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Retrospectiva financeira de 2024: o que funcionou e o que falhou no ano que chega ao fim
“Às vezes, as árvores não deixam ver a floresta.” A frase, que circula sob várias versões, ilustra bem o que Daniel Kahneman descreve como ruído. Em seu livro Ruído: Uma Falha no Julgamento Humano, ele alerta para a tendência humana de se perder em detalhes irrelevantes enquanto ignora o que realmente importa. Essa reflexão é essencial ao olharmos em retrospectiva para 2024. Em meio ao turbilhão de notícias, algumas questões dominaram o cenário financeiro brasileiro e norte-americano, trazendo aprendizados valiosos.
Abaixo, vamos ver 2024 em retrospectiva financeira.
Brasil: a floresta e suas árvores
1. Dominância fiscal: o elefante na sala
No Brasil, o conceito de dominância fiscal continuou a assombrar debates econômicos. Quando as contas públicas ficam insustentáveis, as políticas monetárias perdem eficácia, porque investidores e consumidores começam a desconfiar da capacidade do governo de honrar seus compromissos. Em 2024, o país navegou por um cenário em que déficits elevados e dificuldades para implementar reformas estruturais levantaram esse ponto. A dominância fiscal não é apenas uma questão teorica, mas uma força que modela juros, inflação e expectativas, deixando claro que resolver o problema exige coragem política e planejamento de longo prazo. Torçamos para que a dominância fiscal fique restrita às páginas dos livros de economia e não se torne uma realidade palpável no país.
2. IPCA+6, 7 ou mais: risco ou oportunidade?
Nesse contexto, os títulos indexados à inflação chamaram atenção. Com o mercado demandando prêmios elevados para financiar a dívida pública, títulos oferecendo IPCA+6 (ou mais) se tornaram um atrativo para investidores com paciência e estômago forte. Apesar do risco fiscal, esses papéis oferecem um dos maiores retornos reais do mundo. Para aqueles dispostos a carregar esses títulos até o vencimento, a oportunidade de juros reais elevados é inegável. O desafio, claro, é ignorar a volatilidade do curto prazo e manter o foco no horizonte mais longo.
3. Diversificação internacional: a busca por solidez
Enquanto os riscos locais preocupavam, muitos brasileiros intensificaram sua busca por diversificação internacional. Com a solidez do dólar e o dinamismo do mercado norte-americano, os investidores voltaram os olhos para ativos estrangeiros que oferecem rentabilidade esperada atrativa e proteção em moeda forte. Além disso, a diversificação não é apenas sobre retorno, mas também sobre resiliência em tempos de crise. Para quem deseja construir portfólios robustos, essa foi uma lição clara de 2024.
Estados Unidos: o ano da inovação e da resiliência
1. Inteligência Artificial: o novo motor da economia
No cenário norte-americano, 2024 será lembrado como o ano em que a inteligência artificial (IA) consolidou seu papel como força motriz da economia. Empresas líderes, como NVIDIA (NVDC34), experimentaram valorizações impressionantes. A adoção rápida da IA por diversos setores gerou ganhos de eficiência e produtividade que ultrapassaram expectativas. Esse avanço não apenas impulsionou os mercados acionários, mas também começou a redefinir modelos de negócios em setores inteiros, da saúde ao varejo.
2. Bitcoin a US$ 100 mil: o retorno do rei
Outra estrela de 2024 foi o bitcoin, que ultrapassou a marca histórica de US$ 100 mil. Com investidores buscando proteção contra incertezas fiscais e monetárias, o ativo digital voltou a atrair atenção. A consolidação de regulamentações mais claras em mercados desenvolvidos também contribuiu para o retorno de sua popularidade. O bitcoin, outrora chamado de “ouro digital”, reafirmou sua posição como um ativo de destaque no cenário global.
3. Petróleo em baixa, mesmo em um mundo conturbado
Apesar da continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e de uma nova crise no Oriente Médio, o petróleo manteve preços surpreendentemente baixos. Esse equilíbrio foi sustentado por uma combinação de fatores: a diversificação energética, a liberação de reservas estratégicas, o aumento da produção em países como os EUA e a desaceleração do consumo na China. Em um mundo cada vez mais voltado para a transição energética, o petróleo mostrou que ainda tem espaço, mas em condições diferentes das que dominavam o século XX.
4. Soft Landing: a economia resiliente
Um dos feitos mais notáveis de 2024 nos EUA foi o chamado soft landing. Contra muitas previsões pessimistas, a economia conseguiu controlar a inflação enquanto iniciava um ciclo de cortes de juros, sem comprometer o crescimento ou o nível de emprego. Essa combinação, rara na história recente, trouxe otimismo para mercados globais e renovou a confiança no Federal Reserve como maestro da política econômica.
5. Preocupações fiscais e juros de equilíbrio mais altos
No entanto, nesta retrospectiva 2024, nem tudo foi perfeito. As preocupações fiscais nos EUA cresceram, especialmente com o aumento do protecionismo e as restrições à imigração. A inflação levou o mercado a precificar juros de equilíbrio mais altos, gerando debates sobre a dinâmica fiscal a longo prazo. Mesmo assim, a economia americana segue como um pilar de estabilidade e inovação global.
Retrospectiva 2024: um ano de lições e esperanças
Enquanto 2024 chega ao fim, é importante lembrar que, como na vida, no mercado financeiro a visão geral importa tanto quanto os detalhes. O desafio é identificar os ruídos e focar nos sinais. Que 2025 traga novos aprendizados, boas oportunidades e que a Fortuna, Imperatrix Mundi, seja generosa conosco.
Como dizem os versos de Carl Orff em Carmina Burana: “O Fortuna, velut luna, statu variabilis”. Que, apesar das mudanças, tenhamos sabedoria e resiliência para navegar os ciclos e aproveitar os ventos a nosso favor. Feliz ano novo a todos!
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