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Mudança no alto escalão na Cosan joga luz na redução de dívida e revisão dos negócios do grupo
Empresas citadas na reportagem:
A renúncia do executivo Ricardo Mussa, do grupo Cosan, oficializada na última sexta-feira (29), joga luz em alguns pontos frágeis enfrentados nos últimos meses pelo conglomerado de Rubens Ometto, que interrompeu o movimento de expansão de seus negócios para reduzir sua alavancagem.
Há pouco mais de um mês, o grupo anunciou uma mudança no alto escalão, trocando de funções seus principais executivos — e colocando outros para escanteio.
Em comunicado ao mercado, o grupo informou que aceitou a renúncia de Mussa. Na troca de cadeiras anunciada em outubro, o executivo deixou o comando da Raízen, joint venture com a Shell para distribuição de combustíveis e energia, para assumir a Cosan Investimentos, além de funções no conselho. Nelson Gomes assumiu o negócio. O desempenho da Raízen não estava agradando o fundador.
Um ano antes, o grupo já tinha anunciado uma reestruturação do “top management” e, nesse meio tempo, gestores de importantes negócios deixaram a companhia — caso de Beto Abreu, que foi para a Suzano.
A principal mensagem dessa recente dança de cadeiras é que o grupo quer focar na redução da alavancagem. E isso, na prática, significa que o principal DNA do conglomerado — expansão por aquisições — vai ficar em seg.
O Valor conversou com fontes de mercado nas últimas semanas e a percepção é que o grupo de Rubens Ometto fez nos últimos meses importantes investimentos, que ainda não se concretizaram em geração de caixa para seus negócios, em um cenário de alta dos juros e volatilidade da moeda. Será preciso vender ativos — uma forma mais fácil para reduzir a dívida —, mas nem isso tem sido um caminho óbvio.
O bilionário investimento da Cosan na Vale, no fim de 2022, teve um ponto de virada na história para o grupo, que nasceu como produtor de açúcar e etanol e virou nos últimos anos um conglomerado de energia e infraestrutura.
Ometto acreditou que, ao comprar uma fatia relevante na Vale, poderia participar ativamente da gestão da mineradora. Mas não foi bem isso que aconteceu na prática.
O empresário, então, nunca viu problemas em ter sócios em seus negócios — desde que ele mantivesse o controle. Na mineradora, contudo, uma “corporation” (sem controlador definido), o governo é um dos tomadores de decisão na empresa, o que por si só engessa a estrutura.
Com o aporte bilionário na Vale, a Cosan também ficou engessada em tomadas de decisões para outros investimentos. Foi o caso da Sabesp, segundo uma fonte a par do assunto. O grupo de Ometto foi apontado como um potencial acionista de referência no negócio, considerado a “cara do grupo”. Mas a Cosan não tinha bala na agulha para seguir adiante com uma proposta, sem comprometer a estrutura financeira da companhia.
O grupo enfrenta, neste momento, um ponto de inflexão. Diante de um cenário macro de juros altos e volatilidade, além da pressão para reduzir o endividamento, quais ativos que a companhia poderá abrir mão?
A dívida líquida da Cosan chegou a R$ 21,7 bilhões no fim do terceiro trimestre, ante a dívida de R$ 21,5 bilhões ao término do segundo trimestre. Assim, a alavancagem da companhia, medida pela relação dívida líquida sobre Ebitda, ficou em 2,9 vezes, acima do patamar de 2,7 vezes apresentado no trimestre anterior.
Na Raízen, o seu principal acionista, a Shell, busca lucro. Já a Cosan foca em mais dividendos. Na Vale, por exemplo, o recente acordo fechado em Mariana reduz a capacidade da companhia de pagar altos dividendos.
Nos últimos anos, a Raízen fez pesados investimentos na refinaria da Argentina e em etanol de segunda geração, mas esses ativos ainda não são forte geradores de caixa. Nos últimos meses, a companhia vendeu negócios de geração distribuída e poderá se desfazer de um outro pacote da mesma classe nos próximos meses.
O etanol de segunda geração de etanol também é importante para a companhia. Sócios não estão descartados para entrar no negócio.
Na Moove, a expectativa era de uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), que acabou frustrada este ano. Um aporte privado também não está descartado. A Compass, de gás natural, também não descarta um “private placement” — e há investidores interessado em entrar no negócio.
A pergunta que fica é: qual será o destino da participação da Cosan na Vale (hoje em cerca de 4%)? É um ativo fácil de vender (uma pequena fatia já foi negociada em bolsa), mas Ometto abriria mão de todo o resto?
Com informações do Valor Pro
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