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‘Jamais se afobe. Opere menos, estude mais o mercado’
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Para ele, o mercado se tornou mais justo com os pequenos investidores
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Ivan nunca se apaixona pelos ativos nos quais investe
Empresas citadas na reportagem:
Não seria exagero dizer que Ivan Sant’Anna é uma lenda viva no universo da Bolsa de Valores. Trader, escritor e analista na casa de análise inv, Ivan publicou 17 livros, entre os quais “1929: quebra da bolsa de Nova York”, “Rapina, o sequestro que abalou o mercado” e “Os mercadores da noite”, que se tornou um clássico da literatura financeira. Entre 1958 e 1995 ele fez o que o jargão chama de “tradar”, ou seja: comprava e vendia ações o dia todo, quando o pregão ainda era feito por intermédio humano, não em plataformas. Sabe os títulos públicos, esses ativos ovacionados pelos gestores? Pois então: Ivan foi um dos primeiros a negociar com as dívidas do governo federal. Mas, assim, como ganhou muito dinheiro sendo sócio de corretora, ele também perdeu muita grana. E voltou a ganhar, e perdeu novamente. E hoje conta toda essa experiência em seus livros e nos relatórios de investimento que publica. Eu conheci Ivan no caos da pandemia e, portanto e infelizmente, apenas por via remota. E te garanto: é um dos financistas mais gentis que o Brasil já teve. Te conta uma passagem do mercado financeiro ou porque ele viveu a história, ou porque estudou sobre aquilo ou, o que é mais comum, porque fez ambas as coisas. Abaixo você confere o pensamento de Ivan em tempos de guerra, pandemia, inflação e juros.
Há quantos anos você opera no mercado financeiro? E o que mudou de lá para cá?
Estou operando no mercado há 64 anos. A principal evolução que sinto é a técnica, apenas. Como em todos os setores da atividade humana. O mercado também se tornou mais justo com os pequenos investidores.
Qual foi o fato mais marcante nesse tempo?
Dia 11 de maio de 1977, quando perdi todo o meu dinheiro, na intervenção do banco Independência, reembolsando clientes que haviam aplicado comigo e perdido suas economias. A intervenção se deu porque o banco Independência estava com passivo a descoberto. Para mim não foi um momento muito dramático pois eu já o esperava havia meses. Consegui me reerguer especulando no próprio mercado com o pouco que me sobrou, mais precisamente comprando ações da CRI (Cia. Real de Investimentos).
Qual medida de qual governo mais assustou os investidores?
O confisco do Collor, sem a menor dúvida. Não perdi nem um centavo. Meu dinheiro estava todo convertido em dólares e depositado numa conta em Nova York. Um mês antes do confisco, eu o previ num relatório mensal que escrevia na época (Relatório FNJ).
Em que você investe hoje?
Em ações de empresas sólidas – de empresas ligadas à produção e à exportação de commodities – e títulos do Tesouro.
Como era sua carteira há 40, há 20 e há 10 anos?
Em 1982 era especulação pura (de todos os tipos, inclusive venda a descoberto de calls e puts). Já em 2002, meu foco eram os títulos do Tesouro americano. Cheguei em 2012 com as obrigações da Petrobras e do Banco do Brasil, emitidas em dólares, rendendo 6% ao ano, em dólares, e negociadas no mercado americano.
Existe algum ativo do qual você seja fiel?
Nenhum. Não me apaixono por minhas posições. Na época da Paranapanema, por exemplo, que chegou a ser uma blue chip, eu só operava nos mercados americanos. E somente nos mercados de derivativos, extremamente alavancado.
Como o mercado trata os minoritários?
Agora trata razoavelmente bem. Antigamente, eles eram esfolados. Hoje, com o fim dos pregões viva-voz, e o advento do mercado eletrônico, as ordens são executadas por ordem de chegada e não pelo tamanho.
De qual investimento você foge hoje em dia?
De ações de empresas estatais e de companhias com preços administrados pelo governo. Não confio em governos, principalmente no brasileiro.
Que dica você daria para um jovem investidor?
Jamais se afobe. Opere menos, estude mais o mercado. E leia The Market Wizards e The New Market Wizards, ambos de Jack D. Schwager.
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