ETF de renda fixa na bolsa americana vale a pena? Confira opções 

Esse tipo de fundo surge como possibilidade de diversificação em um cenário com os juros ainda em patamares elevados nos EUA 

Você conhece os Exchange Traded Funds de renda fixa americana? Estamos falando de mais uma opção de investimento para quem busca diversificação com foco no exterior. Com os juros ainda em patamares elevados nos EUA, os ETFs de renda fixa aparecem como uma possibilidade para quem deseja tirar proveito desse cenário. 

A seguir, saiba o que é ETF de renda fixa e confira se vale a pena contar com esse produto em sua carteira neste momento. 

O que são ETFs e como eles funcionam? 

Um ETF é um fundo de investimento. Porém, a negociação ocorre como as ações, sendo intermediada pelas corretoras. Em geral, esse tipo de fundo replica os investimentos de um índice, por isso são também chamados de fundos de índices ou fundos espelhos. 

Os ETFs são uma espécie de fundo de investimento de gestão passiva. O objetivo deles, de uma maneira geral, é acompanhar o desempenho de determinado mercado financeiro nacional ou internacional. Ou seja, o objetivo dos fundos de gestão passiva não é superar o benchmark, mas, sim, acompanhar determinado índice de mercado. 

Existem ETFs que seguem o desempenho de commodities, como o petróleo; temáticos, que reúnem empresas de diferentes focos; e de renda variável e fixa. 

O que é um ETF de renda fixa americana e como funciona? 

Os ETFs de renda fixa americana são fundos de investimento negociados na bolsa dos EUA. De acordo com a Avenue, oferecem exposição a vários tipos de títulos de renda fixa, como Tesouro dos EUA, corporativos, internacionais e de alto rendimento (high yield).

Esse produto permite que os investidores participem do mercado de títulos de renda fixa dos EUA com quantias mais acessíveis. Comparados a outros tipos de ativos, os custos dos ETFs geralmente são mais baixos. Isso decorre da estrutura da operação, capaz de reduzir taxas de administração. Assim, os ETFs geralmente podem ser acessados por meio de taxas mais competitivas. 

ETF de renda fixa na bolsa americana vale a pena agora? 

De acordo com Cauê Mançanares, CEO da Investo, os ETFs de renda fixa na bolsa americana são uma boa opção para o investidor neste momento. “O atual nível dos juros americanos é o maior dos últimos 20 anos. Portanto, hoje os investidores podem se beneficiar dos altos yields dos títulos. Além disso, num cenário de queda de juros, os yields caem, mas os preços dos títulos tendem a subir. Então, quem já estiver posicionado nos títulos, vai ver o patrimônio crescer”, analisa Mançanares.

Segundo o especialista, os ETFs de renda fixa americana tiveram grandes volumes de aportes no quarto trimestre de 2023 devido a essa expectativa pela queda de juros. 

Na avaliação de Enzo Pacheco, analista de mercados internacionais da Empiricus, é importante ter em mente que o cenário de corte de juros esperado pelo mercado hoje ainda é diferente daquele projetado pelo Federal Reserve. “Então, pode haver volatilidade no meio do caminho caso os investidores revejam as suas apostas. Isso já tem sido feito nas últimas semanas, com a expectativa do primeiro corte apenas para maio ou junho, ante previsão anterior de março”, ressalta o especialista. 

Mercado de juros

Para Pacheco, a grande chance de se ganhar dinheiro no mercado de juros é antecipar corretamente o nível de juros antes que ele de fato aconteça. “Mas os grandes ganhos nesse mercado normalmente são obtidos apenas por investidores institucionais, que tem a capacidade de alavancar (pegar recursos emprestados) suas apostas”, alerta o analista da Empiricus. 

Apesar disso, o investidor pessoa física pode também ter na sua carteira esse investimento tanto por meio dos títulos diretamente como por ETFs. “Um dos principais problemas dos títulos individuais está ligado ao valor necessário para investimento, muito maior do que ele precisa para investir via ETFs. Além disso, ao comprar um ETF de renda fixa, o investidor conseguirá diversificar mais o seu portfólio do que apenas comprando um título específico”, pontua Pacheco. 

Porém, o analista salienta que isso não serve para os ETFs com vencimento, que normalmente têm poucos títulos na sua composição para uma mesma data de vencimento (leia mais abaixo). “Ainda assim eles podem ser alternativas interessantes para o investidor pessoa física pela praticidade de negociação”, diz ele. 

Tipos de ETF de renda fixa 

Há dois tipos principais de ETFs de renda fixa: aqueles que investem em uma parte da curva de juros e aqueles com vencimento específico. “No primeiro caso, o ETF adquire títulos com vencimento naquele intervalo, ininterruptamente. Um exemplo é o IEF: hoje, o ETF é composto por títulos com vencimento entre 7 e 10 anos do Tesouro americano, e o objetivo é manter a exposição sempre com essa duration (prazo médio de recebimento dos fluxos de caixa)”, destaca Enzo Pacheco. Ele lembra que, quanto maior a duration, maior o risco de taxa de juros do título/fundo.

