Fabio Giambiagi: “Investidor de Tesouro Direto está em situação confortável”

Economista sumidade em contas públicas analisa o período pré-eleição para os investidores
Pontos-chave:
  • As incertezas da economia recaem nas taxas de juros
  • É hora de ter frieza, pensar no longo prazo, fazer contas e buscar informações

Mestre em economia e funcionário do BNDES desde 1984, Fabio Giambiagi é um dos maiores especialistas em contas públicas e previdência social do Brasil.

Com um olho nos dados econômicos brasileiros e outro no desempenho deles no bolso do contribuinte, Giambiagi é categórico.

“Hoje, ter fundos com lastro em Tesouro Direto é mais do que confortável, considerando as atuais circunstancias”, afirma o economista.

As “atuais circunstâncias” têm a ver com os juros básicos, que até a próxima reunião do Copom, que acontece entre os dias 20 e 21 de setembro, estão em 13,75% ao ano.

Com isso, nossos juros reais (que descontam a inflação) e os que são cobrados no crédito ao consumidor, como o do cheque especial, vão para a estratosfera.

Por outro lado os investimentos atrelados a eles, como títulos do Tesouro Direto com juros grudados na Selic, são puxados para cima. E aí onde Giambiagi queria chegar.

Qual é o impacto das eleições para a economia?

Na entrevista que Giambiagi concedeu com exclusividade à Inteligência Financeira, e que você pode conferir no vídeo que está logo abaixo, ele disseca também o atual momento político pelo qual o Brasil passa.

Uma eleição singular

Nascido no Brasil, mas criado na Argentina até a adolescência quando voltou para cá, Giambiagi foi membro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em Washington durante dois anos e já assessorou o Ministério do Planejamento.

Tem seu nome em mais de 40 livros sobre economia brasileira. São obras como O Futuro é hoje – educação financeira para não-economistas – e Finanças Públicas – Teoria e prática no Brasil.

É pesquisador associado do FGV IBRE e faz parte do corpo técnico do núcleo de Política Econômica da Economia Aplicada do FGV IBRE.

Com um currículo desses e sendo respeitado por todo o mercado, Giambiagi garante: “o Brasil enfrenta uma eleição bastante singular, que é dominada pelas duas principais candidaturas, que juntas têm mais de 80% dos votos”.

O que o eleitor pode esperar?

“O eleitor vai às urnas sem ter a mínima noção do que lhe aguarda. No caso do Bolsonaro, até sabe se o que ele fez. Mas as circunstancias são outras. As linhas gerais do programa é uma incógnita absoluta. O teto de gastos foi violado. Deve haver uma nova PEC que vai furar o teto de gastos para viabilizar o auxilio brasil”, prenuncia ele.

E Lula?

“O ex-presidente Lula tem dito de que não tem necessidade de explicitar o programa de governo, porque todos conhecem os anos que ele foi presidente. Mas as circunstâncias são diferentes de quando tomou posse.”

Juros refletem as incertezas da economia

As incertezas acabam caindo nas taxas de juros.

“E a taxa atual está muito elevada”, afirma.

“Reduzir os juros deveria ser uma prioridade do presidente eleito, porque são essas taxas que importam em termos de investimentos, que estão baixos em relação às necessidades do país.”

O que o investidor deve fazer?

Giambiagi acredita que o conceito de inteligência financeira depende de alguns atributos, principalmente nesta fase pré-eleições.

São eles:

  1. Tenha frieza: “Tomar decisões intempestivas é passaporte para o arrependimento”;
  2. Olhe para o longo prazo: “Só assim você consegue separar o que é barulho do que é fato”;
  3. Mergulhe nas suas contas: “Não é preciso saber trigonometria para isso”;
  4. Ter avidez por informação: “Acompanhe o noticiário para ver qual é o debate em curso”.