Corretoras são as maiores responsáveis por educação financeira dos investidores
Estudo global da gestora Schroders mostra que investidores terceirizam responsabilidade por conhecimento de finanças pessoais
As instituições financeiras que prestam serviços de investimentos, como bancos e corretoras, foram apontadas como as maiores responsáveis por assegurar que seus clientes tenham um nível suficiente de conhecimento sobre questões financeiras pessoais. A conclusão é do Estudo Global de Investidores da Schroders, que entrevistou 23.950 pessoas em 33 países que pretendem investir pelo menos 10 mil euros (ou o equivalente) nos próximos 12 meses e fizeram mudanças em seus investimentos nos últimos 10 anos. A pesquisa foi realizada entre 18 de fevereiro e 7 de abril de 2022.
E apesar dos investidores depositarem as maiores expectativas de fonte de conhecimento nessas instituições, essa parcela caiu de 62% em 2020 para 51% neste ano, conforme o levantamento. Em 2020, contudo, 68% dos entrevistados disseram que as próprias pessoas eram responsáveis por assegurar esse conhecimento. Neste ano, essa parcela caiu para apenas 24%.
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De quem é a responsabilidade pela educação financeira?
Como era possível aos entrevistados apontar mais de uma resposta, 44% deles afirmaram que as escolas eram também responsáveis por levar conhecimento financeiro aos alunos, nível abaixo dos 51% que deram a mesma resposta em 2020.
Em terceiro lugar, com 39% dos apontamentos, ficaram os consultores financeiros independentes, ante 61% em 2020. Em quarto lugar, com 35% das respostas, foram apontados os governos e órgãos reguladores, ante 46% em 2020. Até mesmo os membros da família, com 29%, aparecem com maior responsabilidade pelas finanças pessoais dos entrevistados do que eles mesmos. Por último, apontado por 19% dos entrevistados, aparecem os empregadores dos investidores.
Terceirização da responsabilidade
Segundo a Schroders, essa terceirização da responsabilidade é provavelmente produto de vários fatores. “Os bancos e seus reguladores renovaram o foco na educação financeira como parte de suas estratégias mais amplas de ESG e sustentabilidade, tornando o material de educação financeira mais visível e mais fácil de acessar”, explica a gestora no estudo.
Além disso, as novas plataformas de investimento também permitiram maior acesso ao material educativo, bem como ambientes de investimento “sandbox”, onde as estratégias de investimento podem ser testadas e os resultados simulados, transmitindo mais experiência às pessoas sem o risco do mundo real.
Laboratório de investimentos
No Brasil, o sandbox é um ambiente de testes de projetos aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com condições especiais e limitadas. Em outras palavras, é uma espécie de laboratório onde se testa o que dá ou não certo naquele ativo ou ambiente de negociação, antes de bater o martelo, oficializando a criação e funcionamento do mesmo.
“As lições da pandemia também podem ter contribuído para essa mudança. Em uma época em que os investidores de varejo começaram a manter seus investimentos por períodos de tempo muito mais curtos e a assumir riscos excessivos em títulos altamente voláteis, as histórias de horror de um cálculo errado de saída continuam a destacar a necessidade de investimentos planejados”, acrescenta a Schroders em seu estudo.
A terceirização de responsabilidades também tem influência sócio-política. A Schroders explica no levantamento que a variação nos níveis regional e local mostra a influência das psicologias nacionais e da organização política na distribuição de responsabilidades.
Como pensam os estrangeiros?
Na Ásia, por exemplo, onde os estados geralmente são “maiores”, mais responsabilidade foi colocada sobre os governos e reguladores do que em outras regiões, com 43% em comparação com a média global de 35%. Na Europa, onde o conceito de social-democracia é um pouco mais prevalente, menos responsabilidade se coloca para as próprias pessoas, em 15%, em comparação com a média global de 24%. Isso cai ainda mais em locais como Bélgica (9%) e Holanda (12%).
Globalmente, segundo a gestora, os resultados sugerem que assegurar a educação financeira é uma responsabilidade de todos. “Melhorar a educação financeira certamente capacitará mais pessoas a assumir o controle de seu futuro financeiro. É do interesse econômico de todos garantir que os participantes do mercado tomem decisões bem informadas”, diz a Schroders.
A gestora destaca que as novas tecnologias tornaram o acesso aos mercados de capitais mais fácil do que nunca. Ao mesmo tempo, elas também provocaram a proliferação de novos produtos de investimento e classes de ativos que carregam riscos e são complicados por natureza.
“Embora essas novas plataformas tenham percorrido um longo caminho para capacitar as pessoas e democratizar o investimento, elas também enfatizam a importância de garantir que as pessoas tenham conhecimento financeiro suficiente”, diz a Schroders.