Pacheco pontua que essa relação é inversa: um aumento nos juros gera uma queda nos preços, e vice-versa. “Então, neste caso, os ETFs de curto prazo tem um risco de duration menor do que os de longo prazo, porque o risco de reinvestimento nesses títulos é menor”, afirma ele. 

ETFs com vencimento 

Por outro lado, os ETFs com vencimento adquirem títulos com vencimento em um ano específico. Por exemplo, o IBTG vai investir em títulos do Tesouro americano que vencem em 2026. Dessa maneira, o duration desse ETF vai caindo com o passar do tempo, de acordo com Pacheco. 

“O investimento nesse tipo de ETF é igual ao investimento no título diretamente, só que de maneira mais fácil e prática para o investidor pessoa física. Caso o investidor carregue o ETF até o vencimento, ele terá o retorno dado o seu preço de compra”, resume o analista da Empiricus. 

Opções de ETFs de renda fixa na bolsa americana 

Os ETFs de renda fixa representam 20% do mercado de ETFs nos Estados Unidos, de acordo com Mançanares. “Porém, receberam US$ 209 bilhões em aportes durante o ano de 2023, o que representa 35% do fluxo total. Destaque para os ETFs TLT, BND e AGG, que juntos tiveram fluxo positivo de quase 60 bilhões de dólares”, destaca o especialista

A seguir, confira opções de ETFs de renda fixa na bolsa americana, segundo o CEO da Investo. 

ETF de renda fixa de longo prazo 

IShares 20+ Year Treasury Bond ETF (ticker: TLT): investe em títulos com vencimento de 20 anos ou mais, capturando a parte mais longa da curva de juros. 

ETF de renda fixa de curto prazo 

Vanguard Short-Term Bond ETF (ticker: BSV): é o maior em patrimônio líquido. Investe em títulos com vencimentos de 1 a 5 anos e captura a parte curta da curva de juros, por isso, possui menor volatilidade, mas também um retorno esperado menor. 

ETF com exposição ampla de todos os prazos de vencimento 

Vanguard Total Bond Market ETF (ticker: BND): investe no mercado inteiro de títulos de grau de investimento americanos (incluindo títulos do governo americano, corporativos e hipotecários).

Afinal, ETF de renda fixa na bolsa americana é um bom investimento? 

Na visão de Enzo Pacheco, analista de mercados internacionais da Empiricus, o investidor pessoa física vai conseguir entender melhor o investimento em ETFs de renda fixa com vencimento, que funcionam da mesma forma que o investimento em um título (por exemplo, um título do Tesouro Prefixado 2026). 

“Isso porque ele consegue modular melhor o investimento por diversos vencimentos para adequar aos seus objetivos”, afirma ele. 

Em relação ao investimento em ETFs de intervalo de vencimento (como o IEF, que investe em títulos com vencimento de 7 a 10 anos, ininterruptamente), explica Pacheco, o investidor tem que “conseguir acertar o cenário para aquela parte da curva de juros”. Sendo assim, “dificilmente o investidor pessoa física terá um diferencial ante os profissionais”, pontua o especialista. 

Perfil de investidor 

Na visão do CEO da Investo, a renda fixa americana pode estar no portfólio de quem busca manter parte do dinheiro alocado fora do Brasil. Assim, afirma ele, o percentual de alocação em cada ativo deve se adequar ao perfil de risco do investidor e ao horizonte de tempo considerado. 

“Vale ressaltar a importância de se manter aportes constantes e reinvestimentos de dividendos, compondo uma carteira diversificada em diversos tipos de ativos e em diversas geografias, independentemente do cenário macroeconômico. Isso porque, no longo prazo, a diversificação reduz o risco e pode garantir maior rentabilidade”, pontua Mançanares. 

Para Enzo Pacheco, a necessidade de renda fixa no portfólio vai aumentando conforme o investidor vai ficando mais velho. “Isso porque, no começo da carreira, o investidor pode correr um pouco mais de risco, já que está no momento de multiplicação do capital, não preservação do portfólio. Até porque, provavelmente, esse investidor terá um pequeno valor acumulado, com a maior parte da sua riqueza ainda proveniente do seu capital humano (valor esperado dos seus muitos anos de trabalho)”, afirma ele. 

Em contrapartida, o investidor mais velho, perto da parte final da sua carreira ou aposentadoria, não terá muito mais tempo e oportunidades de se recuperar de uma eventual desvalorização substancial de seus ativos, de acordo com Pacheco. 

“Nesse caso, entendo ser prudente o investidor aumentar sua exposição em renda fixa ao longo do tempo, para reduzir o risco do seu portfólio. Deixando claro que isso não significa que o investidor mais jovem não deva ter investimentos em renda fixa. Ainda mais se ele já tem um objetivo no curto prazo. Só que ele deve ter mais foco em multiplicar o capital do que apenas protegê-lo”, explica o analista.