A realidade da bolsa de valores mudou, mas o que esperar do investimento no longo prazo?

Ibovespa viveu um rali que superou 18% e em 2024 protagoniza desvalorização

Os investidores já perceberam que a realidade da bolsa de valores brasileira neste início de ano é o inverso do fim do ano passado. Assim, o Ibovespa viveu um rali que superou 18% no último bimestre do ano passado e, em 2024, protagoniza desvalorização que oscila na casa dos 4%. Não é pouca coisa. Mas e agora? E como focar no investimento de longo prazo?

Dessa forma, um olhar tomando como base a análise gráfica, pode nos ajudar a compreender o que está acontecendo.

Primeiro, é necessário entender o que ocorreu entre o fim do ano passado e o início de 2024. “Terminamos 2023 com os investidores voltados para tomarem risco”, afirma Fábio Perina, estrategista de ações focada em análise gráfica do Itaú BBA.

De acordo com ele, isso verifica-se observando o mercado de ações, mas também as curvas de juros nos mercados emergentes, Brasil incluso, e nos desenvolvidos.

“Com a possibilidade do corte de juros nos Estados Unidos não ser mais em março percebemos que os mercados emergentes sofrem mais”, analisa Perina.

Bolsa de valores: uma análise gráfica de longo prazo

Então, de acordo com Perina, apesar das quedas recentes, ainda não há mudança de tendência em investimento de longo prazo para o Ibovespa.

“Até porque o índice segue negociando acima da sua média móvel de 200 períodos, que para a análise gráfica ela é um ótimo divisor de águas quando se fala em tendência de longo prazo”, explica.

Assim, para o especialista, quando o Ibovespa superou sua máxima histórica em dezembro, seu objetivo para a bolsa de valores era chegar a 150 mil pontos ao longo de 2024. “Enquanto o Ibovespa permanecer acima da sua média móvel de 200 períodos, esse número vai continuar valendo para nós”.

Ainda segundo o analista gráfico, em 2024 é possível enxergar alguns movimentos comuns rumando à direção oposta ao cenário observado no fim do ano passado.

“As Treasuries de 10 anos nos Estados Unidos terminaram 2023 próximas as mínimas e em torno de 3,9%. Até a última sexta-feira (dia 9 de fevereiro) subiram para pouco acima de 4,15%. Os mercados emergentes sentiram, se olharmos os ETFs de países emergentes que terminaram o ano próximos as suas máximas, no mesmo período vimos eles devolverem parte dos ganhos”, explica o especialista.

Ele cita, por exemplo, o EWZ (Brasil), com queda de 5,8%, o ECH do Chile (-12,4%) e o EZA da África do Sul (-8,2%).

B3: painel mostra desempenho do Ibovespa. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Com a bolsa em queda, a renda fixa vale a pena?

Então, diante de uma bolsa de valores que patina, vale a pena o investidor optar pela renda fixa quando o assunto é investimento de longo prazo? O que vai acontecer com a renda fixa nos próximos meses? Fizemos essa última pergunta para Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa do Itaú BBA.

Lucas cita que algo interessante que ocorre em países como os Estados Unidos e o Brasil é que os bancos centrais subiram rapidamente as taxas de juros.

Mas as economias não desaceleraram no ritmo esperado, “o que causa apreensão quanto ao processo de convergência dos índices de inflação às suas metas”.

Para Lucas, no que diz respeito aos Estados Unidos, a pergunta é quando o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) vai começar a cortar os juros.

discurso de Powell; juros eua
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Foto: Leah Millis/File Photo/Reuters

No Brasil, segundo ele, esperam-se reduções seguidas por parte do Comitê de Política Monetária (Copom) até a Selic atingir o nível de 9% ao ano.

“Enquanto para os próximos meses é esperado que o mercado de renda fixa por aqui siga com volatilidade e sem tendência, dada (a) continuidade sobre as especulações em relação ao Fed, nosso cenário base é de que os cortes por lá estarão em curso ao longo do segundo semestre”, afirma o estrategista de renda fixa do Itaú BBA.

Dado o cenário, quais as dicas para renda fixa?

Acostumado a traçar cenários, Lucas vai direto ao ponto.

“Com a volatilidade esperada para os próximos meses, investidores com horizontes de investimento de até um ano devem se manter nos títulos pós-fixados, que continuarão a rentabilizar acima da inflação”, afirma.

Assim, para quem tem mais apetite por risco, e com possibilidade de manter suas posições por mais de 12 meses, Lucas vê oportunidades tanto para títulos IPCA+ de prazos intermediários (2 a 5 anos) quanto de prazos mais longos (acima de 5 anos).

“Contudo, é importante frisar que os retornos em 2024 devem ser menores do que os observados no ano passado”, conclui.

Fica a dica.

Para investidores atentos ou não.