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A salvação da Portuguesa: aporte de R$ 1 bilhão na SAF da Lusa e foco na série A em 5 anos
Nesta semana, foi anunciado o projeto de salvação da Portuguesa de Desportos, clube tradicional do futebol paulista, e que chegou a ser vice-campeão brasileiro da Série A em 1996. Salvação é a palavra que melhor define o projeto que o grupo formado por XP, Tauá e Reeve apresentou ao clube.
Desde o fatídico campeonato brasileiro de 2013, quando a Portuguesa cometeu um erro administrativo, foi punida e rebaixada para a Série B, o clube viu-se arrastado por um furacão que a levou praticamente ao ostracismo esportivo. Deixou as divisões nacionais, foi para a A2 Paulista, a 2ª divisão do estado de São Paulo, e foi perdendo a capacidade operacional e competitiva.
Assim, com muitas dívidas, poucas receitas, ativos desvalorizados, o clube se arrastava em campo, e fora dele vive do apoio de seus poucos sócios e torcedores.
Portuguesa e as SAFs
A lei das SAFs trouxe a possibilidade de salvação da Lusa. E olha que foram algumas as tentativas de negociações pelo que sei. Vários grupos foram atrás do clube na tentativa de recuperá-lo. Não sei os motivos que impediram que houvesse solução antes, mas agora chegamos ao que parece a última cartada.
Pelo que se viu, no entanto, serão aportados R$ 1 bilhão na SAF da Lusa. Desse valor, R$ 500 milhões irão para a reforma do estádio do Canindé, transformando-o numa arena para receber jogos e eventos. Depois haverá aportes de cerca de R$ 250 milhões para sanear as dívidas, e mais R$ 250 milhões para investidor no futebol ao longo de 5 anos. Falamos de grandes números aqui, e no futebol o objetivo é estar na Série A do Brasileiro em 5 anos.
Como é o projeto da Portuguesa
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas vamos aos fatos, e o primeiro é simples: o projeto é ousado.
A primeira questão é a da necessidade de mais uma arena multiuso em São Paulo.
Já temos Morumbis, Allianz, teremos o Pacaembu. Cabe uma quarta arena? Não sei, e não sou especialista sobre o tema. O investidor é, esse acredita que terá retorno para os R$ 500 milhões investidos com jogos da Lusa e shows/eventos, muito bem.
Considerando a remuneração mais amada da Faria Lima no momento (IPCA + 6% ao ano) estamos falando em algo como 10% ao ano. Certamente o modelo de negócios projeta mais que isso. Mas, como meu papel é apontar riscos, este é um para o investidor. Para o torcedor da Portuguesa será ótimo ter um estádio moderno onde ver os jogos. Logo, nem tem porque discordar.
Depois, a questão da dívida parece ser a mais simples, considerando que parte fiscal pode ser alongada, e as trabalhistas e cíveis podem ser pagas com desconto, dentro ou fora de um plano de recuperação. Aqui é bom para todo mundo.
Gestão esportiva
Depois, vem a questão esportiva. Estima-se investir R$ 12 milhões para montar o elenco do Paulistão 2025, mais os recursos que a federação repassa (cerca de R$ 10 milhões), e temos então um orçamento capaz de manter a equipe na A1. E depois vem mais dinheiro para formar o elenco da Série D.
Admiro o desafio, e com injeção de R$ 40/50 milhões anuais – estou pegando os R$ 250 milhões indicados e dividindo por 5 temporadas – é possível chegar na Série A no período, pelo menos hipoteticamente. Afinal, é um orçamento acima da média das Séries B, C e D. Por enquanto, uma vez que há mais SAFs entrado nas competições.
Então, sabemos que apenas dinheiro não é suficiente. Precisa de um trabalho na gestão esportiva. Vamos acompanhá-lo.
Para o sofrido torcedor da Portuguesa será lindo. O clube voltará a ter relevância esportiva e um estádio novo. Mas chegar na Série A é uma coisa, permanecer nela é outra. A Portuguesa tende a fazer receita da seguinte ordem:
- Direitos de Transmissão: R$ 125 milhões
- Patrocínio: R$ 30 milhões
- Bilheteria / Sócio Torcedor: R$ 20 milhões
- Negociação de atletas: R$ 30 milhões
Receita Total estimada: R$ 205 milhões.
Nos números de 2023, porém, o valor estimado acima está dentro do intervalo dos clubes que foram rebaixados nos últimos 5 anos. Claro, há a exceção do Cuiabá, que por 3 anos conseguiu permanecer na Série A, ou mesmo do Fortaleza, que com cerca de R$ 260 milhões de receitas faz grandes trabalhos esportivos. Mas são exceções. Logo, para que a Lusa do futuro se mantenha na Série A após alcançá-la será necessário tornar-se uma exceção, o que é um desafio natural. O que não significa que seja impossível.
Movimento da Portuguesa é para celebrar
Para o torcedor o projeto é lindo, porque é a chance da Portuguesa se recuperar. É isso ou um caminho cada vez mais difícil num ambiente que está se profissionalizando. Vejam o que acontece com Novorizontino e Mirassol, enquanto Guarani e Ponte Preta desabam. E para os investidores, eles sabem fazer conta melhor do que eu.
Num mercado com tantos ativos à venda e poucos interessados, porque o futebol brasileiro ainda não chegou ao ponto de maturidade para atrair investidores estrangeiros, e os locais têm dificuldade em se desvencilhar dos preconceitos históricos, criados pelos próprios clubes, o movimento da Portuguesa é para ser celebrado.
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