Sergio Rial: ‘Capacidade de identificar sinais de problemas talvez não estivesse tão fluida na Americanas’

Executivo deixou o comando da varejista após a revelação de 'inconsistências contábeis' de R$ 20 bilhões

O ex-presidente da Americanas, Sergio Rial, confirmou em evento no BTG Pactual destinado a analistas e investidores, que divergências identificadas nos balanços da companhia, relacionadas com as “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões, têm relação com a estruturação do “risco sacado”.

Ontem, fontes ouvidas pelo Valor já apontavam falta de clareza sobre essa linha. Rial permanece como assessor nesses trabalhos de identificação do rombo.

O problema, identificado em um pouco mais de uma semana em que Rial e o diretor financeiro André Covre estavam na companhia, levou a um pedido de renúncia na noite de quarta-feira, algo inédito no mercado de capitais brasileiro.

“Quero ser o mais rigoroso tecnicamente”, disse o executivo no evento. “O que eu e André nos demos conta é que existiam inconsistências no reporte de alguns itens, a gente encontra algumas distorções importantes. A primeira distorção importante, que acho que era um tema claramente das Americanas, mas não só das Americanas”, disse o executivo, em um evento virtual lotado.

Nesse início de sua apresentação, a qual o Valor teve acesso por meio de uma apresentação pelo YouTube, o executivo disse que essa questão é um velho problema do varejo brasileiro, visto desde a década de 1990.

Rial afirmou que as auditorias têm tentado, ao longo do tempo, enquadrar essa questão e “estão fazendo isso, separando o que é [da conta] de fornecedor, o que é exatamente dívida bancária”.

“Dado às vezes alguma liberalidade de interpretação, permite que empresas e até as instituições financeiras do que é dívida e o que é fornecedor. No nosso caso, o que me chamou atenção, que entendo a estrutura da operação, o porque nas cartas de circularização encaminhadas aos bancos, isso não aparece como dívida. Essa é a primeira reflexão”, cometa aos presentes.

Essas cartas, explica, mostram o compromisso da empresa junto aos bancos. “Isso do que eu vi, não vi tudo. E outro ‘disclaimer’. Eu e André vimos o que dava para se ver em nove dias”, frisou. Ele destaca que, nos documentos, não viu esses valores sendo tratados como dívida.

“Se existe um financiamento direto ao fornecedor, nas mesmas condições que normalmente aconteceriam, isso é fornecedor. Se por alguma razão, nessa conta fornecedor, há um fornecedor menor, você empresta o seu balanço para financiar esse fornecedor menor, também é uma conta fornecedor. Já se eu coloco o banco na triangulação e isso é feito diretamente pelo banco, e a partir daí a empresa que comprou determinado produto passa a dever para o banco, é dívida bancária e daí vão outras derivações”, explicou.

Ele comentou que será preciso um trabalho sobre o tema para que não só as empresas tenham uma forma mais clara e o mercado também tenha mais clareza sobre as variáveis sobre conta fornecedor e conta banco.

O executivo disse que após o a emissão de ações em 2020 a empresa estava com uma boa estrutura de capital, “razoável para o seu tamanho, com crescimento exponencial”, principalmente no digital.

Rial disse que foi possível se perceber o problema tão rapidamente “sob o ponto de vista de liderança que do ponto de vista de transparência da gestão de falar de problemas e desafios não tivesse tão fluida”.

“A gente se debruça sobre a capacidade da empresa de monetizar impostos. Eu tinha uma preocupação de entender a geração de caixa da empresa, porque acredito, sou antigos, que acredito em fluxo de caixa livre”, afirmou.

Gestores criticaram a queda de sistema da teleconferência aos 17 minutos, por causa da entrada de investidores para acompanhar a teleconferência da empresa. O BTG, que organiza a call, confirma a queda do sistema. “É inacreditável que isso aconteça nesse momento”, disse um gestor.