Mercado conta com um novo corte de 0,50 ponto na taxa Selic. Mas o que vem pela frente?

Comitê do Banco Central se reúne hoje para definir patamar da Selic para os próximos 45 dias

Os operadores do mercado financeiro contam com um novo corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic nesta quarta-feira (1º), quando o Copom, do Banco Central (BC), concluirá a sétima e penúltima reunião de política monetária de 2023.

Das cercas de dez instituições consultadas pela reportagem, todas esperam, neste momento, por uma taxa básica de juros no patamar de 12,15% ao ano a partir de novembro. Além disso, com boas chances de uma queda do mesmo patamar na última reunião, em dezembro.

Isso faria com que Selic encerre o ano em 11,75% a.a.. Apesar da guerra em Israel e da manutenção dos problemas fiscais dos Estados Unidos.

Pesquisas apontam quedas para a taxa Selic

Uma pesquisa conduzida pelo BTG com 61 agentes financeiros, divulgada na última sexta-feira (27), apontou que 95% dos entrevistados contavam com a mesma projeção, de queda de meio ponto porcentual.

Outro levantamento, feito pelo Broadcast, foi pelo mesmo caminho. De 57 casas consultadas, 55 (96%) disseram esperar por cortes sequenciais de 0,50 ponto nos juros até o fim de 2023. Enquanto isso, duas (4%) previam aceleração do ritmo de baixa a 0,75 ponto em dezembro.

Ruídos sobre revisão na tendência de queda da Selic

Enquanto há consenso sobre o que deve acontecer neste ano com a taxa Selic, há muito ruído no mercado sobre uma possível revisão da taxa terminal dos juros básicos da economia em 2024.

Isso fica evidente quando se olha o comportamento dos contratos de juros negociados na bolsa com vencimentos para o meio do ano que vem. Eles operam com oscilação, mas visível tendência de alta, refletindo a opinião de boa parte dos operadores das mesas de renda fixa.

“Nas últimas semanas, a gente tem visto com cada vez mais frequência o pessoal do mercado se perguntando ‘será que o Copom vai continuar cortando juros no ritmo que estava inicialmente?’. A própria curva de juros deu uma ‘reprecificada’ boa”, afirma Ulisses Nehmi, CEO da gestora Sparta.

A chegada dos ressabiados

O mercado até então se dividia entre dois grupos. Ou seja, dos otimistas, que trabalhavam com uma Selic entre 9% e 9,5% no fim do ciclo de cortes. E dos muito otimistas, que esperavam os juros entre 8% e 8,5%.

Agora, com o conflito no Oriente Médio e a preocupação com a deterioração fiscal nos Estados Unidos, uma terceira via se apresenta. É a dos ressabiados, que projetam a Selic em 10% em meados do ano que vem.

Até agora, somente o Citi elevou oficialmente a projeção para a Selic, de 9% para 10%. Em relatório, o banco americano alegou a revisão “à combinação de hiato do produto mais apertado, à expectativa de inflação mais persistente à frente e ao aumento dos juros globais”.

O hiato de produto, que no caso do Citi se refere ao do Brasil, é a diferença entre o PIB potencial e o realizado do país.

No Itaú, Bruno Serra, gestor da Itaú Asset Management, disse à Bloomberg que já prevê a taxa Selic perto de 11% até o fim do ciclo atual.

“Antes estava precificado no mercado que a Selic poderia terminar o ano que vem abaixo de 10% ao ano. E, agora a gente olha e (a curva de juros) já está acima de 10%. Então, não existe mais uma expectativa tão otimista embutida no mercado”, aponta Nehmi, da Sparta.

Economistas estão cautelosos

De forma geral, o time dos ressabiados ainda está relativamente restrito às mesas de operações, o lado mais quente (e emocional) do mercado financeiro.

Mas essa discussão anda forte também entre os economistas. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que nas últimas semana aumentou o risco do BC ter que parar o ciclo de cortes da Selic antes de sua projeção inicial.

“Pode parar antes por conta do cenário externo e nosso risco fiscal, que mantém as expectativas de inflação elevadas”, afirma.

Vale ainda acredita em duas quedas idênticas da taxa Selic neste ano de 2023, de 0,50%, cada uma. E seguindo nessa mesma toada até alcançar 9,25% em julho de 2024. Mas… “Ainda não é o cenário básico a Selic terminar esse processo de queda (na casa dos) dois dígitos. Mas fica muito afastada a chance de queda além da 9,25% ao ano”, afirma.

A economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, tem praticamente o mesmo cenário de Vale. Mas com uma mudança pequena na taxa terminal, que ela estima em 9,50% para o final de 2024.

“No início do atual ciclo de flexibilização, o Copom sinalizou sua intenção unânime de manter uma ‘velocidade de cruzeiro’ de cortes de 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões. E acreditamos que o BC seguirá com este ‘plano de voo’, afirma ela, em relatório divulgado na última sexta-feira (27).

“No entanto, dado o cenário inflacionário doméstico benigno – especialmente na parte de serviços — ainda não descartamos totalmente a possibilidade de um ritmo mais acelerado de cortes no início de 2024, porém a chance de isto ocorrer está cada vez menor tendo em vista o recente aumento nas incertezas externas”, pondera a economista.