Diversificação geográfica de investimentos: por que comprar ativos no exterior e como fazer

Saiba como montar uma carteira diversificada geograficamente

A diversificação de investimentos em relação à geografia ganhou força com as notícias sobre a queda da nota de crédito dos Estados Unidos. Com isso, investidores passaram a reavaliar percentual de aplicações no país. Mas, afinal, os Estados Unidos devem ceder espaço em uma carteira de investimentos diversificada?

Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue e colunista da Inteligência Financeira, Estados Unidos ainda detêm as oportunidades mais vantajosas quando o assunto é diversificação geográfica dos investimentos. Os Estados Unidos compreendem cerca de 50% do mercado global. Em contraste, o Brasil representa apenas 1,3%, segundo o executivo.

“Portanto, é indiscutível que buscar oportunidades no exterior é uma escolha viável para quem almeja diversificação geográfica e preservação de patrimônio. Atualmente, a localização mais favorável para alocar recursos é no mercado e na moeda dos Estados Unidos, superando até mesmo a Europa”, detalha Castro Alves.

Ainda assim, a exposição ao euro pode ser vantajosa para se proteger de riscos domésticos e manter poder de compra.

Castro Alves considera que a renda fixa nos Estados Unidos vive “uma fase singular” com a subida dos juros, os mais altos em décadas. Assim, o rendimento em títulos de renda fixa, que tem baixo risco em relação às ações, por exemplo, tem potencial de ganhos de cerca de 5% ao ano.

“Essa oportunidade é algo que não se via há bastante tempo”, complementa o especialista.

Existe uma diversificação de investimentos ideal?

Castro Alves diz que não existe uma carteira de investimentos diversificada com aportes internacionais que sirva para todos. “No entanto, existem carteiras que são adequadas para os diferentes perfis de investidores”, afirma. Portanto, é preciso descobrir a qual perfil o investidor pertence antes de recorrer a qualquer receita pronta.

Laszlo Cerveira, sócio da Octante Capital, também não prevê um valor ou percentual médio para investir lá fora, mas diz que, dentro da carteira diversificada com aporte no exterior, é indicado ter cerca de 90% em renda fixa e 10% em renda variável, de preferência, nos EUA.

“Precisa estar a maior parte alocada em títulos de renda fixa soberanos (Treasuries). A Treasury curta (com vencimentos menores) vai render mais de 5% em dólar, o que é um grande rendimento para deixar no carrego de curto prazo, sem risco. Outra parte da renda fixa deve estar em crédito privado”, detalha Cerveira.

Ações no exterior, devo comprar?

O cenário das ações está experimentando crescimento novamente em 2023 nos Estados Unidos, depois de um 2022 problemático, com o pior desempenho desde 2008, ano da crise dos subprimes.

Para Castro Alves, da Avenue, os índices de ações dos Estados Unidos estão “um tanto sobrevalorizados” quando comparados aos seus históricos ou até mesmo em relação às bolsas da Europa, Japão e outras regiões. Ainda assim, quando se avalia a relação entre risco e retorno, “as ações se mostram mais atrativas do que a renda fixa, especialmente nos Estados Unidos”, diz.

A Arbor Capital trabalha há mais de dez anos com fundos de renda variável no exterior e têm 85% do seu portfólio em empresas sediadas nos EUA, com outros 10% voltados para o mercado asiático e o percentual restante distribuído por outras localidades.  

João Rômulo, sócio da empresa, reforça que há uma janela interessante para investimentos em empresas de tecnologia nos Estados Unidos agora. “Houve uma grande correção de mercado ano passado, isso abriu uma série de oportunidades para investimentos em empresas como a Microsoft”, destaca.

Em 2022, o setor que mais sofreu foi o de tecnologia, que dessa vez experimenta ganhos exponenciais em alguns casos. Neste ano, o Nasdaq avança quase 30%, com a Microsoft, citada por Rômulo, subindo cerca de 35%. A Nvidia, empresa de chips para soluções de tecnologia para inteligência artificial, dispara acima dos 200%.

Como investir fora do Brasil?

O ponto de partida fundamental é estabelecer uma conta junto a uma corretora. A experiência de integração é semelhante àquela oferecida por corretoras locais.

O processo de abertura de conta poder levar algo em torno de 10 minutos, a depender da instituição escolhida. Para criar a conta é preciso apresentar comprovante de residência e documento com foto, nada mais.  

Nesse processo, é importante que o investidor exerça cautela na escolha da instituição financeira, optando por uma que inspire confiança e com a qual ele esteja familiarizado, e que também possua parcerias sólidas em sua estrutura.

A partir daí, é possível iniciar o envio de recursos. Uma vez que os fundos são recebidos pela corretora, o cliente confirma a taxa de câmbio antes de realizar a transferência para o exterior. Com os recursos lá fora, já é possível dar início às atividades de investimento.

Depois disso, o investidor deve seguir estudando o mercado como uma prática constante para entender as melhores oportunidades e os riscos envolvidos.

Por que diversificar?

O Brasil representa hoje algo em torno de 1% do PIB global. Ainda assim, a maior parte dos brasileiros concentra seus investimentos nessa pequena porção do mercado. Antes, isso estava estritamente relacionado aos impedimentos burocráticos, mas, hoje, o acesso ao mercado internacional está muito mais fácil.

Portanto, carteira de investimentos diversificada deve conter, obrigatoriamente, ativos no exterior, diz João Rômulo, sócio da Arbor Capital.

“Você está concentrando todo o seu dinheiro numa pequena parcela de ativos. Isso é questão do primeiro dia da aula de Finanças, não concentrar tudo em um mesmo lugar. E o brasileiro faz exatamente isso”, alerta o executivo.

Diversificação geográfica significa escapar do Risco-Brasil e apostar em mercados mais maduros, que tradicionalmente oferecem alta rentabilidade, ou mesmo em mercados emergentes, com potencial grande de crescimento, embora com riscos maiores.

“Aqui, você precisa toda hora estar atento ao noticiário político porque o investidor está exposto a isso. Com uma diversificação geográfica dos investimentos, é possível diluir esse risco”, diz Rômulo, da Arbor.

Diversificar investimentos em outros mercados?

O Itaú BBA destoa da opinião de que os EUA seguem sendo basicamente o destino único para os investimentos. Em relatório de agosto, o banco diz que continua neutro para títulos do Tesouro Americano “devido às dúvidas acerca da trajetória de juros nos EUA e à alta volatilidade”.

Os analistas do banco também avaliam de maneira reticente a exposição à bolsa americana, apesar de reconhecer “o desempenho robusto de ações do setor de tecnologia”, que vem mudando a trajetória do mercado desde o início de 2023, amparado principalmente pelos grandes nomes do setor.

Por outro lado, o Itaú BBA destaca como possibilidade para diversificação da carteira a renda variável fora do eixo EUA-Europa, com avaliação “acima do neutro em bolsas de mercados emergentes devido à desvalorização global do dólar e à reabertura da China, que deve ajudar o desempenho das bolsas desses mercados como um todo”.