujas performances sejam pouco ou nada impactadas por um único evento ou fator. Ao adicionarmos ativos que possuem baixa correlação, a volatilidade da carteira diminui. 

Ray Dalio, em seu livro “Princípios”, reforça a importância da diversificação, especialmente em ativos descorrelacionados, ou seja, ativos cujas performances sejam menos influenciadas por um único fator. São ativos que não “andam juntos” ou que não são impactados pelos mesmos fatores.  

Tal como mostrei anteriormente, eventos que afetaram apenas o Brasil acabaram por impactar diferentes ativos no país. No entanto, tais eventos em nada influenciaram ou impactaram o mercado e a economia americana, por exemplo. Como mencionei anteriormente, na última sexta-feira, duas ações americanas do setor petrolífero tiveram leve alta, e até mesmo as ações da maior empresa americana, a Microsoft, tiveram uma leve queda de 0,71%, mas totalmente descorrelacionada do evento que afetou a Petrobras ou o mercado brasileiro. 

Portanto, para diminuir o risco da sua carteira, você precisa ter uma parcela do seu capital descorrelacionada de eventos que afetam apenas o Brasil. 

E na economia e no mercado americano

Mais uma vez, durante a semana, a bolsa americana alcançou máximas históricas no S&P500 – atingindo 5.157 pontos no fechamento de quinta-feira (07/03). Existe um adágio no mercado que diz: “contra fluxo não há argumentos”. Pois bem, esta foi a sétima semana consecutiva de fluxos positivos de dinheiro para a renda variável nos EUA. 

Ainda assim, no agregado da semana, os índices de ações encerraram com uma leve queda. 

O evento da semana

Havia uma grande expectativa para a fala de Jerome Powell, presidente do banco central americano, no congresso na quarta-feira e quinta-feira. Em suma, o que vimos foi um pouco mais do mesmo, ou seja, ele reiterou que espera que as taxas de juros comecem a cair neste ano, mas ainda não está pronto para dizer quando. 

“In considering any adjustments to the target range for the policy rate, we will carefully assess the incoming data, the evolving outlook, and the balance of risks,” he said. “The Committee does not expect that it will be appropriate to reduce the target range until it has gained greater confidence that inflation is moving sustainably toward 2 percent.” 

“Ao considerar quaisquer ajustes ao intervalo alvo para a taxa de juros, avaliaremos cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio dos riscos”, disse ele. “O Comitê não espera que seja apropriado reduzir o intervalo da meta até que tenha maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%”  

Novamente, ele comentou que o cenário inflacionário melhorou. Powell deu a entender que chegamos ao pico de juros no ciclo atual, mas que isso está condicionado à evolução dos dados e à força da economia. Em suma, os comentários de Powell vieram em linha com o esperado pelo mercado. Assim, vimos, na semana, as curvas de juros americanas cederem (yields dos títulos americanos caíram). 

E o payroll

O principal indicador da semana, o payroll, mostrou que a economia americana criou mais postos de trabalho do que o esperado pelos economistas. Isso demonstra a resiliência e a força do mercado de trabalho. Era esperado que fossem criados 198 mil postos, mas o relatório mostrou a criação de 275 mil. 

A leitura normal seria de um impacto nos juros para cima, com a interpretação de que, se a economia está criando empregos, ela segue pujante. E isso pode gerar mais pressões inflacionárias.No entanto, ao analisarmos o conjunto de dados fornecidos pelo payroll e considerarmos a pressão sobre a inflação, o menor crescimento de salários, a revisão para baixo do número de dezembro e o aumento na taxa de desemprego relativizaram a pujança dessa criação de postos de trabalho. 

Vimos os dados dos meses anteriores sendo revisados para baixo, resultando em um total de 167 mil empregos a menos nos últimos 2 meses do que inicialmente informado. 

Com isso, vimos uma reação mais tímida pelo mercado ao dado – juros e bolsa acabaram cedendo na sexta-feira. 

Cenário macro 

Antes de encerrar, gostaria de destacar várias ferramentas que podem ajudá-lo a montar sua carteira global… 

Como de costume, no início do mês passado realizamos nossa live para discutir o cenário macroeconômico nos EUA, suas nuances e seus impactos em termos de alocação de renda fixa e variável.

É uma oportunidade para os participantes tirarem suas dúvidas, conversarem conosco e aprenderem sobre o mercado americano. Se você não pôde participar, não se preocupe, pois a live foi gravada e pode ser acessada abaixo: 

Falando em lives… 

Tivemos outra live na segunda-feira para discutirmos uma das nossas Seleções Avenue – Ideias de Investimentos em Ações. Para aqueles que gostam ou estão interessados em investir em renda variável nos EUA, é só dar play: